Simbiose: Relações interespecíficas

Todos os animais e plantas conhecidos possuem algum tipo de interação com organismos de outras espécies, sejam outros animais, bactérias ou fungos. Este relacionamento, que pode ou não ser benéfico para ambos, é chamado de simbiose.¹ A simbiose pode ocorrer de muitas formas, podendo ser separadas a partir de onde o organismo simbionte vive, como ele alcança e qual é sua dependência com o organismo com o qual tem a relação simbiótica.

Onde vivem?

Existem duas formas diferentes desses dois organismos interagirem – a endossimbiose e a ectossimbiose. A endossimbiose ocorre quando um organismo vive dentro de outro. Esta interação é normalmente associada a microrganismos e a vermes mas, não necessariamente a seres que causam mal ao hospedeiro.

A bioluminescência produzida por muitas espécies de lulas, por exemplo, é na verdade, produzida pela reação química que ocorre no corpo de bactérias que se alojam nas células das lulas assim que elas nascem, e não trazem problema algum para a saúde do animal.

Apesar de a endossimbiose ser a interação simbiótica mais comum, não é tão aparente quanto a ectossimbiose, na qual a interação acontece a partir de um ambiente externo. Alguns exemplos incluem as cracas, peixes limpadores e algumas espécies de passarinhos.

Transmissão vertical e horizontal

Os organismos podem iniciar sua interação a partir de dois métodos adaptados ao estilo de vida de cada ser:

A transmissão vertical é muito comum em microrganismos e vermes. Ocorre quando o hospedeiro se reproduz e transmite os simbiontes diretamente a sua prole durante a gestação. Ou seja, transmissão vertical é quando a interação entre os organismos é iniciada desde antes do nascimento do hospedeiro.

A transmissão horizontal, no entanto, ocorre após o nascimento e a partir de um ambiente externo², como nos exemplos de ectossimbiose citados anteriormente.

Eles ficam juntos para sempre?

Organismos simbiontes nem sempre dependem totalmente um do outro para sobreviver, portanto, nem sempre precisam estar juntos o tempo todo. Um gavião-carrapateiro, por exemplo, pode ou não se alimentar dos insetos e carrapatos alojados no corpo de outros animais. Da mesma forma, estes animais (normalmente grandes ungulados) não dependem obrigatoriamente de pássaros como o gavião-carrapateiro para sobreviver. Relações simbióticas como a do gavião-carrapateiro e dos animais com os quais interage é opcional (ou facultativa).

Porém, há casos em que um ou mais dos simbiontes dependem completamente do outro para sobreviver. Muitos endossimbiontes mantêm relações obrigatórias, como as bactérias que vivem no estômago dos herbívoros e decompõem a celulose das plantas.

Tipos de simbioses

A definição do que é exatamente a simbiose e como classificá-la foi motivo de debate por mais de um século. Apesar das muitas teorias e mudanças realizadas durante anos, atualmente há três principais classificações que distinguem os tipos de simbiose.

Mutualismo

Mutualismo é uma relação de longo prazo entre organismos de diferentes espécies onde ambas as partes são beneficiadas. As relações mutualísticas podem ser obrigatórias para ambos os organismos; obrigatórias para um, mas facultativa para o outro ou facultativa para ambos.

Os peixes-palhaços que vivem entre os tentáculos das anêmonas-do-mar possuem um muco especializado que os protege dos tentáculos urticantes das anêmonas. Assim, o peixe consegue proteção contra seus predadores e mantém os tentáculos limpos e livres de pequenos parasitas dos quais se alimenta.

Já o peixe goby mantém uma relação mutualística vivendo em tocas junto a camarões. Pelo camarão ser quase cego, depende do peixe para ficar de olho aos arredores. Em caso de perigo, o peixe toca o camarão com a cauda para avisá-lo que devem entrar na toca. Assim, ambos se mantêm seguros, já que o goby se protege na toca do camarão, e o camarão se beneficia do olhar atento do peixe.

O mutualismo desempenha um papel fundamental na ecologia e evolução, sendo vital para cerca de 80% das espécies de plantas terrestres que dependem de associações com fungos em suas raízes para aumentar a absorção de nutrientes. Os fungos ajudam as plantas a absorver nutrientes e as plantas alimentam os fungos com produtos de sua fotossíntese.³

Comensalismo

O comensalismo ocorre quando um dos organismos se beneficia e o outro não é substancialmente prejudicado ou beneficiado⁴. O comensal (espécie que se beneficia da associação) pode obter nutrientes, abrigo, suporte ou locomoção da espécie hospedeira.

A relação comensal é muitas vezes entre um hospedeiro maior e um comensal menor; como as rêmoras, que se agarram aos corpos dos tubarões com sua nadadeira dorsal que se transformou em uma espécie de ventosa. Assim, a rêmora é transportada e se alimenta do que o tubarão descarta sem prejudicá-lo e sem beneficiá-lo⁵.

Como todas as interações ecológicas, os comensalismos variam em intensidade e duração, podendo durar desde interações breves até a vida toda. A partir disso, as interações comensais podem ser classificadas de três formas:

Forésia: quando um animal está ligado a outro exclusivamente para transporte. É usado principalmente por artrópodes , como os ácaros em insetos, pseudoescorpiões em mamíferos ou besouros e milípedes em pássaros. A forésia pode ser obrigatória ou facultativa e induzida por condições ambientais.

Inquilinismo: é o uso de um segundo organismo para habitação permanente. Exemplos são várias espécies de orquídeas que crescem em árvores, ou pássaros que vivem em buracos nas árvores.

Metabiose: é uma dependência mais indireta, onde um organismo cria ou prepara de forma não intensional um ambiente adequado para um segundo organismo, como os caranguejos eremitas que usam as conchas de caracóis para proteger seus corpos.

Parasitismo

O parasitismo é uma relação biológica de longo prazo entre um parasita e seu hospedeiro. Nessa interação o parasita (que pode ser um endo ou um ectoparasita) se favorece enquanto o hospedeiro é negativamente afetado. Aproximadamente 40% de todos os animais são parasitas⁶, o que demonstra ser um modo de vida muito bem-sucedido.

Alguns exemplos de animais parasitas são os piolhos, carrapatos e mosquitos sugadores de sangue. Em vertebrados, um dos maiores exemplos de animal parasita são os cucos que botam seus ovos no ninho de outros passarinhos. Enquanto o filhote de cuco é alimentado pelos pais adotivos, os filhotes biológicos frequentemente acabam morrendo.

Parasitas de animais se reproduzem em um ritmo mais rápido do que seus hospedeiros, e os exploram em busca dos recursos necessários para sua sobrevivência, em particular alimentando-se deles. Cochonilhas, pulgões e lagartas são ectoparasitas que se alimentam de plantas muito maiores; como cochonilhas fêmeas não podem se mover após se fixarem em uma planta, são exemplo de parasitas obrigatórios, permanentemente ligados aos seus hospedeiros. Além disso, podem servir como vetores de bactérias, fungos e vírus que causam doenças em plantas.⁷

Embora sejam costumeiramente considerados nocivos, a erradicação de todos eles não seria benéfica. Os parasitas desempenham importantes papéis ecológicos, representando pelo menos metade da diversidade da vida na Terra.

Apesar de serem frequentemente omitidos nas representações das cadeias alimentares, os parasitas servem de alimento para vários animais, diminui a competição de alimentos e ajudam a manter a coexistência de espécies⁸. Podem também, ajudar a manter o controle populacional de diversas espécies, mas da mesma forma, podem dizimar populações inteiras se seu crescimento estiver fora de controle.

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