Tudo Sobre Animais

Tartarugas-marinhas: espécies, ameaças e preservação

É muito comum chamarmos quelônios, em geral, de tartarugas. Mas, na verdade, tartarugas são apenas as que vivem em água salgada – os demais são cágados que vivem na água doce e próximos a rios e lagos, e jabutis que são exclusivamente terrestres.

Diferentemente dos cágados e jabutis , as tartarugas passaram por grandes mudanças físicas para se adaptarem à vida marinha. Sua carapaça tornou-se mais achatada, leve e hidrodinâmica, e as patas transformaram-se em nadadeiras para se moverem com mais eficiência debaixo d’água. Outra importante adaptação, foi o surgimento de glândulas de sal localizadas próximo aos olhos, que as ajudam a eliminar o sal engolido.

As tartarugas habitam os mares tropicais e subtropicais de todo o mundo. A maioria das espécies é migratória, vagando pelos oceanos durante toda a sua vida e voltanto às mesmas praias nasceram apenas durante o período de nidificação, orientando-se com a ajuda do campo magnético terrestre. Cada espécie possui distintos hábitos alimentares, comportamentais e consequentemente, habitam locais diversos em diferentes fases da vida.

Cinco das sete espécies de tartarugas podem ser encontradas nas águas costeiras do Brasil.

Tartaruga-comum Caretta caretta

Tartaruga-comum entre as rochas no leito marinho. É possível ver sua garra na nadadeira direita.

Tartaruga-comum. Seu casco ainda possui protuberâncias pontiagudas, uma característica de tartarugas jovens. Conforme a idade, as protuberâncias vão desaparecendo. Imagem de Brian Gratwicke via flickr

Também é conhecida como tartaruga-cabeçuda e tartaruga-mestiça. As tartarugas adultas medem em média 70 a 90 cm de comprimento e têm um peso médio de 80 a 200 kg, mas exemplares de 213 cm e até 545 kg já foram registrados, sendo uma das espécies de tartarugas mais pesadas.

Em comparação com as outras espécies, a tartaruga-comum tem uma cabeça relativamente grande. É carnívora nas primeiras fases de vida, alimentando-se principalmente de organismos gelatinosos como salpas e pirosomas. Quando adultas, vão para ambientes mais próximas à costa e passam a se alimentar de crustáceos.

Tartaruga-de-pente Eretmochelys imbricata

Tartaruga de pente nadando para a esquerda. Nota-se a garra na nadadeira esquerda e a borda posterior de seu casco serrilhada.

Tartaruga-de-pente. Imagem de U.S. Fish and Wildlife Service Southeast Region via flickr

A tartaruga-de-pente costuma habitar recifes de coral e águas costeiras rasas, mas pode ser ocasionalmente encontrada em águas profundas. As adultas geralmente atingem entre 60 e 100 cm de comprimento e pesam entre 73 e 100 kg. Porém, a mais pesada já encontrada tinha 167 kg.

A tartaruga-de-pente apresenta algumas características que a diferencia das outras espécies: sua cabeça é mais alongada e cônica, termina em uma boca com forma de bico (mais protuberante que as outras espécies) que permite buscar o alimento nas fendas dos recifes de corais. O casco ou carapaça da tartaruga-de-pente possui bordas serrilhadas na parte posterior.

Embora sejam onívoras, mais de 70% de sua alimentação consiste em esponjas-do-mar, mas também se alimentam de outros invertebrados como medusas, anêmonas, lulas e camarões.

Tartaruga-verde Chelonia mydas

Tartaruga-verde no leito oceânico se alimentando de erva-marinha.

Tartaruga-verde. Imagem de Paul Asman and Jill Lenoble via flickr

Costuma habitar águas costeiras, ilhas ou baías onde estão protegidas, sendo raramente avistadas em alto-mar. Ao contrário da tartaruga-de-pente ou da tartaruga comum, a tartaruga-verde é principalmente herbívora, alimentando-se principalmente de ervas marinhas.

As adultas crescem até 1,5 m de comprimento, e o peso médio dos adultos fica entre 68 e 190 kg. Algumas excepcionalmente grandes já foram encontradas – sendo que a maior pesava 395 kg e media 153 cm.

O nome tartaruga-verde deve-se à coloração esverdeada da sua gordura corporal e não de sua carapaça – pois esta tem vários padrões de cores que mudam com o tempo. Os filhotes, assim como os de outras tartarugas marinhas, têm carapaças pretas e plastrões claros. As carapaças dos juvenis tornam-se castanhas-escuras ou verde-oliva e as dos adultos são inteiramente castanhas, manchadas ou marmorizadas com raios.

A alimentação desta tartaruga muda drasticamente em cada etapa de sua vida: os filhotes são carnívoros e se alimentam de ovos de peixes, moluscos, águas-vivas, pequenos invertebrados, esponjas-do-mar, algas e crustáceos e vivem em mar aberto. Já os jovens e adultos são normalmente encontrados se alimentando de ervas marinhas perto da costa.

Tartaruga-oliva Lepidochelys olivacea

Tartaruga-oliva rastejando na areia da praia, durante o dia

Tartaruga-oliva. Imagem de Orientalizing via flickr

Seu nome comum se dá devido a sua carapaça verde-oliva. São encontradas principalmente próximo à costa e em águas rasas. Embora seja a espécie mais abundante, também está ameaçada de extinção devido à dificuldade em encontrar lugares adequados para cavar seus ninhos.

É uma das menores tartarugas marinhas do mundo, crescendo até aproximadamente 61 cm e raramente pesando mais de 50 kg. Assim como as outras espécies, a tartaruga-oliva é principalmente carnívora, sobretudo enquanto filhote. Normalmente se alimenta de vários tipos de invertebrados, mas, ocasionalmente pode se alimentar até mesmo de algas, se não houver outra fonte de alimento.

Tartaruga-de-couro Dermochelys coriacea

Tartaruga-de-couro, maior tartaruga do mundo rastejando na areia da praia, em direção ao mar, durante o dia

Tartaruga-de-couro. Imagem de Roger Le Guen via Flickr

A tartaruga-de-couro ou tartaruga-gigante é a maior tartaruga do mundo, tendo entre 1,8 e 2 m de comprimento por até 1,5 m de largura e pesando entre 250 e 550 kg – embora o maior exemplar já registrado tivesse 2,13 m de comprimento e 650 kg.

Dentre as tartarugas marinhas, o corpo da tartaruga-de-couro é o que possui melhor hidrodinâmica. O traço mais notável nestas tartarugas é a ausência visível de carapaça rígida, sendo substituída por uma com textura como a do couro – de onde vem tanto seu nome popular, quanto seu nome científico.

Sua carapaça é reduzida a ossículos na forma de estrelas intercaladas. Os maiores desses ossículos são protuberâncias alinhadas que formam cristas onduladas chamadas quilhas, que vão da cabeça até a cauda do animal.

A tartaruga-de-couro vive a maior parte do tempo em alto-mar (diferentemente das outras espécies que vivem próximas à costa), e vem à praia apenas para desovar.

É o único réptil que possui a capacidade de manter sua temperatura corporal usando calor gerado pelo seu próprio corpo. Passando apenas 0,1% do dia descansando, a natação constante cria calor e sua camada de gordura atua como isolante térmico, assim, consegue conservar a temperatura de seu corpo muito mais elevada do que a água ao seu redor.

Sua alimentação consiste principalmente em águas-vivas, ajudando controlar suas populações. Além disso, também podem se alimentar ocasionalmente de cefalópodes e tunicados.

Ameaças e Conservação

Todas as tartarugas-marinhas encontradas na costa brasileira correm algum risco de extinção. A tartaruga-de-pente está criticamente em perigo de extinção, segundo os dados da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) de 2008 e o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção de 2018.

Desde filhotes as tartarugas são muito vulneráveis: a partir do momento que saem de seus ovos, ou antes mesmo disso, precisam sobreviver aos ataques de caranguejos, lagartos, aves, cães, animais carnívoros marinhos e, é claro, de humanos. Apesar de uma única tartaruga ser capaz de depositar um grande número de ovos, somente 0,1% dos filhotes chegarão à fase adulta.

Apenas grandes tubarões-tigre e os seres humanos caçam tartarugas adultas – estima-se que cerca de 35 mil tartarugas são mortas por ano, pela sua carne, carapaça ou ovos. Sendo a atividade pesqueira cada vez mais intensa e uma das maiores ameaças a esses animais devido à pesca acidental e ao não cumprimento das leis, matando milhares anualmente.

A perda de habitat também pode levar algumas espécies de tartarugas-marinhas à extinção: o desenvolvimento costeiro nas áreas de nidificação impede as fêmeas de colocarem ovos e impossibilita a sua reprodução. Nas últimas décadas, a ocupação humana e a especulação imobiliária têm causado a degradação dos ambientes marinhos e costeiros, bem como a consequente ameaça às tartarugas-marinhas por meio da destruição da vegetação nativa, do aumento do tráfego de veículos e embarcações, e da iluminação artificial.

Além disso, sacolas plásticas muitas vezes são confundidas com alimentos como medusas e águas-vivas, sendo ingeridas e diminuindo significativamente o tempo de vida das tartarugas, que cumprem um papel fundamental para o equilíbrio do ecossistema marinho, pois possuem uma série de relações e influências marinhas que podem indicar a qualidade do ambiente.

Sendo importantes reguladoras de diversas espécies marinhas como medusas, algas, esponjas e gramas marinhas. Sem as tartarugas, essas populações poderiam aumentar de modo insustentável, fazendo com que seu ecossistema entre em desequilíbrio, podendo gerar diversas extinções locais e diminuição da diversidade.

Em uma pesquisa feita com 102 tartarugas, mais de 800 pedaços de plásticos foram encontrados no estômago de todas elas. Sendo os objetos mais comuns encontrados: bitucas de cigarro, pedaços de pneu, plástico em várias formas e materiais de pesca.

Tartaruga-verde é encontrada morta e enrolada em uma rede de pesca abandonada, na praia.

Tartaruga-verde, afogada após ficar presa em uma rede de pesca e não conseguir subir até a superfície para respirar. Imagem de NOAA Marine Debris Program via flickr

Outras grandes preocupações são as mudanças climáticas – que afetam a quantidade de indivíduos machos ou fêmeas que nascem – e o derramamento de óleo nos mares.

As tartarugas-marinhas têm sofrido declínios populacionais há décadas. Das sete espécies existentes no mundo, todas estão ameaçadas. Apesar de serem animais amplamente distribuídos, seu ciclo de vida é longo e complexo e sua maturação sexual é muito demorada, levando entre 20 e 30 anos.

Além disso, seu período de reprodução tem intervalos muito grandes, variando entre 1 e 3 anos, o que dificulta ainda mais que seus números aumentem. Como as tartarugas-marinhas têm uma área de distribuição muito extensa, a sua conservação requer um esforço de cooperação internacional.

O Projeto Tamar vem desenvolvendo há 30 anos estratégias de conservação e conscientização, mas seu sucesso depende de programas nacionais bem coordenados combinados com as comunidades locais e outras organizações não governamentais.

Uma das principais ações que pode ajudar a conservá-las (assim como todas as outras espécies marinhas) é o uso consciente do plástico – evitando seu uso, descartando-o nos locais corretos e reciclando-o. Além disso, as tartarugas-marinhas não desovam em praias sujas, diminuindo ainda mais suas populações. Por isso, uma pequena ação que pode fazer toda a diferença é a limpeza das praias, depositando todo o lixo em local apropriado.

Por serem animais muito sensíveis a sons e à luz, durante sua desova, é importante que fontes de luz e barulhos próximos sejam desligados para que assim, as tartarugas ou seus filhotes não se confundam em seu retorno para o mar. Isso garante que não haja perturbação e que sigam seu caminho naturalmente, sem interferência humana. Portanto, em um ambiente equilibrado, com pouca intervenção humana, as tartarugas-marinhas vivem bem e realizam seu ciclo de vida tranquilamente.

Leia mais em:

Sea Turtle

Tartaruga Comum

Effects of temperature and demography on the phenology of loggerhead sea turtles in Brazil

Tartaruga-de-pente

Distribution and growth rates of immature hawksbill turtles Eretmochelys imbricata in Fernando de Noronha, Brazil

Green Sea Turtle

Physiological effects of incidental capture and seasonality on juvenile green sea turtles

Olive Ridley Sea Turtle

Olive ridley inter-nesting and post-nesting movements along the Brazilian coast and Atlantic Ocean

Leatherback Sea Turtle

Thirty years of leatherback turtle Dermochelys coriacea nesting in Espírito Santo, Brazil, 1988−2017: reproductive biology and conservation

SUMÁRIO EXECUTIVO DO PLANO DE AÇÃO NACIONAL PARA A CONSERVAÇÃO DAS TARTARUGAS MARINHAS

Biologia, ecologia e conservação das tartarugas marinhas

INFLUÊNCIA DO CAMPO MAGNÉTICO NATURAL TERRESTRE NA MIGRAÇÃO DAS TARTARUGAS MARINHAS DA PRAIA DE INTERMARES, CABEDELO - PB.

Assessing coastal artificial light and potential exposure of wildlife at a national scale: the case of marine turtles in Brazil

Tags:
Siga-nos! / Follow us!

Somos um blog que apresenta fatos e informações de qualidade sobre nossos amigos do mundo animal.