Tudo Sobre Animais

Pacas, pacaranas, cutias e cutiaras

Para muitos, as pacas, pacaranas, cutias e cutiaras podem ser animais muito parecidos, sendo frequentemente confundidos entre si. Todos eles fazem parte de um mesmo grupo chamado Caviomorpha, mas fazem parte de famílias diferentes, o que os tornam facilmente identificáveis. Conhecer a diferença entre esses animais é uma importante maneira de aprender sobre eles, valorizar a fauna local e ajudar na sua preservação.

Paca (Cuniculus paca)

Cuniculus paca

Paca. Imagem de Marcos Antonia Vieira de Freitas sob a licença CC BY SA 4.0 via Wikimedia Commons

São grandes roedores com pelos que variam do cinza-escuro ao vermelho, sempre com pintas brancas alinhadas nas laterais do corpo. Possuem garras grandes e afiadas que as ajudam a cavar suas grandes tocas em locais úmidos e próximos a rios florestais, onde passam quase todo o dia dormindo e saindo apenas durante a noite.

As pacas (assim como alguns marsupiais, morcegos e primatas) possuem um comportamento chamado “fobia lunar” que as fazem evitar ambientes muito iluminados pela luz da lua. Saindo para procurar comida preferencialmente durante as noites de lua minguante, quando o céu está mais escuro — parecendo ser mais seguro para procurar folhas, flores e — especialmente — frutas caídas.

Durante esse período, as pacas podem caminhar até 14 km durante uma mesma noite em busca de alimento, e usam sua excelente memória para percorrer apenas os caminhos mais seguros em que já passaram.

Apesar de seu corpo aparentemente atarracado, as pacas são muito ágeis e possuem ótimos sentidos. Estão a todo tempo alertas e são extremamente tímidas e meticulosas — sempre correndo e se escondendo ao ouvir qualquer barulho ou aproximação suspeita. Por nadarem muito bem, podem mergulhar e ficar submersas durante vários minutos; se necessário, podem até mesmo usar bolsões de ar.

É considerada um dos principais dispersores de sementes de médio porte. Além disso, cumprem um papel essencial na cadeia alimentar, sendo uma das presas mais importantes para grandes predadores, como pumas e onças-pintadas .

Costuma ser alvo de caçadores por sua carne muito apreciada. Apesar disso, com exceção do Paraná, não é considerada como espécie em risco de extinção. Ainda que a caça e a captura de pacas seja proibida, podem ser criadas em cativeiro com a devida autorização do Ibama.

Pacarana (Dinomys branickii)

Pacarana Dinomys branickii

Pacarana (D. branickii) via Wikimedia Commons

A pacarana é o terceiro maior roedor do mundo, logo após a capivara e o castor. Seu nome significa “falsa paca” ou “parecido a uma paca”. Apesar de à primeira vista serem parecidas, as pacaranas fazem parte de uma família completamente diferente e podem ser facilmente diferenciadas pela presença de sua longa cauda, coloração escura e terem a cabeça e o corpo mais robustos. Além disso, costumam ser mais pesadas e um pouco maiores do que as pacas.

As pacaranas também vivem próximas à água e possuem um interessante sistema de tocas e túneis: cada família usa até oito tocas. Em uma área à parte, ficam as latrinas e, separadamente, o local em que se alimentam de várias folhas e caules. Cada toca possui várias saídas e cada área (as tocas, as latrinas e o local de alimentação) estão conectados por diversos túneis subterrâneos.

Por andarem devagar mesmo quando saem para comer durante a noite, não costumam fazer longas caminhadas. Sempre se alimentam com o que há nas redondezas e, quando a comida fica escassa, o grupo se muda. Apesar de construírem e viverem em tocas, são ótimas escaladoras e as pacaranas que vivem em cativeiro preferem subir em árvores para dormir.

Assim como as pacas, são excelentes dispersoras de sementes e também ajudam a controlar o crescimento excessivo de certas plantas. Além disso, também são um importante item alimentar de predadores. As pacaranas sempre foram animais raros, sendo avistadas com tão pouca frequência que em algumas ocasiões foi cogitada sua extinção.

Por sua reprodução lenta, caça ilegal e perda de habitat, estão vulneráveis à extinção. No Brasil, são encontradas apenas no Acre e região oeste do Amazonas.

Cutia (Dasyproctidae sp.)

Cutia Dasyprocta leporina

Cutia. Imagem de Doug Greenberg sob a licença CC BY NC 2.0 via flickr

Diferentemente das pacas e pacaranas, as cutias não possuem pintas e são menores, pesando no máximo 7 kg e medindo até 70 cm de comprimento. Existem cerca de sete espécies de cutias espalhadas pelos biomas de todo o Brasil, diferindo principalmente pela cor do pelo — que pode variar desde o dourado, ao vermelho e marrom escuro.

As cutias são muito tímidas e ágeis, ao menor sinal de perigo correm tão rápido que podem despistar predadores e caçadores facilmente. Tamanha habilidade se dá devido às suas pernas traseiras serem maiores e mais fortes do que as frontais. Essa característica também as torna ótimas saltadoras, sendo capazes de alcançar 2 metros de altura.

Em regiões em que não sofrem perseguição, são ativas durante todo o dia; mas em áreas de risco, são vistas apenas em horários crepusculares. Habitam tocas que constroem sob raízes, árvores caídas ocas e barrancos. Costumam viver em pares, porém podem se reunir em grupos de até 100 indivíduos para se alimentar de folhas, raízes e principalmente de frutas caídas.

Possuem tão boa audição que conseguem encontrar frutas apenas por ouvi-las cair das árvores. Quando armazenam comida, costumam enterrar frutas e nozes para os meses de escassez. Ao fazer isso, as cutias acabam por plantar centenas de sementes, sendo grandes dispersoras de árvores frutíferas.

O desmatamento e caça ilegal são as principais ameaças à existência desses animais. Como forma de conservação, são frequentemente mantidas em cativeiro por organizações como o Núcleo de Estudo e Preservação de Animais Silvestres (Nepas)

Cutiara (Myoprocta sp.)

Cutiara

Cutiara (M. pratti). Imagem de Paul Korecky sob a licença CC BY SA 2.0 via flickr

De todos os animais aqui mencionados, a cutiara (ou cutiaia) é provavelmente o menos conhecido. As cutiaras fazem parte da mesma família das cutias, mas pertencem a outro gênero. Apesar de serem frequentemente confundidas, as cutiaras são menores — com apenas 35 cm e 1,5 kg. Além disso, a forma mais fácil de identificá-las é por possuírem uma pequena cauda de no máximo 7 cm com um tufo na ponta — já as cutias praticamente não têm cauda.

Existem duas espécies que habitam a região Norte do Brasil, em boa parte da Floresta Amazônica. A diferença mais evidente entre ambas é a sua coloração: a cutiara-vermelha (Myoprocta acouchy) é vermelha com o dorso negro, e a cutiara-verde (Myoprocta pratti) possui uma mistura de pelos marrons, vermelhos e dourados intercalados, o que pode dar a impressão de ter uma coloração esverdeada.

Costumam dormir em árvores caídas ocas próximas aos rios e não cavam suas tocas, vivendo nas tocas que encontram já cavadas por outros animais (principalmente, tatus). São animais solitários e diurnos. Alimentam-se principalmente de insetos e frutas que ouvem cair das árvores.

Apenas nas últimas décadas a cutiara foi descrita como um gênero à parte das cutias e não como uma subespécie destas. Sabe-se muito pouco sobre esses animais, e estudos sobre suas populações e estado de conservação ainda precisam ser feitos.


Os roedores caviomorfos são grandes dispersores de sementes, e garantem a manutenção e regeneração da flora local. Apesar de sua importância ecológica, existem lacunas de conhecimento sobre sua ecologia e dos efeitos de atividades humanas em sua conservação.

Por algumas espécies terem um número reduzido de indivíduos e devido ao seu comportamento arisco, é um desafio aos pesquisadores obter mais informações sobre esses animais em seu habitat. Mais estudos sobre suas classificações taxonômicas, ecologias, ameaças e formas de preservação precisam ser feitos para podermos entender melhor sobre nossa fauna, flora e como conservá-las.

Leia mais em:

Uso de Habitat e Ocorrência de Roedores Caviomorfos na Amazônia Central, Brasil

Acouchy

Dasyprocta azarae - Azara’s Agouti

Descrição das categorias de comportamentos do Dasyprocta prymnolopha em condições de cativeiro

Registro de Dasyprocta Prymnolopha Em Fragmento de Mata Urbana Em Belo Horizonte, Minas Gerais e Dados básicos de Dieta

Multiscale patterns of habitat and space use by the pacarana Dinomys branickii: factors limiting its distribution and abundance

Composición Botánica y Nutricional de La Dieta de Dinomys Branickii (rodentia: Dinomyidae) En Los Andes Centrales de Colombia

Paca: Que animal é esse? Vamos conhecer esse animal que tem hábitos noturnos

Influência do Ciclo Lunar no Padrão de Atividade de Cuniculus Paca (rodentia: Cuniculidae) Em Uma Floresta de Mata Atlântica no Sul do Brasil

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