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O passado nebuloso dos cães

Os cães possuem uma relação mais próxima com os humanos do que qualquer outro animal, e durante milhares de anos têm sido o melhor amigo do homem. Dispersos por todo o mundo, não foram apenas os primeiros grandes carnívoros a serem domesticados, como também os únicos que seguiram os humanos e se adaptaram a diversos ambientes em um período relativamente curto.

Porém, até hoje, seu passado é uma incógnita. Pesquisadores de todo o mundo, têm tentado desvendar quando e como os cães foram domesticados e quando se divergiram de seus ancestrais. Afinal, ao contrário do que se pensava, os cães não descendem do lobo cinzento. Na verdade, é provável que tanto cães quanto lobos tenham se separado simultâneamente de uma única espécie de lobo ancestral — já extinta.

Além disso, os cães primitivos deveriam ser fisicamente muito semelhantes aos lobos, portanto, seus fósseis seriam difíceis de serem distinguidos, já que as principais características físicas usadas para diferenciar os cães domésticos dos lobos (como tamanho e proporção dos dentes e do crânio), ainda não eram evidentes durante as fases iniciais do processo de domesticação.

Segundos pesquisas, a divergência genética (divisão) entre seus ancestrais e cães modernos ocorreu rapidamente, de modo que não é possível dizer com exatidão quando a separação entre cães e lobos ocorreu. Essa divisão se tornou ainda mais complicado devido ao cruzamento entre cães, lobos e coiotes durante toda a trajetória de domesticação.

Outro tema bastante controverso entre a comunidade científica está relacionado às regiões onde ocorreram as divergências genéticas entre cães e lobos. No entanto, uma das propostas mais aceitas indica que os cães se originaram no sudeste da Ásia e no Oriente Médio, onde cruzamentos com os canídeos da região contribuíram significativamente para que as raças caninas modernas surgissem.

Origem da domesticação

Dingo. Canídeo de porte médio com a pelagem curta e macia, espessa na cauda, podendo variar em espessura e comprimento de acordo com clima. As populações do norte da Austrália tendem a ser maiores em tamanho que aquelas existentes no sul.

Dingo — Habita a Austrália há cerca de 4 mil anos. Ainda não há consenso se é um lobo ou uma espécie distinta de canídeo. Imagem de Tim Williams via flickr

Perguntas sobre quando, onde e quantas vezes esses cães primordiais foram domesticados têm sido tema de debate entre geneticistas e arqueólogos por décadas. Anteriormente, pensava-se que os cães começaram a ser domesticados quando os humanos formaram sociedades agrárias. Porém, estudos recentes mostram que a domesticação é muito mais antiga do que se imaginava.

Análises genéticas de fósseis mostram que os canídeos têm sido próximos aos humanos desde a última Era do Gelo, junto a caçadores-coletores. Uma das teorias mais aceitas está relacionada a alguns indivíduos terem sido atraídos por fogueiras humanas — devido ao cheiro de carne, ossos e restos de animais descartados.

Provavelmente, eram mais atraídos para os acampamentos os menos agressivos, os membros mais fracos das matilhas e os que toleravam mais facilmente níveis de estresse elevados. Além disso, eram menos cautelosos perto de humanos e, portanto, melhores candidatos para domesticação.

Mas, o que tornou possível sua domesticação foi principalmente seu notável comportamento social. Além disso, durante esse período, caçar junto aos cães facilitava a busca por presas. Essa prática foi o que originou a teoria de como surgiram os primeiros cães pastores, já que esses animais, seguiam os rebanhos com os humanos, caçando os indivíduos mais fracos e solitários.

Uma segunda fase de domesticação envolveu o desenvolvimento da agricultura há cerca de 10 mil anos, quando iniciaram um estilo de vida mais sedentário.

Apesar disso, definir onde exatamente os primeiros cães foram domesticados continua sendo um desafio. As diminuições populacionais, expansões, extinções locais, substituições, e uma mistura genética entre cães, lobos e coiotes antigos e modernos, dificultam muito os esforços dos geneticistas para compreender onde, quando e quantas vezes os cães foram domesticados.

No entanto, as conclusões gerais até o momento sugerem que os cães foram domesticados mais de uma vez em uma ou mais populações de canídeos , provavelmente na Europa, no Ártico, e/ou na Ásia Oriental.

Início da diversificação de raças

Cão da raça dálmata, deitado, com olhos fechados e a língua para fora com uma expressão feliz.

Os registros mais antigos sobre os dálmatas indicam que surgiram na Croácia por volta dos anos 1.600. Imagem de Aaron Gaines via flickr

Sendo os cães originários da Ásia e Oriente Médio, ao se espalharem pelos outros continentes, contribuíram para a diversificação genética — primeiramente para os cães da Sibéria e posteriormente, para populações cada vez mais longínquas na Europa e nas Américas.

Análises genéticas recentes demonstraram que as várias raças de cães estão frequentemente relacionadas com a dispersão de grupos humanos em tempos e lugares diferentes, resultando numa grande divergência de seus antepassados e no aparecimento de cães com uma ampla variedade de características físicas.

Depois da domesticação, e principalmente nos últimos 200 anos, os cães passaram por uma grande propagação e variação de raças através da seleção artificial. Consequentemente, hoje temos desde cães minúsculos que cabem dentro de chaleiras até cães enormes que podem até mesmo ser confundido com ursos — além de poderem ser separados em vários grupos, com diferentes comportamentos.

Há inclusive uma variedade muito grande nas proporções do corpo e da cabeça: desde o dachshund com seu corpo alongado, pernas curtas e crânio dolicéfalo , até o malamute-do-alasca com sua aparência que tanto nos lembra dos lobos. Dessa forma, observam-se como os cães se destacam como uma das espécies mais diversas em todo o mundo.

Apesar de todo o tempo investido em aperfeiçoar e modificar as atuais raças caninas, sua origem continua controversa. Porém, a melhor forma para esclarecermos o passado dos cães é continuarmos investindo em pesquisas genéticas tanto dos canídeos contemporâneos quanto dos antigos.

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