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Víboras brasileiras

As víboras são uma família de cobras venenosas encontradas em grande parte do mundo. Geralmente são identificadas pelo formato de fenda de suas pupilas — que se abrem quando há pouca luz e se fecham quando há muita luz; por suas longas presas articuladas que permitem penetração e injeção de veneno; pela presença de escamas em forma de quilha em vez serem lisas e pela forma triangular da cabeça.

No entanto, tais regras não devem ser aplicadas às víboras brasileiras por haverem muitas exceções. 1

Apesar disso, outras características podem ser notadas para identificá-las, como a presença de órgãos sensoriais localizados entre os olhos narinas chamados “fossetas loreais”. Esses órgãos favorecem a detecção animais de sangue quente, fazendo com que algumas espécies possam captar variações de temperatura de até 0,003 °C1 2 e criem mapas térmicos de seus arredores, encontrando facilmente suas presas.

Das quatro subfamílias atualmente reconhecidas, apenas uma é encontrada no Brasil, a Crotalinae — da qual fazem parte todas cascavéis, surucucus e jararacas. No entanto, a taxonomia e sistemática deste grupo está mal resolvida, de modo que novas espécies são descritas enquanto algumas sinonimizadas.

Muitas espécies são noturnas e terrestres, mas é possível encontrá-las durante o dia em arbustos e árvores pequenas, especialmente indivíduos jovens. A jararaca-ilhoa (Bothrops insulari) em particular, passa a maior parte do tempo em árvores devido ao seu hábito de se alimentar exclusivamente de aves.

A coloração das escamas, nível de toxicidade e comportamento também podem variar muito segundo o gênero e espécie.

Bothrops

Urutu-cruzeiro

Urutu-cruzeiro - Instituto Butantan. Imagem de Miguelrangeljr sob a licença CC-BY-SA 4.0 via Wikimedia Commons

Pertencem a esta família as cotiaras, urutus, jararacas de 70 cm e até jararacuçus de 2 m de comprimento.

Estas serpentes podem ser encontradas em todo o Brasil, no entanto, enquanto algumas espécies habitam vários estados, outras são encontradas apenas em regiões específicas. A jararaca B. sazimai, descoberta em 2016, por exemplo, é encontrada apenas na Ilha dos Franceses, a cerca de 140 km de Vitória — ES.3 A Jararaca-de-alcatrazes, apenas na Ilha de Alcatrazes — litoral de São Paulo. Enquanto a jararaca-pintada (B. neuwidi), pode ser encontrada desde Salvador até Goiás e Santa Catarina.

As espécies do gênero Bothrops são as principais responsáveis por acidentes ofídicos nas Américas, assim como por mortalidade. No Brasil, as jararacas mais importantes são a jararaca-do-norte (B. atrox), que habita toda a região amazônica e a jararaca-da-mata (B. jararaca) encontrada na Mata Atlântica e nos Pampas.

No entanto, a análise química do veneno da jararaca-ilhoa (encontrada apenas na Ilha de Queimada Grande a cerca de 35 km do litoral do estado de São Paulo), indica ter se tornado especilizado para aves, sendo cinco vezes mais potente para esses animais4 do que o veneno da jararaca-da-mata. Além disso, seu veneno tem a ação mais rápida dentre todas as jararacas (Bothrops)5. Porém, como a ilha é desabitada e tem acesso proibido (restrito apenas a analistas ambientais), não há relatos oficiais de uma pessoa mordida por uma jararaca-ilhoa.

Bothrocophias

Jararaca-nariguda — Bothrocophias microphtalmus

Jararaca-nariguda B. microphtalmus. Imagem de Leonardo Alava sob a licença CC-BY-NC 4.0 via iNaturalist

As víboras deste gênero eram classificadas como Bothrops até 2012 — quando estudos moleculares comprovaram que, na verdade, pertenciam a outro gênero6. Há cerca de seis espécies, e no Brasil, duas habitantes da Bacia Amazônica são encontradas — B. Microphthalmus e B. Hyoprora7, conhecidas popularmente como jararacas-narigudas. Medem até de 80 cm1 8.

Dentre outros sintomas, o veneno das serpentes do gênero Bothrops e Bothrocophias podem causar dor, hemorragia, inchaço, necrose e insuficiência renal1. Sem tratamento, a taxa de mortalidade é estimada em 7%, mas, com uso de soro antiofídico e tratamentos suplementares, esta taxa é reduzida para 0,5 -3%9.

Crotalus

Cascavel

Cascavel. Imagem de Renato Augusto Martins sob a licença CC-BY-SA 4.0 via Wikimedia Commons

Atualmente existem cerca de 40 espécies e subespécies de serpentes do gênero Crotalus. No entanto, no Brasil, apenas uma espécie está presente, a cascavel (C. durissus) — com cerca de seis subespécies. As cascavéis são as serpentes mais bem distribuídas de seu gênero, podendo ser encontradas em diversos países da América Central e do Sul. No país, podem ser encontradas em campos e matagais de todos os biomas.

As cascavéis podem ter de 1,5 a 2 m de comprimento. São facilmente distinguidas de outras cobras venenosas por não se desfazerem totalmente de sua pele morta durante o período de muda. Em vez disso, uma pequena parte se enrola na ponta da cauda formando um anel cinzento. Com o passar dos anos, esses anéis ressecados formam os guisos, usados para avisar a animais ou pessoas sobre sua presença, e que é melhor ficarem afastados.

Apesar de rastejarem com seus chocalhos erguidos para protegê-los de danos, suas atividades cotidianas na natureza fazem com que seus segmentos finais quebrem regularmente. Por isso, o número de chocalhos em sua cauda não está relacionado à idade destas serpentes10.

As cascavéis são responsáveis por cerca de 7,7% dos acidentes de mordidas de cobras no Brasil, no entanto, sua taxa de letalidade chega a 1,8% — a maior dentre todas as serpentes do país. Diferentemente da jararaca, a mordida da cascavel não tem efeito coagulante, e não costuma causar dor ou inchaço. Em vez disso, atinge o sistema nervoso e causa coagulação sanguínea, podendo causar formigamento, visão turva e urina avermelhada ou marrom. Em casos graves, insuficiência renal e falecimento9.

Lachesis

Surucucu-pico-de-jaca

Surucucu-pico-de-jaca. Imagem de Cotinga sob a licença CC-BY-NC 4.0 via iNaturalist

Das quatro espécies identificadas apenas uma habita o Brasil, a surucucu, também conhecida como surucucu-pico-de-jaca (L. muta). Recebe seu nome por ter escamas com pequenos picos semelhantes aos de uma jaca, que afunilam e diminuem até que a ponta da cauda termine sem escamas. Tal característica provavelmente foi o que deu origem à crendice de que as surucucus têm um ferrão na ponta do rabo1.

Estas serpentes são encontradas principalmente na Amazônia, porém também podem ser encontradas na Mata Atlântica da Paraíba ao Rio de Janeiro. Atingem em média 2 ou 3 m de comprimento, sendo a maior cobra venenosa do Ocidente e a segunda maior do mundo — logo após a cobra-real (Ophiophagus hannah) que vive na Ásia9.

A taxa de acidentes causados por esta serpente é de 1,4%, no entanto, estes números podem ser maiores já que há muitos casos não registrados ou mal documentados na região amazônica. Seu veneno chega a ser três vezes mais letal do que o das serpentes do gênero Bothrops, porém, mais fraco do que os das cascavéis.

Seu veneno tem agentes inflamatórios, hemorrágicos, coagulantes e neurotóxicas, causando dor, inchaço, hemorragia, tontura, sudorese, vômitos e insuficiência renal9.


Os humanos não fazem parte da dieta desses animais, portanto, o único motivo para atacarem alguém é quanto se sentem acuadas e com medo de serem machucadas. Nesses casos, podem desferir golpes para se defenderem e afastarem algo possívelmente perigoso para elas.

A principal causa de acidentes com mordidas de cobras é o descuido ao andar em áreas de mata. Portanto, é sempre recomendado tomar cuidado ao tocar em galhos e não colocar as mãos em buracos, principalmente sem o uso de luvas. Além disso, 80% das picadas são feitas do joelho para baixo9, sendo assim, é indicado o uso de bota ou botinas e perneiras sempre que possível.

Em caso de acidente, não fure, chupe ou aplique qualquer coisa na ferida. Apenas lave o local e procure atendimento médico imediatamente. Se possível, entre em contato com os hospitais próximos e verifique se há soros anti-ofídicos.

Leia mais em:


  1. ResearchGate — Serpentes do Alto Juruá, Acre - Amazônia Brasileira  ↩︎

  2. National Library of Medicine — Biological infrared imaging and sensing  ↩︎

  3. Galileu — Brasileiros descobrem nova espécie de jararaca, mas ela já está quase extinta  ↩︎

  4. Instituto Butɑntan e a jararaca-ilhoa: cem anos de história, mitos e ciência  ↩︎

  5. Taylor and Francis Online — A biological survey of the pitviper Bothrops insularis amaral (serpentes, viperidae): An endemic and threatened offshore island snake of southeastern Brazil  ↩︎

  6. Diversidade filogenética, distribuição geográfica e prioridades de conservação em jararacas sulamericanas — Repositório da Universidade de Brasília  ↩︎

  7. ResearchGate — Lista de répteis do Brasil: padrões e tendências  ↩︎

  8. ResearchGate — Squamata, Serpentes, Viperidae, Bothrocophias hyoprora (Amaral, 1935): distribution extension in the state of Acre, northern Brazil  ↩︎

  9. Encyclopedia of the World’s Zoos, Volume 1  ↩︎

  10. Amazonian Bushmaster (<i>Lachesis muta</i>) — Reptiles of Ecuador  ↩︎

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