Sapos-ponta-de-flecha: Lindos e perigosos
Os dendrobatídeos são uma família de pequenos sapinhos de 1 a 6 cm da qual fazem parte os famosos sapos-ponta-de-flecha — um dos animais mais venenosos do mundo. Revisada pela última vez em 2006, a família já passou por várias mudanças taxonômicas e, atualmente, são considerados 16 gêneros e cerca de 200 espécies espalhadas pelas florestas úmidas das Américas Central e do Sul.
No Brasil, há 4 gêneros e cerca de 21 espécies presentes em grande parte do país — principalmente na Amazônia. Esses pequenos sapos venenosos são terrestres e (ao contrário da maioria dos sapos) diurnos. Costumam viver no chão de florestas próximos aos córregos e lagoas, mas alguns podem viver no alto das árvores, sem nunca descer.
Em muitas espécies, os pais se dedicam a criar seus girinos até estes se tornarem adultos. Em algumas, as fêmeas botam os ovos em terra e em seguida, o macho os fertiliza. Nos do gênero Ranitomeya quando os girinos nascem, são levados nas costas de seus pais para pequenas poças d’água como as acumuladas em bromélias. Lá, os girinos se alimentam de pequenos invertebrados e ovos não fertilizados que a mãe leva para complementar a dieta de seus girinos.
Aposematismo
Cores aposemáticas são as cores vivas que muitas espécies apresentam (amarelo, vermelho, azul), usadas como mecanismo de defesa contra predadores, enviando sinais de alerta sobre a toxicidade daquele animal. Os predadores, por outro lado, aprendem instintivamente ou segundo a experiência que aquele animal não deve ser comido. Os dendrobatídeos são provavelmente os vertebrados aposemáticos mais numerosos.
Na maioria das espécies, a toxicidade da pele de cada indivíduo pode variar de acordo com quão chamativa é a sua coloração. Além disso, as fêmeas selecionam os parceiros com base na coloração mais viva — assim, seus girinos terão cores ainda mais chamativas, aumentando as chances de sobrevivência.
Os sapos-boi-azul (Dendrobates tinctorius), por exemplo, possuem uma das maiores variações de cores dentro de uma mesma espécie, podendo ser desde pretos com faixas amarelas, até completamente tingidos de azul e amarelo com manchas pretas. Tamanha é a diferença, que alguns estudiosos suspeitam que, na verdade, sejam espécies diferentes.
Veneno
Os dendrobatídeos, como os sapos-ponta-de-flecha, se alimentam de cupins, ácaros, besouros, formigas e outros pequenos artrópodes . Alguns desses insetos se alimentam de plantas tóxicas; assim, a toxicidade do inseto ingerido é transmitida para as glândulas presentes na pele dos sapos. Quando um desses sapos é capturado, o predador pode sentir diversos sintomas como gosto desagradável, náuseas ou paralisia muscular. No caso de predadores pequenos, no entanto, pode ser fatal.
A espécie mais perigosa é a Phyllobates terribilis — presente apenas na Colômbia. Ela produz aproximadamente 20 vezes mais toxina do que outros dendrobatídeos. Se o sapo fosse ingerido, seu veneno seria potente o suficiente para matar de dez a vinte homens. Embora outros dendrobatídeos, em sua maioria, sejam tóxicos o suficiente para desencorajar a predação, representam um risco muito menor para os seres humanos ou animais de grande porte.
Relatos e estudos sobre envenenamento por sapos-ponta-de-flecha são muito escassos, mas em 2021, um artigo relatou dois casos de envenenamento leve após manuseio da espécie D. tinctorius sem proteção. No relato, dois fotógrafos manusearam o animal por cerca de 5 minutos e em seguida (mesmo após lavarem as mãos) sentiram leve dormência nas regiões do corpo que tiveram contato direto ou indireto com a pele do animal, onde ficam as toxinas. No caso, não foi necessário nenhum atendimento médico ou emergencial.
No entanto, a situação poderia ser completamente diferente se a toxina fosse acidentalmente engolida ou entrasse na corrente sanguínea através de alguma ferida. Portanto, recomenda-se o manuseio desses animais apenas com luvas. Algumas tribos indígenas colombianas, por exemplo, usam o veneno do P. terribilis em seus dardos, mas sempre protegem as mãos com folhas.
Conservação
Muitos dos sapos-ponta-de-flecha estão em algum grau de extinção ou são tão pouco conhecidos que não há dados suficientes sobre sua população e distribuição. Embora algumas de suas populações sejam consideradas estáveis, outras estão ameaçadas pela perda de seu habitat e pela coleta ilegal para o comércio de animais de estimação. Segundo o Instituto Chico Mendes, uma das maiores ameaças para sua conservação é o tráfico de animais para criação como “pets”, estando entre os animais mais visados do Brasil.
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