Os saguis do gênero Callithrix
Os saguis do gênero Callithrix, também conhecidos como massaus, sauís, soins e derivados, são um grupo de primatas pertencentes a mesma família dos micos. São pequenos macacos com um corpo com cerca de 25 cm e uma longa cauda que é usada como contrapeso.
Todas as espécies de saguis do gênero Callithrix são onívoras, alimentando-se de frutas, flores, exsudados (goma e seiva de árvores), pequenos vertebrados e invertebrados. Porém, o sagui-de-tufos-pretos e o sagui-de-tufos-brancos se alimentam de exsudados com muito mais frequência do que as outras espécies1.
São animais endêmicos e habitam o leste e o centro-oeste do Brasil — sendo encontrados na Caatinga, na Mata Atlântica e em parte do Cerrado2 3. As espécies mais comuns podem ser encontradas até mesmo em áreas verdes de grandes centros urbanos como parques e praças4.
Existem seis espécies, todas com comportamentos e características muito semelhantes. Cada espécie habita uma região diferente do país, porém, enquanto algumas têm se espalhado pelos estados, outras perdem espaço e estão cada vez mais ameaçadas. Veja a seguir quais são:
Sagui-de-tufos-brancos (C. jacchus): É originária do nordeste brasileiro, porém, foi introduzida intencionalmente ou não em diversas localidades. Atualmente a espécie é encontrada até o Paraná, mas suas maiores concentrações fora da Caatinga encontram-se no rio de Janeiro e em São Paulo.
São fáceis de identificar por seus grandes tufos de pelos brancos que saem das orelhas, tem o corpo rajado de preto e cinza, com manchas castanhas5.
Sagui-de-tufos-pretos (C. penicillata): Habita naturalmente o Cerrado, porém, a espécie foi introduzida em outras localidades e é atualmente encontrada em grande parte da Mata Atlântica — principalmente no Rio de Janeiro e São Paulo. É facilmente reconhecida por ter tufos pretos em suas orelhas.
Sagui-de-wied (C. kuhlii): É uma espécie vulnerável a extinção e endêmica da Mata Atlântica, ocorre no nordeste de Minas Gerais e principalmente no sul da Bahia — na Reserva Biológica de Una. Pode ser confundido com os saguis-de-tufos-pretos, mas seus tufos são menos densos; sua testa e bochechas são mais claras; a região das pernas e barriga são avermelhadas e as patas são mais escuras6.
Sagui-de-cara-branca (C.geoffroyi): O sagui-de-cara-branca ocorre no sul da Bahia, leste de Minas Gerais e no Espírito Santo. Embora não seja uma espécie de ampla distribuição, até o momento não há preocupação quanto a sua extinção. Sua principal característica é sua cabeça branca que o torna inconfundível.
Sagui-da-serra (C. flaviceps): Também conhecido como sagui-da-serra-claro ou sagui-taquara é uma espécie endêmica do sul do Espírito Santo e de uma pequena porção da região leste de Minas Gerais. Se distingue facilmente das outras espécies por sua pelagem mais clara e a cabeça amarelada com manchas pretas ao redor do nariz e dos olhos.
Devido a sua pequena área de distribuição encontra-se criticamente ameaçado, sendo um dos 25 primatas mais ameaçados do mundo7.
Sagui-da-serra-escuro (C. aurita): Também conhecido como sagui-caveirinha por sua característica cara branca com manchas pretas ao redor dos olhos. A pelagem é escura com tons de vermelho; tem os tufos das orelhas e o topo da cabeça amarelos. O sagui-da-serra-escuro é encontrado no Sul de Minas Gerais, no Rio de Janeiro e ao leste de São Paulo. Também é uma espécie ameaçada de extinção.
Hibridação
Cada uma destas espécies habitava diferentes regiões do país, e mesmo nas regiões limítrofes — onde diferentes espécies poderiam se encontrar, ainda viviam separados por rios, montanhas e outras barreiras geográficas, assim a mistura entre espécies era rara. No entanto, o tráfico de animais e a soltura irresponsável, fez com que algumas espécies fossem introduzidas onde não ocorriam originalmente, obrigando as espécies nativas competirem por espaço e recursos.
Devido a essa convivência, os saguis (Callithrix ssp.) passaram a se reproduzir com as espécies exóticas, gerando filhotes híbridos e férteis que podem progressivamente apagar as espécies originais, deixando-as cada vez mais próximas da extinção. Em alguns municípios de Minas Gerais, por exemplo, já não há saguis-da serra-escuros, apenas saguis híbridos são encontrados 7 8 9.
Ameaça e conservação
Além da hibridação, reduzir rapidamente os números das espécies nativas, os saguis também são alvos do tráfico e do comércio como animais de estimação. Embora sejam animais populares, se tornam difíceis de controlar à medida que envelhecem, sendo abandonados ou mortos10. Muitos deles também morrem antes mesmo de serem vendidos por não aguentarem as péssimas condições em que são escondidos e transportados de um lugar para o outro.
O desmatamento é outra grande preocupação. Estas espécies habitam áreas que sofrem grandemente com o desmatamento, para a agricultura e pecuária, fazendo com que suas populações diminuam ou desapareçam em muitas partes.
Das seis espécies descritas, quatro se encontram em algum grau de ameaça e algumas são encontradas apenas em unidades de conservação, como o sagui-da-serra-escuro e sagui-da-serra2 8. Como se o desmatamento e o tráfico não fossem suficientes, os saguis também são mortos por atropelamentos, eletrocussões11 e doenças — estima-se que as populações de saguis-da-serra tenham reduzido em 90% devido principalmente a um surto de febre-amarela em 200512.
Para que espécies ameaçadas como o sagui-da-serra e o sagui-da-serra-escuro sobrevivam é necessário a criação de áreas protegidas para conservar e aumentar as populações nativas, além de controlar as espécies invasoras e o processo de hibridação. Da mesma forma, também é necessário concentrar esforços na educação ambiental em detrimento do tráfico de animais e da proliferação de saguis invasores e híbridos.
Como forma de colaborar com a preservação das espécies ameaçadas, a captura, castração e liberação de saguis híbridos e invasores vem sendo desenvolvidas pelo Centro de Conservação dos Saguis-da-Serra (CCSS) . Assim, é possível controlar a reprodução de espécies híbridas e invasoras, criando progressivamente um local adequado para que as espécies nativas possam voltar a prosperar7 8.
Referências:
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Os saguis (Callithrix spp., erxleben, 1777) exóticos invasores na bacia do Rio São João, Rio de Janeiro: Biologia populacional e padrão de distribuição em uma Paisagem fragmentada. ↩︎
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Rylands, A.B., Coimbra-Filho, A.F., & Mittermeier, R.A. (2009). The Systematics and Distributions of the Marmosets (Callithrix, Callibella, Cebuella, and Mico) and Callimico (Callimico) (Callitrichidae, Primates).DOI:10.1007/978-1-4419-0293-1_2 ↩︎
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NICOLAEVSKY, Bertha. Distribuição geográfica e modelagem de habitat das espécies do gênero Callithrix (Primates, Callitrichidae) . 2011. 67 f. Dissertação (Mestrado em Biologia Animal) - Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Humanas e Naturais, Vitória, 2011. ↩︎
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The IUCN Red List of Threatened Species — Common Marmoset Accessed on 04 April 2023 ↩︎
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The Taxonomic Status of Wied’s Black-tufted-ear Marmoset, Callithrix kuhlii (Callitrichidae, Primates) ↩︎
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O Eco — Os ameaçados saguis-da-serra e o embate genético entre os Callithrix ↩︎
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MG.Biota — Novas ocorrências de Callithrix na Zona da Mata de Minas Gerais ↩︎
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Global Wild Life — PRIMATES IN PERIL: The world’s 25 most endangered primates 2018-2020 ↩︎
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Duarte-Quiroga, A. and Estrada, A. (2003), Primates as pets in Mexico City: An assessment of the species involved, source of origin, and general aspects of treatment. Am. J. Primatol., 61: 53-60. https://doi.org/10.1002/ajp.10108 ↩︎
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The IUCN Red List of Threatened Species — Wied’s Marmoset ↩︎
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The IUCN Red List of Threatened Species — Buffy-headed Marmoset ↩︎