A inteligência das aves
É comum ouvirmos histórias ou vermos vídeos na internet de papagaios que sabem repetir várias palavras, pássaros fazendo pequenos truques e aves cantando, assobiando ou até mesmo dançando ao ritmo de músicas famosas. A verdade é que muitas descobertas sobre a inteligência dos pássaros foram feitas apenas recentemente e, por mais que alguns donos de aves já soubessem do que elas são capazes, muitas ainda não haviam sido comprovadas cientificamente.
Para outras pessoas, no entanto, as aves não parecem ser animais muito espertos, principalmente se pensarmos em pombos e galinhas. Porém, até mesmo os pombos têm uma grande inteligência.
Várias pesquisas que sugerem que os pombos possuem o melhor sentido de orientação dentre todos os animais, tendo a habolidade de localizar seus lares a mais de 1.000 km de distância. Algumas pesquisas indicam que se localizam sentindo o campo magnético da terra ou através da navegação olfativa, espacial e visual. Outra pesquisa também sugere que os pombos se localizam usando infrassom (ondas sonoras tão graves que os humanos não conseguem ouvir).
As galinhas não ficam muito atrás quando se trata de inteligência, elas são capazes de contar, mostrar certo nível de autoconsciência e até mesmo manipular umas às outras. Várias pesquisas sobre a inteligência das galinhas ainda estão em andamento, por exemplo, para saber se as galinhas sentem empatia quando outras aves do grupo ou seus pintinhos estão em perigo, essa observação poderá levantar sérias questões sobre a maneira como são criadas.
A percepção das galinhas como animais inconscientes e não inteligentes é motivada em parte por rejeitarmos sua inteligência e sensibilidade pelo fato de muitos de nós as comermos. A incômoda verdade sobre as galinhas é que elas são muito mais avançadas do ponto de vista cognitivo do que muitas pessoas podem imaginar.
Diversos pássaros mostram diferentes tipos e níveis de inteligência. Alguns como os beija-flores conseguem lembrar de todos os locais onde há flores com néctar. Ou seja, eles não apenas saem voando até encontrarem uma flor e sim, memorizam onde todas elas estão em cada época do ano.
Já o chapim-azul pode aprender com outros membros do bando a fazer coisas inéditas com grande facilidade. Por exemplo, em 1921, na Inglaterra, após um chapim-azul descobrir como abrir uma das garrafas de leite que eram entregues na porta dos residentes, vários casos de chapins-azuis fazendo o mesmo foram constatados em todo o país.
Isso levantou a hipótese (posteriormente comprovada) de que são capazes de transmitir conhecimento de uns para os outros. Em outro estudo, foi comprovado que os chapins conseguem se lembrar onde esconderam sua comida por até seis meses.
Já os gaios, como o Aphelocoma californica, são capazes de planejar o futuro, o que até então era afirmado que somente os humanos seriam capazes. Outro comportamento notável destes pássaros é que eles se lembram o quê, como e onde guardaram sua comida e quais outros pássaros estavam por perto; assim eles podem vigiar seus estoques para que outros pássaros não os roubem.
Um clássico exemplo da inteligência das aves, são os psitaciformes, aves do grupo dos papagaios, araras , cacatuas e periquitos , mas os papagaios estão entre os poucos que conseguem espontaneamente imitar outros animais.
Isso acontece porque o cérebro dessas aves é estruturado de maneira diferente das aves canoras e possuem áreas responsáveis pelo aprendizado vocal. Também foi sugerido que essas regiões do cérebro mostram alguns padrões especiais que podem explicar por que alguns psitaciformes também conseguem aprender a dançar, algo que nem mesmo nossos parentes chimpanzés são capazes.
Porém, não podemos falar da inteligência das aves, sem falarmos da família de aves mais inteligentes que existem, os corvídeos. Fazem parte dessa família as gralhas , pegas, gaios e claro, os corvos.
Diferentes espécies possuem diferentes habilidades, foi comprovado que os pegas-europeus, por exemplo, possuem autoconsciência – ou seja, reconhecem a si mesmos como indivíduos.
Os corvos são capazes de sentir empatia e tristeza. Podem reconhecer rostos e expressões humanas, consentir baseados na vontade do grupo, se adaptar facilmente e reconhecer os membros do grupo por sexo, idade e dominância – além de atualizarem estas informações constantemente.
Uso de ferramentas
Durante muito tempo o uso de ferramentas era considerado uma característica exclusiva dos humanos, porém esse ponto de vista antropocêntrico vem sendo gradualmente desconstruído, já que o comportamento foi observado em vários animais, incluindo as aves.
O propósito de cada ferramenta pode variar dependendo da ave, e são normalmente usadas para auxiliar a alimentação servindo como isca ou para a manutenção corporal.
Alguns estudiosos, como o psicólogo comparativo Benjamin B. Beck, definem o uso de ferramenta como Um objeto usado como extensão do corpo
. Portanto, quando o abutre-do-egito joga pedras sobre ovos de avestruzes para conseguir quebrá-los facilmente, ou quando o socózinho usa iscas para poder capturar peixes – são, na verdade, proto-tecnologias e não ferramentas de fato.
No entanto, outras aves realmente usam ferramentas como extensão do corpo. Há relatos de papagaios-do-mar segurando gravetos para se coçarem e pica-paus-cinzentos usando lascas de madeira como alavanca para levantar a casca das árvores e alcançar os insetos escondidos. Já as araras-azuis, enrolam nozes em folhas para mantê-las no lugar e usam galhos ou pedras para abri-las.
Os corvos da Nova Caledônia possuem mais habilidade do que os chimpanzés para produzir ferramentas. A fabricação envolve um processamento cerebral considerável e requer muita destreza. Além de desenvolverem diferentes ferramentas, também possuem diferentes técnicas de fabricação em dependendo do local — provavelmente para atender às necessidades específicas da busca por comida.
Normalmente, usam gravetos para “pescar” larvas e besouros de fendas em troncos — tarefa que requer um grande controle motor. Também podem executar tarefas de várias etapas para conseguir alimentos, como juntar gravetos para criar uma vara mais longa ou moldar ganchos em suas pontas, se assim for necessário.
De acordo com um estudo de 2012 da Universidade de Cambridge, em um teste de deslocamento de água, os corvos tiveram um desempenho que até então apenas crianças de 7 a 10 anos conseguiram completar com sucesso. Ou seja, em determinadas áreas, corvos podem ser tão inteligentes quanto crianças de 7 anos.
Cada espécie de pássaro tem seu destaque em alguma área da inteligência. É cientificamente comprovado que as aves podem contar, fazer planos, ter noção de probabilidade, sentir empatia, se localizar até melhor do que muitas pessoas, criar ferramentas, dançar e transmitir novos conhecimentos.
A grande variedade nas habilidades cognitivas das aves estão relacionadas com o tempo de desenvolvimento dos filhotes. Aves como as galinhas, que já nascem prontas para procurar alimento, costumam ter inteligência mais baixa. Da mesma forma, as aves migratórias possuem cérebros menores devido ao gasto de energia e o tempo de desenvolvimento que afetariam as viagens de longa distância.
Em contrapartida, pássaros como psitacídeos, corvídeos, aves de rapina e muitas outras espécies criadas em seus ninhos e alimentadas por seus pais durante determinado tempo, têm um período maior de desenvolvimento, o que faz com que sua inteligência seja mais alta.
Além disso, várias aves são capazes de se adaptar para conseguir se alimentar ou fazer seus ninhos com materiais incomuns, porém mais práticos. Essa capacidade de adaptação é uma grande habilidade que pode determinar as chances de uma espécie entrar em extinção ou não.
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