Conheça as cecílias
As cecílias são anfíbios vertebrados assim como os sapos e salamandras e possuem hábitos fossoriais, ou seja, são adaptadas para cavar e viver debaixo do solo – como as toupeiras. Por manterem esse estilo de vida seus olhos sofreram algumas adaptações, se tornando menores e cobertos por uma fina camada de pele, o que faz com que pareçam cegas – o que deu origem tanto ao nome “cobra-cega” , quanto ao nome cecília (que significa “cega”). Apesar de serem assim chamadas, as cecílias não são totalmente cegas e conseguem distinguir a ausência e a presença de luz.
Estão espalhadas pelas regiões tropicais de vários países da América do Sul e Central, da África e do Sudeste Asiático. Porém, das 6 famílias existentes, apenas 3 estão presentes no Brasil, compondo aproximadamente 27 espécies. Sua grande variedade de tamanhos faz com que sejam confundidas com minhocas ou até mesmo cobras .
As cecílias da família Typholonectidae são algumas das que mais se destacam. Diferentemente das outras famílias, estas cecílias são predominantemente aquáticas, habitando rios e charcos de águas quentes e turvas. São as únicas cecílias que possuem barbatanas e os filhotes possuem brânquias externas que somem quando atingem a fase adulta.
Além disso, algumas possuem uma toxina em sua pele que pode afetar alguns peixes, o propósito dessa toxina, no entanto, ainda é desconhecido. A maior espécie dessa família é a Atretochoana eiselti que quando adulta, pode medir mais de 80 cm – sendo o maior vertebrado conhecido sem pulmões e que absorve oxigênio através da pele, assim como algumas espécies de salamandras . É um animal raramente avistado, no qual os pesquisadores sabem muito pouco.
Já cecílias como a Siphonops annulatus podem chegar aos 45 cm e possuem glândulas cutâneas de veneno localizadas na área labial, porém não possuem nenhum tipo de estrutura especializada para a inoculação. Por outro lado, essa secreção cobre a superfície dos dentes durante a predação, sugerindo que as glândulas de veneno sejam comprimidas durante mordidas prolongadas, transmitindo o veneno para a presa através da mordida.
A pele dos anfíbios em geral possui as mais variadas toxinas, no entanto, a maioria dos estudos sobre essas secreções têm se concentrado nos sapos , tendo poucos sobre a toxicidade da pele das cecílias. De fato, as cecílias fazem parte de um dos grupos de vertebrados menos conhecidos, principalmente devido ao seu modo de vida fossorial, tornando-os animais de difícil acesso.
Para poder recolher e estudar um único indivíduo é preciso uma grande energia, sendo que, dependendo da época, são necessárias de 4-20 horas de escavação manual. Portanto, o conhecimento científico sobre esses animais é muito restrito e, em geral, provém de relatórios esparsos obtidos indiretamente e principalmente através de espécimes em museus e zoológicos.
Muitos outros estudos precisam ser feitos para obter mais informações sobre a vida desses animais. O número crescente de descobertas de anfíbios com características cada vez mais distintas, leva-nos a esperar que mais espécies impressionantes sejam encontradas.
Leia mais em:
A new lungless caecilian (Amphibia: Gymnophiona) from Guyana
Cobra-cega (Siphonops annulatus)
Occurrence of hemolytic activity in the skin secretion of the caecilian Siphonops paulensis
Morphological Evidence for an Oral Venom System in Caecilian Amphibians
AnphibiaWeb (Atretochoana eiselti)