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Aves de rapina do Brasil

As aves de rapina fascinam os humanos através do tempo, talvez mais do que qualquer outro grupo de aves. Prova do respeito, admiração e veneração que ganharam está na diversidade de simbolismos, desde hieróglifos a bandeiras e emblemas de países, condensando os ideais que transmitiram a essas culturas, como poder, vitalidade, sabedoria e nobreza.

As aves de rapina também estão rodeadas de mitos, misticismo e temor, principalmente quando se trata de corujas e urubus. Devido a isso, muitas sofrem perseguição e são mortas por causas injustificadas. Entender sobre esses animais, seu modo de vida e sua importância para o meio ambiente é um grande passo para colaborar com sua preservação.

Características gerais

As aves de rapina ou rapinantes são todas as águias , gaviões e abutres (Acipitrídeos), falcões e carcarás (Falconídeos), corujas (Strigídeos) e condores e urubus (ordem Catartídeos). São encontradas em todos os continentes, com exceção da Antártica, e habitam os mais variados habitats – de litorais às montanhas e de campos às florestas.

Não há um número exato de espécies, pois algumas são consideradas espécies por alguns pesquisadores enquanto outros as classificam como subespécies. Porém, com base nos dados existentes, há cerca de 550 espécies de rapinantes no mundo, das quais 212 são corujas.

A América Central e a América do Sul concentram o maior número de rapinantes do mundo. No Brasil, existem 100 espécies; sendo 50 águias e gaviões, 21 falcões, 23 corujas e 6 urubus. 1

Coruja-buraqueira

Coruja-buraqueira.

As aves de rapina possuem várias características determinantes. Dentre elas, destaca-se a visão aguçada. Essas aves podem enxergar de 2 a 8 vezes mais do que os humanos, — a águia-real (A. chrysaetos), por exemplo, consegue encontrar um coelho no meio da mata a mais de 3 km de distância.

Diferentemente de todas as outras aves, os rapinantes possuem olhos na parte frontal da cabeça, permitindo um melhor discernimento de profundidade e distância — favorecendo a caçada. As aves de rapina diurnas enxergam cores, no entanto, as corujas, sendo em sua maioria noturnas, enxergam poucas cores ou apenas tons de cinza.

Os olhos das corujas possuem mais células sensíveis à luz do que às cores, a maioria possui olhos de 10 a 100 vezes mais sensíveis à luz do que os humanos, ou seja, têm uma ótima visão noturna. O bico forte, curvo e afiado, é outra característica notável das aves de rapina — adaptado para rasgar os tecidos de suas caças ou até para abatê-las (no caso dos falcões).

Algumas espécies de pequeno porte como o quiriquiri (F. sparverius) tem um bico curto, apropriado para comer roedores e insetos. A harpia (H. harpyja) tem um bico grande e forte para retirar grandes pedaços de carne de preguiças e macacos. Já o gavião-caramujeiro (R. sociabilis), tem o bico longo e mais curvo do que o de qualquer outro rapinante — adaptação necessária para tirar os caramujos de dentro de suas conchas.

As aves de rapina também possuem garras fortes e afiadas, perfeitas para capturar e abater suas presas. Além disso, possuem uma ótima audição — especialmente as corujas. Apesar de a maioria das rapinantes ter um olfato limitado, o olfato dos urubus é muito apurado, permitindo-os encontrar alimento a quilômetros de distância.2 3

Os urubus são aves de rapina?

Urubu-de-cabeça-amarela

Urubu-de-cabeça-amarela. Imagem de Marianne Flückiger via Pixabay

O fato de os urubus serem parte do grupo das rapinantes sempre foi questão de debate entre os observadores de aves e pesquisadores.

Primeiramente, o termo “rapinante” se refere ao ato de raptar presas, característica que os urubus não têm. Os urubus não têm patas e garras fortes como outras aves de rapina, portanto, não conseguem abater ou transportar presas a longas distâncias. Seus bicos também não são tão reforçados, e sem a ajuda de outros rapinantes carniceiros como os carcarás, a maioria dos urubus mal conseguiria rasgar o couro de suas presas.

Porém, assim como outros rapinantes, os urubus possuem ótima visão, olfato, audição e uma ótima habilidade de voo. Além disso, evidências genéticas recentes demonstram que os urubus estão intimamente relacionados aos gaviões e às águias — sendo assim, fazem parte do grupo das aves de rapina. 4

Como diferenciar águias, gaviões e falcões?

Grande parte da confusão com o que é uma águia ou um gavião é devido à metade das águias brasileiras, serem chamadas popularmente de gaviões, como o gavião-real, gavião-pega-macaco, gavião-pato, gavião-de-penacho e o gavião-da-serra. Todos são, na verdade, águias.

Podemos indicar a diferença entre águias e gaviões analisando algumas características físicas fáceis de distinguir:

Águia-serrana (Geranoaetus melanoleucus)

Águia-serrana (Geranoaetus melanoleucus). Imagem de Thomaz de Carvalho Callado via iNaturalist

As águias costumam ser grandes e imponentes com bicos, pernas e garras fortes e grandes. Possuem mais de 1 kg e pelo menos 60 cm de comprimento. Suas asas são grandes e largas, com envergaduras que podem variar de 1,30 m até quase 2,50 m — a maior águia do Brasil é a harpia , com até 9 kg e 2 m de envergadura.

Passam longos períodos planando em busca de alimento e caçam principalmente pequenos mamíferos como gambás, tatus, preguiças, macacos e até mesmo alguns carnívoros. Geralmente, constroem grandes ninhos no alto das árvores ou encostas rochosas.

Gavião-de-cauda-curta (Buteo brachyurus)

Gavião-de-cauda-curta (Buteo brachyurus). Imagem de Fernando Sessegolo via iNaturalist

Os gaviões podem ser muito parecido com as águias, porém, são menores, pensando menos de 1 kg — portanto, seus bicos, pernas e garras não são tão robustos. Os gaviões também costumam planar, mas caçam presas menores, como pequenos répteis, roedores, pássaros e insetos.

Os falcões, no entanto, fazem parte de uma ordem diferente das águias e gaviões. Os chamados “falcões-verdadeiros” (do gênero Falco) são os mais fáceis de identificar: são aves pequenas, com menos de 500 g. Suas garras não são tão potentes e seus bicos, embora pequenos, possuem um “dentículo” que os ajudam a quebrar os ossos de suas presas — geralmente, animais pequenos e ágeis como pássaros, insetos e morcegos.

Têm corpo fusiforme e asas finas e pontudas adaptadas para voos em alta velocidade. Tais características são o que permite que o falcão-peregrino, a ave mais rápida do mundo, atinja até 390 km/h.

Os falcões não constroem ninhos como as águias e gaviões, em vez disso, usam buracos em árvores, fendas rochosas ou usam ninhos abandonados de outras aves.

Facões: carcará e quiri-quiri

Comparação morfológica entre um carcará e um quiri-quiri. Imagens de Beto e Herbert Aust via Pixabay

Porém, nem todos os falcões são iguais, falcões-florestais (do gênero Micrastur) possuem corpos mais robustos e asas menores e mais largas — adaptações necessárias para a caça em matas fechadas e com muitos obstáculos.

Além destes, há o grupo dos carcarás, em que os carcarás, gralhões, ximangos, gaviões-carrapateiros e gaviões-de-antas fazem parte. Estes falconídeos com bicos grandes, são lentos e não caçam durante o voo. Em vez disso, têm hábitos generalistas, alguns são onívoros e muitas vezes se alimentam de animais fracos ou mortos. 5

Ameaças e Conservação

As aves de rapina desempenhando um papel fundamental na regulação das populações de presas, no entanto, são muito suscetíveis às mudanças ambientais, sendo as espécies que mais sofrem com os impactos das modificações humanas. 6

Das cerca de 100 espécies de rapinantes do Brasil, 35 estão regionalmente ameaças, e 15 estão ameaçadas em todo o país por atividades humanas. A perda de habitat é sem dúvida a maior ameaça para as aves de rapina. A Mata Atlântica abriga cerca de 72% das espécies que ocorrem no país, porém, o bioma é um dos sistemas florestais mais fragmentados e ameaçados do mundo, reduzido a cerca de 11% de sua área inicial.

A falta de planejamento no setor agropecuário e imobiliário é uma das maiores causas de destruição de florestas, campos e cerrados.3 Tamanha devastação condicionou o atual estado de conservação da avifauna em alguns estados como a mais ameaçada do Brasil e de toda região neotropical.

Enquanto espécies generalistas ou campestres como os carcarás e carrapateiros têm ampliado sua distribuição diante da substituição dos ambientes florestais por pastos e áreas cultivadas, espécies florestais como o gavião-pomba-pequeno, não conseguem suportar mudanças no seu habitat, agravando seu estado de conservação.7

Caça e perseguição

Gavião-caboclo (Buteogallus meridionalis)

Gavião-caboclo (Buteogallus meridionalis). Imagem de Lena Geise do Departamento de Zoologia do Instituto de Biologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro sob a licença CC-BY-NC 4.0 via iNaturalist

Apesar de ilegal, muitas aves de rapina ainda são caçadas no Brasil. Em muitas regiões, são abatidas por fazendeiros como prevenção de ataques contra seus animais ou até mesmo contra crianças — algo infundado.

As aves de rapina, principalmente as de grande porte, também são frequentemente abatidas por curiosidade ou por serem vistas como “troféus”. Por outro lado, muitas pessoas ainda matam corujas, gaviões e urubus por associarem com a morte, mau agouro ou sinais de azar.

Outras ameaças às aves de rapina são: Envenenamentos indiretos pela ingestão de animais intoxicados por agrotóxicos, metais pesados e outros elementos químicos maléficos; captura e tráfico ilegal; colisões com vidros, aeronaves e linhas de pipa; atropelamentos e eletrocussões em cercas elétricas.8

Medidas para conservação

A conservação e proteção das aves de rapina requer um empenho conjunto da comunidade, pois várias ameaças influenciam a redução das espécies. As ações mais importantes e imediatas são a proteção e conservação de seu hábitat, através da conexão entre as regiões protegidas, permitindo a troca genética entre populações anteriormente separadas, assim como a reocupação de lugares em que se extinguiu; e a maior fiscalização das regiões protegidas.

Da mesma forma, o desenvolvimento de estudos científicos, pesquisas biológicas e ecológicas de cada espécie e a procura por populações desconhecidas, permitiria compreender sobre a conservação e distribuição de muitas aves de rapina.

Programas de manejo e reintrodução são igualmente importantes para resgatar populações que estão próximas da extinção, como é o caso da harpia (H. harpyja) da Mata Atlântica. A educação ambiental é um dos meios mais importantes e eficazes para impulsionar a conservação das aves de rapina e da natureza.3

Referências:


  1. Aves de Rapina Brasil. Acesso em: 8 de Novembro de 2022. ↩︎

  2. Características gerais das aves de rapina - Aves de Rapina Brasil. Acesso em: 10 de Novembro de 2022. ↩︎

  3. Icmbio — Plano de Ação Nacional para a Conservação de Aves de Rapina - 2007  ↩︎

  4. Urubus são aves de rapina? - Aves de Rapina Brasil. Acesso em: 8 de Novembro de 2022. ↩︎

  5. Grupos básicos - Aves de Rapina Brasil. Acesso em: 8 de Novembro de 2022. ↩︎

  6. Mindell, DP, Fuchs, J., Johnson, JA (2018). Filogenia, taxonomia e diversidade geográfica de aves de rapina diurnas: Falconiformes, Accipitriformes e Cathartiformes. In: Sarasola, J., Grande, J., Negro, J. (eds) Aves de Rapina. Springer, Cham. https://doi.org/10.1007/978-3-319-73745-4_1  ↩︎

  7. ZORZIN, Giancarlo. Effects of the Atlantic Forest fragmentation on the species richness and abundance of Accipitriformes and Falconiformes in the Zona da Mata region, Minas Gerais. 2011. 116 f. Dissertação (Mestrado em Biologia e Manejo animal) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2011. ↩︎

  8. Ameaças e conservação das aves de rapina - Aves de Rapina Brasil. Acesso em: 11 de Novembro de 2022. ↩︎

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