Os vários tipos de bicos das aves
O Brasil é o terceiro país com a maior diversidade de aves, com cerca de 1.971 espécies registradas até o momento, sendo que aproximadamente 293 são encontradas exclusivamente no Brasil. As aves ocupam praticamente todos os nichos ecológicos disponíveis. Tamanho sucesso e variedade vem acompanhados das mais diversas características comportamentais e físicas adaptadas para o modo de vida de cada espécie. O bico das aves é uma das principais estruturas que se adaptaram segundo a capacidade de explorar o ambiente e técnicas usadas para a captura e apreensão de alimentos.
Os bicos das aves podem variar conforme o canto, as formas de defesa, a termorregulação e principalmente, aos hábitos alimentares. Portanto, há pássaros com bicos de apenas alguns milímetros até aves com bicos enormes como os tucanos e colhereiros. Através de estudos observacionais do bico de cada ave, podemos classificá-las em dois grupos: as generalistas e as especialistas.
As aves generalistas como os bem-te-vis , gralhas e pombos por exemplo, são onívoras e consomem os mais variados tipos de alimentos, comendo frutas, insetos, aracnídeos, pequenos anfíbios, mamíferos, répteis, peixes e até mesmo, filhotes de outros pássaros.
Já as aves especialistas, são as que pelo menos 50% de sua dieta é baseada em um tipo específico de alimento. Dentro dessa categoria estão as aves:
Insetívoras
São aves que se alimentam principalmente de insetos. A maioria dos pássaro com essa dieta possui o bico fino e relativamente pequeno como a andorinha e o urutau. Apesar de o pica-pau também ser insetívoro, seu bico evoluiu de uma maneira diferente, sendo grosso e resistente para quebrar casca das árvores, e sua enorme língua – até 5 vezes maior que seu bico – ajuda a alcançar os insetos escondidos.
Frugívoras
São as aves comem frutas, como araras e papagaios . Possuem o bico curvo e forte para quebrarem frutos e sementes duras. Os tucanos, no entanto, se alimentam de frutos pequenos e macios, portanto, não precisam de bicos fortes para quebrar cascas e sementes. Em vez disso, seu bico é grande e leve, perfeito para alcançar os frutos nas pontas dos galhos de difícil acesso.
Piscívoras
São aves como as garças e biguás que se alimentam principalmente de peixes e outros animais aquáticos. Seus bicos finos e longos são adaptados para alcançar e capturar suas presas com mais facilidade. Algumas aves que fazem parte dessa categoria, também possuem pequenas serrilhas em seus bicos que as ajudam a impedir que o peixe escape.
Além do bico, diferentes famílias de aves desenvolveram diferentes técnicas de caça. Enquanto as garças e socós longa anatomia para poder capturar os peixes enquanto mantêm o corpo fora da água, os biguás e biguatingas desenvolveram pés palmados e penas permeáveis que os permitem mergulhar e nadar com extrema facilidade e capturar suas presas.
Filtradoras
São aves como os flamingos e colhereiros que se alimentam de pequenos peixes, crustáceos, insetos, algas e moluscos. Seus bicos possuem uma espécie de peneira adaptada para filtrar apenas o alimento entre os resíduos do fundo dos rios e lagos.
Limícolas
Aves filtradoras e limícolas podem se alimentar dos mesmos animais, a diferença está em como essa captura é feita. São, por exemplo, os maçaricos, batuíras e as narcejas que vasculham a areia e a lama com seus bicos finos, compridos e suas pernas altas que os mantêm fora d’água enquanto procuram por pequenos crustáceos que ficam enterrados.
Cada família possui bicos de tamanhos varidos que os ajudam capturar crustáceos em diferentes profundidades, permitindo que várias espécies coexistam. Algumas dessas aves possuem um sistema sensorial na ponta do bico chamado “tato-remoto” esse sensor, faz com que detectem os crustáceos enterrados na lama com mais facilidade. A maioria destas espécies são migratórias e associadas a ambientes aquáticos, ocorrendo desde a costa até o interior.
Carnívoras
São as aves de rapina como os falcões, águias e gaviões que caçam outros animais e possuem bicos adaptados para rasgar a carne de suas presas. O gavião-caramujeiro, no entanto, possui um bico consideravelmente mais curvo dos que os outros de sua família. Essa é mais uma adaptação de acordo com seus hábitos alimentares, já que um bico maior e mais curvo torna a tarefa de tirar os caramujos (sua principal fonte de alimento) de dentro de suas conchas, muito mais fácil.
Carniceiras
Ao contrário das aves carnívoras, as carniceiras não caçam sua presa, mas se alimentam de animais que encontram já mortos. Seus bicos em forma de gancho também são adaptados para rasgar a carne assim como as aves carnívoras, porém não costuma ser tão forte quanto os das aves de rapina e rasgar o couro duro dos animais pode ser uma tarefa mais difícil.
Nectarívoras
São aves como as cambacicas e os beija-flores que se alimentam principalmente de néctar. Seus bicos alongados facilitam alcançar o néctar no fundo das flores. O bico pode variar em comprimento e curvatura dependendo da espécie, se adaptando aos diferentes tamanhos e formas das flores.
Granívoras
São as aves comedoras de matéria vegetal como gramíneas e pequenas sementes – como os canários , pardais e tizius. Possuem um bico triangular, onde as bordas cortantes descascam as sementes.
As aves especialistas, geralmente são as mais afetadas por mudanças climáticas e alterações ambientais feitas pelos humanos. Por mais que não se alimentem de um único tipo de semente ou grão, a falta de certos componentes em sua dieta pode causar a insuficiência dos nutrientes necessários para sua subsistência.
O motivo de mais de 236 espécies estarem ameaçadas de extinção, é devido – em grande parte, à perda de habitat. Isso significa que os elementos que essas aves precisam para se alimentarem ou construírem seus ninhos, estão cada vez mais escassos, impedindo que as espécies prosperem adequadamente.
Leia mais em:
Lista comentada das aves do Brasil pelo Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos – 2ª edição