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Conheça os três tamanduás do Brasil

Os tamanduás surgiram há cerca de 55 milhões de anos, entre o Paleoceno e o Eoceno — quando se separaram das preguiças. Dos tamanduás atualmente existentes, os mais antigos são os tamanduaís, que surgiram há 30 milhões de anos — durante o Oligoceno. Somente 20 milhões de anos depois (no Mioceno tardio), surgiram o tamanduá-bandeira e o tamanduá-mirim.1

Apesar de até certo ponto os tamanduás-bandeiras, mirins e tamanduaís serem visualmente semelhantes, sua longa trajetória evolutiva fez com que tenham comportamentos e adaptações físicas muito diferentes.

Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla)

Tamanduá-bandeira

Tamanduá-bandeira

O tamanduá-bandeira faz parte da família dos mirmecofagídeos (Myrmecophagidae) junto ao tamanduá-mirim. É o único representante vivente de seu gênero (Myrmecophaga), mas os estudiosos sugerem que há três subespécies: a subespécie M. t. centralis é encontrada desde a América Central até o norte dos Andes; a M. t. artata no norte da Colômbia e noroeste da Venezuela, já no resto da América do Sul e Brasil encontramos a subespécie M. t. tridactyla.2

O tamanduá-bandeira sempre nos chama a atenção por sua aparência peculiar. Apesar suas grandes garras poderem perfurar a carne, são usadas principalmente para destruir os duros cupinzeiros e formigueiros. Devido ao longo comprimento dessas garras, o tamanduá-bandeira costuma andar sobre os nós dos dedos, ou seja, apoia-se nos três dedos do meio para caminhar (postura nodopedálica) — como os gorilas e chimpanzés.3 As patas traseiras, no entanto, têm garras curtas, e o animal pode andar com toda a pata no chão, como os primatas e roedores — locomoção típica de animais plantígrados.4

Seu focinho de até 30 cm e sua língua pegajosa de até 60 cm 5 permitem que alcance e capture os insetos nas partes mais profundas das colônias. Durante a alimentação, a língua do tamanduá-bandeira pode se estender e contrair até 160 vezes por minuto, permitindo-o consumir até 30 mil insetos por dia.6 Além disso, pode atingir mais de 2 m de comprimento e pesar até 50 kg se alimentando quase exclusivamente de cupins e formigas.

Apesar de ter baixa visão e audição, tal deficiência é compensada pelo seu olfato 40 vezes melhor do que o dos humanos. É através do olfato que encontra as espécies específicas de cupins e formigas dos quais se alimentam6 — como as formigas-lava-pés.

Tamanduá-bandeira

Tamanduá-bandeira. Imagem de Evelyn via Pixabay

O tamanduá-bandeira prefere procurar comida em áreas abertas, mas pode utilizar as florestas e áreas mais úmidas para descansar e ajustar a temperatura de seu corpo. Sua pelagem densa atua como uma barreira térmica, conservando o calor corporal durante as horas frias e evitando o superaquecimento durante as horas mais quentes do dia.7

Costuma ser mais ativo no início da noite, quando a temperatura já não é tão alta, mas em dias frios costuma despertar mais cedo e ser totalmente diurno.7 No entanto, em ambientes afeados pelo homem pode ser noturno por se sentir mais seguro.4

Conservação e Ameaças

O estado de conservação do tamanduá-bandeira varia em cada estado e país. Inclusive, foi declarado extinto em alguns países como o Uruguai e Paraguai já na América Central corre grande risco de extinção. Na Argentina, é considerado como “em perigo” e sua ocorrência está cada vez mais limitada ao norte — tendo se extinguido do sul.8 4

No Brasil, é classificado como “vulnerável” pelo ICMBio. Apesar de sua distribuição abranger todos os biomas, sua situação varia regionalmente: no Paraná e no Rio Grande do Sul, é considerado “criticamente em perigo”; no Espírito Santo, Rio de Janeiro e Santa Catarina está provavelmente extinto; em São Paulo, “em perigo” e no Pará é considerado “vulnerável”. 9 10

Ainda assim, não há estimativas do número de indivíduos existentes.4 As principais ameaças à espécie são a caça, a destruição do habitat, incêndios florestais e atropelamentos.11 Apesar do risco em vários graus de extinção, ainda pode ser encontrado em inúmeras unidades de conservação, onde muitas vezes é abundante.

Tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla)

Tamanduá-mirim

Tamanduá-mirim. Imagem de Marcelo Amantino via Pexels

O tamanduá-mirim faz parte da mesma família que o tamanduá-bandeira (Myrmecophagidae). Há duas espécies: o tamanduá-mexicano (Tamandua mexicana) encontrado desde o México até o Equador, e o tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla) — encontrado em todo o Brasil e grande parte dos outros países da América do Sul.

São reconhecidas quatro subespécies de tamanduás-mirins:

Diferentemente do tamanduá-bandeira, o tamanduá-mirim é principalmente arborícola e pode ter até 1 metro de comprimento contando com a cauda. É reconhecido pelo padrão de sua pelagem que faz com que pareça que usam um “colete”. No entanto, nem todas as subespécies possuem essa característica.

Este “colete” preto está presente apenas em espécimes que vivem mais ao sul e sudeste de sua área de distribuição. As demais subespécies são muitas vezes totalmente amarelas, marrons ou pretas, ou têm a coloração de seus coletes mais fraca.12

Tamanduá-mirim

Tamanduá-mirim. Imagem de Simon Marlow via Pixabay

O tamanduá-mirim possui quatro dedos nas patas da frente, sendo a garra do terceiro dedo a maior de todas. Diferentemente do tamanduá-bandeira que caminha sobre os nós dos dedos, o tamanduá-mirim caminha com o peso apoiado sobre os pulsos, que possuem uma cobertura de pele bem grossa. Devido a isso, andam de maneira desajeitada no chão e são incapazes de correr.

O crânio é alongado, com até 16 centímetros de comprimento, também não têm dentes e tem uma língua de até 40 centímetros de comprimento. Possui uma cauda preênsil e sem pelos na parte inferior.

Assim como o tamanduá-bandeira, o tamanduá-mirim possui visão e audição precárias, porém um olfato muito desenvolvido. Também são animais solitários e diurnos, mas que podem ter hábitos noturnos em regiões afetadas pelo homem.13

Conservação e Ameaças

O tamanduá-mirim está listado como “pouco preocupante” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Tem uma grande distribuição geográfica e é relativamente comum nos lugares que habita — apesar de já terem ocorrido extinções locais.

Apesar de a caça para alimento, a venda ilegal como animal de estimação e a predação por cães apresentarem perigo à sobrevivência das populações, a espécie parece prosperar, e não é considerada ameaçada.13

Tamanduaís (Cyclopes ssp.)

Tamanduaí

Tamanduaí ssp. Imagem de Sylvère Corre sob a licença CC-BY-SA 4.0 via flickr

O tamanduaí, não é apenas o tamanduá mais antigo, mas também o mais diferente. Primeiramente, o tamanduaí tem a maior variação de espécies havendo sete espécies, das quais cinco são encontradas no Brasil:

Sua cor amarelada varia conforme a região que habita: quanto mais ao sul de sua distribuição mais sua pelagem se torna acinzentada e sua listra mais escura. Em contraste, quanto mais ao norte viver, mais amarelada será sua pelagem, e mais fraca a listra nas costas.14 15 Devido ao seu pelo macio e sedoso também é conhecido popularmente como tamanduá-de-seda.

O tamanduaí é muito dificil de ser visto e, consequentemente, é pouco estudado. O tamanduaí é pequeno, medindo cerca de 50 cm incluindo a cauda e pesando aproximadamente 400 g. Passa o dia dormindo enrolado na copa das árvores e se torna ativo apenas durante a noite, e mesmo assim não caminha muito — raramente desce ao solo. 16

Possui quatro dedos funcionais nas patas traseiras, e seus tornozelos podem virar até 180° — ajudando-o a se agarrar às árvores. Nas patas anteriores, no entanto, o primeiro e o quarto dedo são atrofiados e praticamente invisíveis. Apenas o segundo e o terceiro são funcionais, sendo o terceiro o com a maior garra — dando a impressão de que possui apenas um dedo.17 14 Também possui uma grande cauda preênsil com cerca de 25 cm que funciona como um quinto membro.

Tamanduaí

Tamanduaí em posição de defesa. Imagem de Mangochutn3y sob a licença CC-BY-nc 4.0 via iNaturalist

Em vez de escavar colônias, o tamanduaí usa suas garras para arrancar lascas de madeira e capturar formigas que vivem no interior dos troncos, consumindo em média de três a oito mil destes insetos em uma única noite — raramente se alimentando de cupins.16 Assim como outros tamanduás, os tamanduaís nunca comem todos os insetos de uma colônia, em vez disso, se alimentam de uma pequena porcentagem e partem para a próxima, conservando sua fonte de alimento para quando voltarem.

Apesar de parecer uma grande quantidade de formigas, o tamanduaí mal consegue energia suficiente para passar o dia.16 Enquanto descansa, entra em estado de torpor baixando a temperatura corporal e a taxa metabólica ao ponto de parecer estar em coma. Por mais radical que seja, essa é uma medida necessária para conseguir energia suficiente para passar o próximo dia.16

Além de todas essas características incomuns, o tamanduaí também tem uma técnica de defesa um pouco diferente da de seus primos. Enquanto o tamanduá-bandeira e o tamanduá-mirim abrem os braços lateralmente e rapidamente agarram com suas garras qualquer coisa que vier em sua direção, o tamanduaí se agarra fortemente ao galho mais próximo com sua cauda e ergue as patas dianteiras juntas a cabeça, se posicionando com um pequeno e felpudo lutador de boxe.14

Conservação e Ameaças

O tráfico como animal doméstico é comum na região amazônica e uma das principais ameaças identificadas. Também estão ameaçados devido à redução e fragmentação de seu habitat e a incêndios florestais.


Leia mais em:


  1. Delsuc, F., Vizcaíno, S.F. & Douzery, E.J. Influence of Tertiary paleoenvironmental changes on the diversification of South American mammals: a relaxed molecular clock study within xenarthrans. BMC Evol Biol 4, 11 (2004). https://doi.org/10.1186/1471-2148-4-11  ↩︎

  2. Carrillo, Juan D. & Sibira, Luis & Barros, Tito. (2022). Cranial anatomy of the giant anteater from northwestern Venezuela (Myrmecophaga tridactyla artata, Pilosa: Myrmecophagidae). Anartia. 34. 9-17. 10.5281/zenodo.7131289  ↩︎

  3. Orr, C.M. (2005), Knuckle-walking anteater: A convergence test of adaptation for purported knuckle-walking features of african Hominidae. Am. J. Phys. Anthropol., 128: 639-658. https://doi.org/10.1002/ajpa.20192  ↩︎

  4. Smith P - Myrmecophaga tridactyla - FAUNA Paraguay Handbook of the Mammals of Paraguay  ↩︎

  5. Ecologia e Comportamento de Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga Tridactyla Linnaeus, 1758) no Município de Jaguariaíva, Paraná.  ↩︎

  6. Instituto Jurumi - 5 curiosidades sobre o tamanduá-bandeira  ↩︎

  7. Mourão, G. and Medri, Í.M. (2007), Activity of a specialized insectivorous mammal (Myrmecophaga tridactyla) in the Pantanal of Brazil. Journal of Zoology, 271: 187-192. https://doi.org/10.1111/j.1469-7998.2006.00198.x  ↩︎

  8. Contribución al Conocimiento de la Distribución del Oso Hormiguero Gigante (Myrmecophaga tridactyla) en Argentina  ↩︎

  9. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção Volume II – Mamíferos  ↩︎

  10. Lista dos mamíferos do Estado de Santa Catarina, Sul Do Brasil  ↩︎

  11. Adriano G Chiarello, Effects of fragmentation of the Atlantic forest on mammal communities in south-eastern Brazil, Biological Conservation, Volume 89, Issue 1, 1999, Pages 71-82, ISSN 0006-3207, https://doi.org/10.1016/S0006-3207(98)00130-X.  ↩︎

  12. Mammal Species of the World: A Taxonomic and Geographic Reference, Volume 1  ↩︎

  13. Hayssen, V.. (2011). Tamandua tetradactyla (Pilosa: Myrmecophagidae). Mammalian Species. 43. 64-74. 10.1644/875.1  ↩︎

  14. Virginia Hayssen, Flávia Miranda, Bret Pasch, Cyclopes didactylus (Pilosa: Cyclopedidae), Mammalian Species, Volume 44, Issue 895, 26 September 2012, Pages 51–58, https://doi.org/10.1644/895.1  ↩︎

  15. Miranda, Flávia & Casali, Daniel & Perini, Fernando & Machado, Fabio & Santos, Fabricio. (2018). Taxonomic review of the genus Cyclopes Gray, 1821 (Xenarthra: Pilosa), with the revalidation and description of new species. Zoological Journal of the Linnean Society. 183. 687-721. 10.1093/zoolinnean/zlx079  ↩︎

  16. The Online Guide to the Animals of Trinidad and Tobago  ↩︎

  17. Morpho Source - Full Body Mesh Cyclopes didactylus  ↩︎

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