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Conheça as cobras-de-vidro

As cobras-de-vidro são répteis pequenos e esguios, com escamas brilhantes e lindos padrões de listras horizontais que percorrem todo o corpo e ajudam a distinguir as espécies. Atualmente, seis são reconhecidas na América do Sul, das quais três são encontradas no Brasil:

Ainda que se pareçam muito com serpentes, as cobras-de-vidro são, na verdade, lagartos. Isso se torna evidente ao repararmos que possuem pequenas pernas traseiras vestigiais, e que possuem pálpebras (lagartos, ao contrário de cobras, possuem pálpebras e são capazes de piscar).

Cobra-de-vidro Ophiodes sp.

Cobra-de-vidro Ophiodes sp. Imagem de Marco Silva sob a licença CC-BY-NC via iNaturalist

As cobras-de-vidro ou licranços fazem parte da subfamília Anguidae. Dentro dessa subfamília, há dois gêneros muito parecidos e frequentemente confundidos; o Anguis, de licranços encontrados na Europa; e o gênero Ophiodes, com espécies mais comumente chamadas de cobras-de-vidro — encontradas na América do Sul.

Apesar de suas similaridades, pertencem a gêneros diferentes, isto é, são animais diferentes. Estima-se que estas duas linhagens divergiram há cerca de 22 milhões de anos, durante o período Mioceno.1 Por isso, não devem ser confundidas.

As cobras-de-vidro possuem hábitos fossoriais e costumam viver debaixo da cobertura de folhas caídas no solo ou troncos caídos. Apesar de não terem pernas funcionais, conseguem deslocar-se rapidamente entre a vegetação herbácea onde vivem: principalmente campos abertos, costumeiramente próximos de ambientes aquáticos.

Alimentam-se principalmente de insetos, larvas, lesmas, aracnídeos e outros pequenos artrópodes .

Como perderam suas patas?

Cobra-de-vidro Ophiodes sp.

Cobra-de-vidro Ophiodes sp. Imagem de João Vitor Oliveira de Souza sob a licença CC-BY-NC via iNaturalist

A transição da forma de lagarto para a forma de serpente é relativamente comum em répteis. Além das serpentes, várias famílias de lagartos como as anfisbenas passaram por esse processo.

Anteriormente, pensava-se que a perda dos membros estava relacionada aos hábitos de viver em pequenos túneis subterrâneos onde suas pernas poderiam não ser tão úteis. Porém, em um estudo de 2007 foi afirmado que, na verdade, a redução dos membros está associada ao alongamento do corpo. Ou seja, répteis com o corpo e a cauda muito compridos tendem a desenvolver membros reduzidos.1

No caso, as cobras-de-vidro podem alcançar entre 40 e 50 cm, sendo a cauda muitas vezes mais longa do que o próprio dorso.

Autoamputação

Cobra-de-vidro Ophiodes sp.

Cobra-de-vidro Ophiodes sp. Imagem de Luciano Bernardes sob a licença CC-BY-NC via iNaturalist

Além de não terem patas, algumas pessoas acreditam que o nome “cobra-de-vidro” faz referência às escamas brilhantes desses animais, outras creem que se refere à facilidade com que autoamputam o rabo ao serem capturados. Esta técnica, também chamada de autotomia, aumenta as chances de sobrevivência, distraindo o predador com o rabo solto do lagarto (que ainda se mexe) enquanto o lagarto foge.

A autotomia é comum entre os lagartos — das cerca de 20 famílias, 13 são capazes de realizá-la. Apesar disso, a cauda desempenha um papel importante na locomoção, nas interações sociais e sexuais, e no armazenamento de energia, ou seja, é um órgão valioso demais para que seja separado indiscriminadamente.

Por isso, um dos passos mais importantes após a autotomia e uma fuga bem-sucedida é a regeneração da cauda perdida, sem a qual a autotomia caudal não poderia ser usada novamente. Porém, para que o reparo e a regeneração sejam feitos, é necessário um grande investimento na reposição energética.

Portanto, apesar de a autotomia aumentar as chances de sobrevivência do animal, em muitas espécies de lagartos, tal método vem com custos como a perda de reservas de gorduras caudais, o declínio de status social e chances de reprodução; redução no crescimento, nas habilidades locomotoras e na capacidade de sinalização; maiores taxas de mortalidade, entre outros.

O quanto cada um desses custos afeta a vida de um lagarto varia entre cada espécie, e ainda não se sabe ao certo como isso afeta as cobras-de-vidro.2

Após algumas semanas uma nova cauda é formada, diferente da anterior: geralmente caudas novas são mais curtas e com cor e texturas um pouco diferentes da cauda original. Porém, a principal diferença é que as caudas novas são constituídas apenas por cartilagem e não mais de vértebras, o que reduz sua mobilidade.

Conservação e Ameaças

Cobra-de-vidro Ophiodes sp

Cobra-de-vidro Ophiodes sp. Imagem de Felipe Bittencourt sob a licença CC-BY-NC-SA via iNaturalilst

As cobras-de-vidro ainda são muito pouco conhecidas, e seus números populacionais são desconhecidos. Algumas espécies como O. enso e O. luciae apenas foram encontradas em microábitats, não sendo conhecida sua presença em outros lugares. Portanto, quaisquer alterações nos ambientes utilizados por estas espécies são ameaças relevantes à conservação das populações, podendo dizimá-las.

No entanto, estima-se que espécies bem distribuídas como O. striatus sejam abundantes e com pouco risco de extinção, estando citadas como “Pouco Preocupantes” na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), no entanto, seus números são igualmente desconhecidos.

Aprender a diferenciação entre as cobras-de-vidro e cobras reais é uma importante forma de ajudar na conservação desses animais. Afinal, assim como muitas espécies de serpentes, as cobras-de-vidro são totalmente inofensivas e não causam nenhum dano ou preocupação para os humanos, sendo desnecessário qualquer ato defensivo com relação a elas. De fato, as cobras-de-vidro ajudam a manter o controle de animais que podem ser indesejados em certas áreas, como aranhas, insetos e lesmas.

Leia mais em:


  1. Wiley Online Library - How lizards turn into snakes: a phylogenetic analysis ofbody-form evolution in anguid lizards  ↩︎

  2. Wiley Online Library - Caudal autotomy and regeneration in lizards  ↩︎

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