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As simpáticas pererecas-macaco

As pererecas-macaco são provavelmente os anuros mais carismáticos e mais conhecidos pelas pessoas em geral. São conhecidas também como filomedusas, onde filo, vem do grego “phyllo” (folha ou folhagem) e medusa de “medousa” (rainha ou protetora), portanto significa “rainha da folhagem” ou “guardiã da folhagem”.

Taxonomia e descobertas

Até recentemente, as pererecas-macaco eram parte de outra família — a dos hilídeos. Porém, após observações em diferenças morfológicas e comportamentais, criou-se em 2016 sua própria família — a Phyllomedusidae.

As pererecas-macaco podem ser muito semelhantes entre si, tanto fisicamente quanto geneticamente. Portanto, durante a última década, cientistas e estudiosos têm retificado o gênero de várias espécies que foram inicialmente classificadas incorretamente, e muitas ainda precisam de mais estudos para que sejam corretamente nomeadas.

Além das análises feitas nas espécies já conhecidas, desde os anos 2000 foram descobertas cerca de 11 espécies.1 Isso significa que novas classificações também são feitas todos os anos – aumentando o número de espécies a serem estudadas.

Distribuição

Phyllomedusa bahiana

Phyllomedusa bahiana. Imagem de Renato Augusto Martins sob a licença CC-BY-SA 4.0 via Wikimedia Commons

As pererecas-macaco estão presentes na América Central e do Sul. No Brasil são encontradas por todo o país cerca de 42 espécies em 6 gêneros1. Segundo a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN, as do gênero Phasmahyla e Phrynomedusa são encontrados apenas na Mata Atlântica. As pererecas do gênero Callimedusa e Cruziohyla habitam a Floresta Amazônica. Já as Hylomantis são encontradas na Caatinga e na Mata Atlântica.

As do gênero Phyllomedusa são as mais diversas, tanto em número de espécies quanto em habitats, podendo ser encontradas em todos os biomas. O gênero Pithecopus também é encontrado em todo o Brasil, com exceção dos Pampas — onde apenas a espécie Phyllomedusa iheringii é encontrada.

Características gerais

As pererecas-macaco podem medir até 12 cm (Phyllomedusa bicolor), as fêmeas sempre são um pouco maiores do que os machos. A maioria é arborícola, mas algumas podem ser encontradas em campos ou áreas rochosas, sempre próximas a um corpo d’água, seja um rio com baixo fluxo ou uma poça temporária.

Estas pererecas possuem algumas características que as distinguem dos outros anuros. Uma delas é o hábito de não botar seus ovos na água, e sim, em folhas que enrolam acima da superfície, quando os girinos nascem escorregam imediatamente para a água. Embora este método proteja os ovos de predadores aquáticos não é infalível, e alguns acabam sendo parasitados2 ou comidos por outros animais.

Corydoras melanotaenia

Imagem de Renato Augusto Martins sob a licença CC-BY-SA 4.0 via Wikimedia Commons

Também se diferenciam por terem pupilas verticais, por caminharem — e não apenas pularem como outros anuros e por sua típica coloração verde na parte superior do corpo e colorida na parte inferior. Para se camuflarem, várias espécies como a Pithecopus nordestinus (descoberta em 2006), Phasmahyla lisbella (descoberta em 2018)3 e Phasmahyla guttata podem inclusive mudar sua coloração desde o verde-claro ao amarronzado, conforme o local e com a claridade do ambiente.4

Já o colorido da parte inferior é chamado “coloração aposemática”, — um mecanismo de defesa muito comum em anuros, e atua como um aviso para potenciais predadores de que comê-las pode ser perigoso.4

Secreção de substâncias

Quase todos os anuros produzem algum tipo de secreção ou toxina. A secreção produzida pelas pererecas-macaco evitam a desidratação e protegem-nas de doenças e predadores causando sensações desagradáveis como regurgitação, alteração do ritmo cardíaco ou paralisia temporária.

Algumas substâncias produzidas têm sido estudadas por pesquisadores durante décadas por possuírem propriedades medicinais para prevenir infecções durante transfusões de sangue 5, no tratamento contra a leishmaniose6 e HIV. Além disso, as secreções dessas pererecas também poderão ser usadas como agentes hipotensivos, vasodilatadores, antibióticos, analgésicos e opiáceos quando forem devidamente isoladas e todos os seus riscos estudados.7

Toxicidade em humanos

Pithecopus nordestinus

Pithecopus nordestinus. Imagem de Renato Augusto Martins sob a licença CC-BY-SA 4.0 via Wikimedia Commons

Diferentemente de sapos nocivos como os sapos-ponta-de-flecha , as pererecas-macaco não trazem risco às pessoas e podem ser manipuladas. No entanto, a secreção que algumas espécies produzem, especificamente a rã-kambô (Phyllomedusa bicolor) — encontrada na Floresta Amazônica, pode causar reações adversas se em contato com alguma mucosa ou ferimento.

Os efeitos da secreção em humanos foram observados em estudos com várias comunidades indígenas, onde a secreção é extraída da rã-kambô sem matá-la e inserida em pequenos pontos de queimadura — geralmente feitos no braço ou na perna da pessoa. Segundo as tradições indígenas, este ritual acaba com a má sorte na caça e na pesca, assim como remove (através do vômito) espíritos negativos que causam doenças.

A exploração midiática deste ritual, fez com que tal prática fosse buscada nos grandes centros urbanos como tratamento alternativo para quem busca força, resistência e até mesmo para a cura da depressão e do câncer. Tal método, no entanto, não possui comprovação científica, e causa uma série de reações adversas como vômito, diarreia, sudorese, alteração na pressão e taquicardia, podendo levar muitas pessoas a óbito por overdose ou por serem alérgicas à certa substância contida na secreção da perereca.

Sendo assim, devido aos seus perigos à vida humana, qualquer publicidade sobre a “vacina do sapo” é proibida pela Anvisa desde 2004.8

Ameaças e Conservação

A maioria das pererecas-macaco consta na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN como “Dados Deficientes” ou “Pouco Preocupante”. No entanto, dados precisos sobre o status de conservação são escassos, já que muitas espécies foram avaliadas pela última vez há mais de dez anos. Portanto, seu estado de conservação atual é desconhecido.

Certas espécies são endêmicas e ocorrem em locais isolados, onde o crescente desmatamento pode rapidamente levá-las a extinção. Ainda que em menor ritmo, espécies com maior distribuição também podem correr risco de extinção pelo desmatamento e queimadas.

Algumas espécies, no entanto, habitam áreas protegidas do Brasil ou de países vizinhos, possuindo ampla distribuição e sendo facilmente encontradas.

Leia mais em:


  1. Segalla, M; Berneck, B.;Canedo, C.; Caramaschi, U.; Cruz, C.A.G.; Garcia, P. C. A.; Grant, T.; Haddad, C. F. B.; Lourenço, A. C.; Mangia, S.; Mott, T.; Nascimento, L. Toledo, L. F.; Werneck, F.; Langone, J. A. (2021). List of Brazilian Amphibians. Herpetologia Brasileira, 10(1), 121–216.  ↩︎

  2. Dias, Tailise & Santos, Tiago & Maragno, Franciéle & Oliveira, Vitor & Lima, Carin & Cechin, Sonia. (2017). Breeding biology, territoriality, and reproductive site use by Phyllomedusa iheringii (Anura: Phyllomedusidae) from the South American Pampa in Brazil. Salamandra. 53. 257-266.  ↩︎

  3. Pereira EA, Rocha LCL, Folly H, da Silva HR, Santana DJ. A new species of spotted leaf frog, genus Phasmahyla (Amphibia, Phyllomedusidae) from Southeast Brazil. PeerJ. 2018 May 30;6:e4900. doi: 10.7717/peerj.4900. PMID: 29868290; PMCID: PMC5984584. ↩︎

  4. Machado, Ibere & Menegucci, Rafael & Mendes, Humberto & Moroti, Matheus. (2015). Polyphenism: Defensive colour behaviour of Phasmahyla guttata (A. Lutz, 1924) (Amphibia, Anura, Hylidae. Herpetology Notes. 8. 467-470. ↩︎

  5. Brand GD, Leite JR, Silva LP, Albuquerque S, Prates MV, Azevedo RB, Carregaro V, Silva JS, Sá VC, Brandão RA, Bloch C Jr. Dermaseptins from Phyllomedusa oreades and Phyllomedusa distincta. Anti-Trypanosoma cruzi activity without cytotoxicity to mammalian cells. J Biol Chem. 2002 Dec 20;277(51):49332-40. doi: 10.1074/jbc.M209289200. Epub 2002 Oct 11. PMID: 12379643. ↩︎

  6. Correio Braziliense - Substância da Phyllomedusa nordestina elimina o protozoário da Leishmaniose  ↩︎

  7. Nogueira TAC, Kaefer IL, Sartim MA, Pucca MB, Sachett J, Barros AL, Júnior MBA, Baía-da-Silva DC, Bernarde PS, Koolen HHF and Monteiro WM (2022). The Amazonian kambô frog Phyllomedusa bicolor (Amphibia: Phyllomedusidae): Current knowledge on biology, phylogeography, toxinology, ethnopharmacology and medical aspects. Front. Pharmacol. 13:997318. doi: 10.3389/fphar.2022.997318 ↩︎

  8. Exame - Instituto Butɑntan alerta sobre riscos da ‘vacina-do-sapo’  ↩︎

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