Coral-sol: Um risco para a biodiversidade
Quando nos referimos ao coral-sol, estamos falando de duas espécies, a Tubastraea coccinea e Tubastraea tagusensis. Ambas são encontradas no litoral brasileiro, mas nativas do Oceano Pacífico. Os primeiros registros dessa espécie mostram que começaram após chegarem ao Mar do Caribe e ao Golfo do México na década de 40, foram trazidos acidentalmente para o Brasil nos cascos dos navios ou nas plataformas de petróleo durante os anos 80.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, atualmente há registros de sua presença em quase toda a costa brasileira – desde Santa Catarina até Sergipe – em costões rochosos ou estruturas artificiais como píeres, plataformas de petróleo e boias.
Espécies invasoras como o coral-sol, são qualquer ser vivo encontrado fora de sua área de distribuição natural e que ameaçam a biodiversidade ou ecossistema natural de uma determinada região da qual não é nativo. Também podem causar danos econômicos ou à saúde, além da possibilidade de provocarem impactos socioculturais. Tanto o T. coccinea quanto o T. tagusensis possuem várias outras características de espécies invasoras, como crescimento e reprodução acelerados e a fácil dispersão, não tendo predadores suficientes para contê-los.
No pico da época de reprodução, uma colônia adulta de coral-sol pode produzir mais de mil larvas por dia. Em boas condições – como a do litoral na região Sudeste – pode se espalhar a ponto de dominar todo um ambiente, substituindo as espécies nativas e alterando toda a ecologia marinha.
Fatores que geralmente limitam a existência de outros organismos no ambiente marinho, como luz, pH, salinidade e oxigênio dissolvido, parecem não os afetar, já que são altamente resistentes a alterações do ambiente.
Além de não possuirem predadores em águas brasileiras, as duas espécies de coral-sol possuem defesas químicas através da produção de substâncias com propriedades anti-incrustantes e antipredação e da capacidade de liberar substâncias que causam necrose em outras espécies de corais. Também podem se regenerarem a partir de pequenos fragmentos residuais.
Em Alcatrazes, a 35 km ao Sul de São Sebastião, litoral norte de São Paulo, os corais-sol representam um grande risco para a fauna nativa. Detectados já em estágio avançado em 2011, vêm sendo monitorados e removidos para que não se tornem uma praga ainda maior, embora a erradicação completa seja considerada impossível de se atingir.
O único jeito de controlar a disseminação é removendo-o manualmente do ambiente, colônia por colônia, com o uso de talhadeira e martelo. Milhares de colônias e toneladas de coral-sol já foram removidas por diversas instituições não governamentais em centenas de operações, e com isso foi possível reduzir em mais de 2 bilhões o número de larvas de coral-sol que poderiam ter sido espalhadas.
Em ilhas próximas a Alcatrazes onde o manejo ainda não é realizado, o nível de infestação é ainda maior. A Ilha de Búzios e o Parque Estadual da Laje de Santos é uma das mais afetadas. Lá, o coral-sol já causou danos significativos, com vários de seus costões cobertos quase que completamente desse único coral.
A probabilidade de sucesso na erradicação do bioinvasor diminui com a dificuldade de acesso – quanto maior a profundidade em que uma espécie é encontrada, menor é a probabilidade de controlá-la. Além disso, o coral-sol não precisa de muita luz para sobreviver; portanto, tem o hábito de crescer em fendas, lugares escuros e de difícil acesso, outro fator limitante para o manejo, impedindo o acesso manual e até visual.
No Brasil são transportados por via marítima cerca de 95% de todo o comércio exterior. Da mesma maneira, o transporte marítimo apresentou crescimento de 130% nos últimos trinta anos e, atualmente, representa 80% do comércio global.
Estes altos fluxos de embarcações entre os portos aumentam consideravelmente os riscos de introdução de espécies exóticas invasoras como o coral-sol.
Várias ações que vem sendo tomadas por diferentes setores da sociedade no Brasil e no mundo para combater, prevenir e controlar a proliferação do coral-sol, porém a maioria dos métodos aplicados atualmente que são viáveis, tem eficiência limitada.
Evidentemente, uma solução definitiva não é simples: como grande parte do comércio mundial depende do transporte marítimo, é ainda mais preocupante o fato de não haver estimativas de um prazo para que espécies invasoras deixem de ser introduzidas fora de seus locais de origem.
Um ambiente saudável requer biodiversidade de espécies e habitats. Os recifes de corais nativos servem de abrigo para muitas espécies de crustáceos, algas e peixes que vivem na costa brasileira. Do mesmo modo, em cada região, animais e ambiente se adaptam mutuamente, garantindo o equilíbrio do ecossistema. O controle da espécie invasora é importante, não apenas para garantir a conservação dos corais nativos, mas também de toda a vida marinha — assim como manter as atividades econômicas associadas aos ambientes costeiros.
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O controle da invasão do coral-sol no Brasil não é uma causa perdida.
Plano nacional de prevenção, controle e monitoramento no Brasil - MMA, Ibama e ICMBio 2020
Marinha Mil-Relatório-Coral-sol