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As incríveis águias brasileiras

Para a maioria das pessoas é difícil diferenciar uma águia de um gavião, e de fato, ambas aves são realmente semelhantes afinal, fazem parte da mesma família. De maneira simples, denominamos “águias” as aves grandes, fortes e imponentes; e as menores, “gaviões”. Águias costumam caçar vertebrados (geralmente mamíferos e abatê-los com suas poderosas garras, constroem ninhos volumosos no alto de grandes árvores ou penhascos e têm apenas um filhote por temporada.

Diferentes estilos de vida resultaram em variadas adaptações para certas espécies. Por exemplo, águias que vivem na floresta costumam ter envergadura (distância da ponta de uma asa à outra) relativamente menor, recurso necessário para poder manobrar rapidamente em ambientes florestais. Águias que costumam habitar campos abertos, no entanto, são conhecidas por sua capacidade de voar alto e por suas asas relativamente longas para seu tamanho.

Existem mais de 70 espécies de águias em todo o mundo — no Brasil há 9, ou seja, cerca de 12% das águias do mundo. Confira a seguir quais são.

1 - Águia-solitária (Urubitinga solitaria ou Buteogallus solitarius)

Águia-solitária, Urubitinga solitaria ou Buteogallus solitarius

Águia-solitária. Imagem de Sally Taylor CC-BY-NC via flickr

Seu primeiro registro em território nacional foi feito apenas em 2019 pelos ornitólogos Tony Bichinski e Willian Menq. É uma espécie ainda pouco estudada, principalmente no Brasil. Até o momento, foi encontrado apenas nas florestas altas de Roraima, aonde voa desde 600 até mais de 2 mil metros acima do nível do mar.

Pesa cerca de 3 kg, e o maior indivíduo de que se tem registro possui 1,88 cm de envergadura. Suas penas são cinzas com uma faixa branca na cauda. Pode ser facilmente confundida com o gavião-preto e o gavião-caranguejeiro-negro, mas a águia-solitária é maior e suas asas são mais largas.

A águia-solitária é rara em toda a sua área de distribuição — que vai desde o México até o Norte da Argentina. Estima-se que exista entre 1000 a 2.500 animais adultos — o que a classifica como Quase Ameaçada; mas em alguns países como Venezuela e Colômbia, encontra-se em Perigo Crítico.

2 - Águia-serrana (Geranoaetus melanoleucus)

Águia-serrana, gavião-da-serra, Geranoaetus melanoleucus

Águia-serrana. Imagem de Alceu Ferraz Costa CC-BY-SA via flickr

Também é conhecida como gavião-da-serra. Seu pescoço e cabeça são cinza-escuros, suas asas possuem vários tons de cinza e o peito e barriga são brancos. Possui envergadura de até 2 m e pesa entre 1,5 kg e 3 kg.

É uma das poucas águias brasileiras com subespécies e dentre as duas existentes, apenas uma – a G. m. melanoleucus habita o Sudeste do Brasil, além do Paraguai, Uruguai e Nordeste da Argentina.

Está entre as mais abundantes e mais adaptáveis águias do país, sendo às vezes vista até mesmo em áreas urbanas. Apesar disso, em algumas regiões como o Sul, seus avistamentos têm sido cada vez mais raros. Habita regiões montanhosas e campestres de todo o Brasil, não sendo encontrada apenas na Floresta Amazônica.

3 - Harpia ou gavião-real (Harpia harpyja)

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Harpia. Imagem de Cuatrok77 CC-BY-SA via flickr

Conhecida também como uiraçu, uiraçu-verdadeiro, gavião-rei, entre outros. É uma das águias mais conhecidas do Brasil, principalmente pelo seu tamanho e imponência. É a segunda maior águia do mundo, com as fêmeas chegando aos 9 kg e 2 m de envergadura. Suas garras, no entanto, são as maiores dentre todas as águias, com mais de 9 cm, sendo maiores que a de um urso pardo. Com garras tão potentes, a harpia é também a águia mais forte do mundo, podendo capturar presas com peso equivalente ao seu.

Algumas aves como o uiraçu-falso ou a águia-cinzenta podem ser confundidas com a harpia; no entanto, a harpia é muito maior. Possui o dorso escuro, cabeça cinza, um colar negro na região do pescoço, o ventre branco e as pernas brancas listradas de preto, além de várias penas em seu penacho. Como as corujas , as harpias possuem um disco de penas menores ao redor da cara que ajudam a direcionar sons melhorando a audição.

É uma espécie-chave que indica a saúde de um ambiente. Por estar no topo da cadeia alimentar, sua presença indica que todas as outras espécies naquele ecossistema estão em equilíbrio. Originalmente, a harpia estava presente em todo o Brasil, exceto algumas regiões do Nordeste. Mas, atualmente, encontra-se vulnerável à extinção, havendo ocorrências apenas na Floresta Amazônica e em algumas regiões da Mata Atlântica onde ainda há florestas adequadas para sua sobrevivência.

4 - Uiraçu (Morphnus guianensis)

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Uiraçu-falso. Imagem de Rosabel Miro CC-BY-NC via iNaturalist

Também conhecido como gavião-real-falso, uiraçu-falso, entre outros.

O penacho e sua cabeça torna-o relativamente semelhante à harpia. Os uiraçus, no entanto, são bem menores, pesando pouco mais de 1 kg, com envergadura de até 1,60 m. Possuem apenas uma grande pena na cabeça, uma máscara preta ao redor dos olhos, seu peito é costumeiramente branco rajado com bege porém em indivíduos melânicos é preto rajado com branco. Estudos afirmam que o uiraçu-falso e a harpia são geneticamente semelhantes e que não há justificativa para serem mantidos como gêneros distintos.

O uiraçu existia em grande parte do Brasil, porém, com a diminuição das florestas (particularmente no leste do Brasil), seus números têm sido consideravelmente reduzidos. Atualmente, é encontrado principalmente na Floresta Amazônica, e apenas alguns poucos indivíduos podem ser encontrados na Mata Atlântica. Foi redescoberta no Sul da Bahia em 2015 — o único registro anterior do animal no local foi em 1817.

Segundo a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN é classificada como “quase ameaçada”, mas essa classificação pode variar conforme o estado. No Rio de Janeiro, por exemplo, a espécie é considerada regionalmente extinta.

5 - Águia-cinzenta (Buteogallus coronatus ou Urubitinga coronata)

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Águia-cinzenta. Imagem de Calidri Esperanza CC-BY-NC via iNaturalist

Seu nome se deve à coloração totalmente cinza-acobreada dos indivíduos adultos. Também é conhecida como águia-coroada, águia-tatuzeira, entre outros. Apesar de à primeira vista parecer uma harpia, principalmente pela sua cor e penachos, não faz parte desse grupo. Nos últimos 10 anos, foi classificada como Harpyhaliaetus (o mesmo grupo que as harpias), em seguida como Urubitinga (gênero aceito no Brasil) e como Buteogallus (usado no exterior).

Costumam pesar no máximo 3,5 kg e ter uma envergadura de 1,8 m.

A águia-cinzenta costuma habitar o Cerrado e a Mata Atlântica, principalmente no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, sempre próxima a campos e savanas. Estima-se que em toda a América do Sul exista menos de 1000 indivíduos, tornando-a uma das aves de rapina mais raras da América Central e do Sul.

6 - Águia-pesqueira ou águia-pescadora (Pandion haliaetus)

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Águia-pescadora. Imagem de Scott Spaeth CC-BY-SA via flickr

Seu nome se deve ao seu principal alimento que são os peixes , e à sua incrível técnica de pesca: momentos antes da captura, projeta suas asas para trás e suas garras para frente, mergulhando como uma lança. As fêmeas podem alcançar os 2 kg e ter 1,75 m de envergadura.

Seu físico a distingue de qualquer outra águia brasileira. Tem uma cabeça pequena e suas asas são mais finas ficando geralmente levemente dobradas durante o voo, formando um “V”. Uma das características mais peculiares dessa águia, são os pequenos espinhos em seus pés que evitam que a presa fuja. Seu dorso e asas são marrom-escuro e a cabeça, peito e pescoço são brancos com algumas pintas marrons nos indivíduos jovens. Sua cauda é listrada e possui uma notável listra marrom desde a parte de trás dos olhos até a nuca.

Nativa do hemisfério Norte, a águia-pescadora é a única águia presente no país que possui hábitos migratórios. Existem cerca de três subespécies, mas apenas a P. h. carolinensis é encontrada no Brasil. Pode ser avistada durante todo o ano na América do Sul, porém são mais frequentes durante os meses de outubro a abril (quando imigram em busca de temperaturas mais elevadas), sendo avistada voando às margens de rios, lagos e costas.

Essas águias voam por cerca de 25 dias, percorrendo por volta de 200 km por dia em 8h de voo, parando apenas para se alimentar e descansar. As águias que migram para fora as Américas, no entanto, podem voar por até mesmo 40 h, consecutivas.

7 - Gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus)

Gavião de penacho

Gavião-de-penacho. Imagem de Amblycheila CC-BY-NC via iNaturalist

Apesar do nome, o gavião-de-penacho é uma águia. Suas asas e costas têm cores que variam entre o marrom-escuro e o preto, sua barriga e pernas são brancas, listradas de preto, assim como sua cauda e o interior de suas asas. A garganta é branca, contornada por uma faixa preta de cada lado que segue desde as laterais do bico até o peito. A laterais da cara e a nuca são castanhas e o topo da cabeça, onde fica seu penacho, é preto.

Assim como na maioria das espécies de águias, as fêmeas são maiores que os machos, podendo chegar a 1,5 kg e 1,40 m de envergadura.

Os gaviões-de-penacho são águias florestais encontradas principalmente na Mata Atlântica e na Floresta Amazônica, mas também podem habitar o Cerrado. São conhecidas duas subespécies, mas apenas a S. o. ornatus está presente no Brasil.

Seu estado de conservação varia conforme a localidade. Na Floresta Amazônica, a espécie encontra-se quase ameaçada. Já na Mata Atlântica e no Cerrado encontra-se em perigo crítico.

8 - Gavião-pega-macaco (Spizaetus tyrannus)

gavião pega macaco

Gavião-pega-macaco. Imagem de Dave Wendelken CC-BY-NC via iNaturalist

É uma águia do mesmo gênero que o gavião-de-penacho. Seu nome vem de seu hábito de caçar macacos, principalmente saguis. Pesa pouco mais de 1 kg. Possui a plumagem preta-amarronzada, com a cauda, as pernas e a parte interior das asas listradas de cinza. Também possui um penacho preto com a base das penas brancas, mas difere das outras águias por ser menor e mais volumoso, assemelhando-se mais a uma coroa.

Existem duas subespécies, a S. t. tyrannus, com ocorrências no Sul e Sudeste, e a S. t. serus, que é um pouco menor e habita apenas no Norte do Brasil.

É uma águia relativamente abundante, que tolera certos níveis de desmatamento. Assim como o gavião-de-penacho, é uma águia florestal, e habita a Floresta Amazônica, o Cerrado e a Mata Atlântica – neste último bioma, é avistada com mais frequência.

9 - Gavião-pato (Spizaetus melanoleucus)

Gavião pato

Gavião-pato. Imagem de Leonardo Mercon CC-BY-NC via iNaturalist

Assim como o gavião-de-penacho e o gavião-pega-macaco, é uma águia que pertence ao gênero Spizaetus. Habita borda de florestas, regiões arbustivas ou de cerrado. É a menor águia do Brasil, com cerca de 850 g e uma envergadura de aproximadamente 1,15 cm. Também conhecido como gavião-preto-e-branco, possui as costas e as asas pretas, assim como seu topete. Possui uma pequena máscara ao redor dos olhos e a ponta do bico preta. Já a cabeça, peito, barriga e pernas são brancas. Apenas a parte interna de suas penas de voo e sua cauda são listradas.

Das três águias do gênero Spizaetus, o gavião-pato é o considerado mais difícil de ser avistado. Ocorre em todo o Brasil, com exceção da Caatinga e dos Pampas. Na Mata Atlântica, no entanto, encontra-se ameaçado de extinção.


A maioria das águias do Brasil encontram-se em algum grau de ameaça, principalmente pelo desmatamento. Essas aves precisam de grandes territórios inalterados para poder sobrevoar e caçar suas presas. Mas, com a degradação do ambiente para mineração, construção de hidrelétricas ou madeireiras, seu território torna-se cada vez mais reduzido.

Além disso, a caça ilegal também é um agravante. Muitas águias são mortas por fazendeiros por curiosidade ou por medo que capturem seus animais. Há quem acredite inclusive, que águias grandes como a harpia podem capturar até mesmo crianças — o que é falso.

Ao longo dos anos, vários projetos têm sido criados em toda a América do Sul — como programas de conscientização, conservação e monitoração de várias espécies — com o intuito de ajudá-las a prosperar. Esperamos que em alguns anos, esses esforços gerem frutos proporcionando a esses animais incríveis, ambientes adequados para sua sobrevivência.

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Aves de Rapina Brasil

Primeiro registro de águia-solitária, Urubitinga solitaria (Accipitriformes: Accipitridae) no Brasil

Rediscovery of the Crested Eagle Morphnus guianensis (Daudin, 1800) in the fragmented Atlantic Forest of Bahia, Brazil

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