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A inusitada anfisbênia

Segundo a mitologia grega, a anfisbênia é uma serpente venenosa de duas cabeças que nasceu a partir do sangue da Medusa. Às vezes representada com asas, pés de ave ou chifres, a anfisbênia vaga pelo deserto se alimentando de carcaças deixadas para trás. Apesar de ser uma figura mitológica, existem várias menções sobre cobras-de-duas-cabeças em muitos lugares do mundo, como na mitologia latina, europeia, indiana e africana. Tantas regiões criaram estórias sobre o mesmo ser porque, de fato, ele existe.

Como acontece com muitos mitos, o da anfisbênia foi baseado em um animal real. A anfisbênia ou anfisbena é, na verdade, um réptil bastante incomum que é costumeiramente confundido com uma serpente . Seu nome significa algo como “caminhar para ambos lados”, e se refere à habilidade do animal de poder rastejar tanto para frente, quanto para trás. Mas, apesar de a maioria das espécies não ter pernas, a anfisbênia não é serpente , tampouco lagarto; ela possui sua própria família na classe dos répteis — a “Amphisbaenidae”.

Apesar de também ser conhecida como “cobra-de-duas-cabeças”, a anfisbênia não tem duas cabeças, apenas sua cauda é curta, grossa e redonda, como sua cabeça. Quando se sentem ameaçadas, algumas espécies levantam a cauda e a cabeça simultâneamente de forma que seus predadores não saibam diferenciar qual das pontas é a cabeça. Assim, as chances de que apenas a cauda (que pode ser autoamputada) seja atacada é maior, aumentando a possibilidade de sobreviver.

Amphisbena alba em posição de defesa

Amphisbena alba em posição de defesa. Imagem de Lilian Tomazelli CC BY NC 4.0 via iNaturalist

A anfisbênia é um animal fossorial, e passa a maior parte do tempo nos túneis subterrâneos que cava com a sua cabeça. Os ossos de seu crânio passaram por adaptações ao longo dos anos se tornando perfeitos para a escavação, havendo entre as anfisbênias três formatos de cabeças: as com cabeça redonda, vivem mais próximas à superfície — como a A. alba e a A. fuliginosa, onde a terra é mais macia e podem usar seu crânio duro como um aríete empurrando o solo.

Mas as espécies consideradas especialistas em escavar são geralmente encontradas em solos mais profundos onde a areia é mais dura. Possuem cabeça em forma de pá ou quilha e fazem movimentos para cima e para baixo (ou de um lado para o outro) para remover a terra e criar seus túneis. Por viverem ainda mais escondidas e longe da luz do sol, ao contrário das de cabeça redonda, costumam ter pouca ou nenhuma pigmentação.

Outra adaptação para seu modo de vida foi o alongamento de seu corpo: a anfisbênia possui o pulmão esquerdo maior do que o direito (ou até mesmo não tem o pulmão direito). Isto serve para os órgãos fiquem mais acomodados em seu corpo fino e comprido. Devido a isso, seu pulmão esquerdo pode ser dividido em duas partes: a primeira, é um pulmão totalmente funcional responsável pela troca gasosa e, a segunda, possui a função de uma bolsa de ar, ajudando-as a respirar debaixo da terra, onde o oxigênio é mais escasso.

Cabeça de Amphibaena alba

Amphisbaena alba. Imagem de a_f_r CC BY NC 4.0 via iNaturalist

Ao contrário do que afirma seu mito, as anfisbênias se alimentam apenas de pequenos invertebrados como larvas e formigas , também, não possuem veneno (nem em sua mordida ou em qualquer outra parte de seu corpo). Além disso, apenas as que vivem mais próximas à superfície costumam morder, e sua mordida é consideravelmente mais forte do que as que vivem em camadas mais profundas — com a especialização de seus crânios para escavar solos mais rígidos, suas mandíbulas foram reduzidas, tornando seus ataques menos eficazes.

Por terem se adaptado a um estilo de vida fossorial (vivendo próximas ou não da superfície), seus olhos perderam a função — são minúsculos e apenas distinguem variações na intensidade da luz. Em compensação, possuem ótimo olfato e audição — sendo capazes de encontrar larvas rastejando, ou formigas caminhando, apenas pelo som/vibração. Porém, a quimiorrecepção é essencial em todos os répteis , e é com a movimentação constante de sua língua bifurcada que podem diferenciar o que é comida, água, terra ou até um parceiro em potencial.

Apesar de as espécies maiores (até 70 cm) serem comumente confundidas com cobras , as menores — com cerca de 10 cm, podem ser confundidas com minhocas ou cecílias . As anfisbênias, no entanto, podem ser distinguida desses dois grupos por possuírem escamas, uma língua bifurcada e um rastejar retilíneo que lembra o movimento de uma sanfona.

Amphisbaena fuliginosa

Amphisbaena fuliginosa. Imagem de Yulisa Perez Plata CC BY NC 4.0 via iNaturalist

Existem quase 200 espécies de anfisbênias. A maioria está localizada na África e na América do Sul, e as demais, na América Central, no Oriente Médio e na região do Mediterrâneo. O Brasil é o país com a maior diversidade, com 74 espécies reconhecidas até o momento. São animais que acabam sendo negligenciados devido aos seus hábitos fossoriais e por serem dificilmente encontrados.

Apesar disso, é possível deduzir que, devido ao seu modo de vida, as anfisbênias possuem um papel tão importante para o meio ambiente quanto as minhocas e cecílias — favorecendo a penetração da água e do ar no solo e o desenvolvimento da vegetação. Poucos espécimes foram estudados, e superar esse obstáculo é essencial para que com novos conhecimentos possamos ajudá-las a prosperar. Com as alterações ambientais causadas pelos humanos, é possível que muitas espécies sejam extintas sem sequer serem descobertas.

Leia mais em:

Amphisbaenia: Adaptações para o Modo de Vida Fossorial

Quem são as Anfisbênias?

Anfisbênias: quem são essas desconhecidas?

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