Tubarões da costa brasileira
Os tubarões estão entre os animais mais antigos da Terra, existindo desde o início do período Devoniano há cerca de 400 milhões de anos, ou seja, são 100 vezes mais antigos que o homem e surgiram 150 milhões de anos antes dos primeiros dinossauros .
Apesar de serem vistos como grandes e fortes predadores, com exceção da mandíbula, não possuem um único osso em seus corpos. Seu esqueleto é totalmente constituido de cartilagem – um material muito mais leve e flexível do que os ossos que aumenta sua velocidade e manobrabilidade.
Atualmente, existem cerca de 365 espécies das mais distintas formas e tamanhos. Algumas, como o tubarão-baleia, figuram entre os maiores peixes do mundo, enquanto outras são tão pequenas que cabem na palma da mão. Com tanta diversidade, cada um encontrou sua própria forma de viver, evitando competir pelos mesmos alimentos.
No Brasil, foram identificadas entre 80 e 90 espécies ao longo de toda a costa. Dentre elas, 37 estão sob diferentes níveis de ameaça de extinção ou são consideradas regionalmente extintas no Brasil. Algumas das espécies mais intrigantes e com os mais variados modos de vida fazem parte da nossa fauna.
Tubarão-cabeça-chata (Carcharhinus leucas)
Os cabeças-chatas medem cerca de 3 m de comprimento e são encontrados perto da costa de todo o Brasil, principalmente no Norte e Nordeste. Tem a habilidade de tolerarem água doce por certo período, sendo conhecidos vários registros de sua ocorrência ao longo do Rio Amazonas , incluindo um espécime encontrado na Amazônia peruana, cerca de 3000 km acima da foz.
Alimenta-se de peixes, inclusive tubarões menores (até mesmo da própria espécie), arraias e aves que pousam ou mergulham na água. Há registros de predação de animais terrestres em rios. Apesar de acidentes serem raríssimos, é uma das principais espécies a atacar humanos.
Mesmo não sendo comparável em tamanho com o famoso tubarão-branco, a mordida do tubarão-cabeça-chata é a mais potente dentre todos os tubarões. A mordida do tubarão-branco chega a 950 N de força e a do cabeça-chata, a cerca de 600 N. Ou seja, apesar de os números absolutos serem maiores para o tubarão-branco, em valores relativos ao tamanho do próprio corpo, o tubarão-cabeça-chata é mais forte.
Tubarões-martelos (Sphyrna sp.)
Das oito espécies de tubarão-martelo, seis são encontradas no Brasil ao longo de toda a costa. A menor delas (S. tudes) mede cerca de 1 m e a maior (S. mokarran) geralmente possui cerca de 4,5 m. Porém, o maior tubarão-martelo já registrado possuía 6,1 m de comprimento.
Não se sabe ao certo porque sua cabeça tem esse formato – uma das hipóteses é que a cabeça com o formato semelhante ao de um martelo proporciona mais estabilidade durante o nado, já que os cabeça-de-martelo não possuem um equilíbrio tão bom quanto outros tubarões. Outra suposição é de que o formato permite virar a cabeça com mais velocidade.
Aassim como outros tubarões, os tubarões-martelo podem identificar variações na temperatura, salinidade, correntes elétricas através de campos magnéticos baixíssimos e até mesmo os batimentos cardíacos de pequenos peixes . No entanto, a capacidade de um tubarão-martelo detectar um pulso eletromagnético na água é 10 vezes superior à de outras espécies.
Outro fato interessante sobre esses tubarões foi recentemente descoberto: o tubarão-de-pala (uma espécie de tubarão-martelo) é o único onívoro, com mais de 50% de sua dieta sendo composta de erva-marinha . No entanto, os pesquisadores ainda não entraram em um consenso sobre o porquê. Enquanto alguns dizem ser uma ingestão acidental, outros afirmam que, pela grande quantidade, tal ingestão é proposital e talvez seja feita para proteger seu estômago das carapaças espinhosas dos siris-azuis que ingerem.
Embora sejam solitários à noite, durante o dia os tubarões-martelo jovens podem formar grupos com até 100 indivíduos. Os grupos com tubarões adultos, no entanto, costumam ser menores.
Suas barbatanas são extremamente valiosas no mercado asiático para fazer sopa e devido à pesca em grande escala, se tornou um dos tubarões mais ameaçados de extinção: a população em 2003 representava apenas 10% da quantidade estimada em 1986 – ano em que começaram a ser registradas.
Tubarão-boca-grande (Megachasma pelagios)
É uma espécie de águas profundas com avistamentos extremamente raros, portanto não é muito conhecido. Desde sua descoberta em 1976, apenas 68 indivíduos foram capturados ou avistados até 2015. Há apenas dois registros desse tubarão no oceano Atlântico, um no Senegal e outro no estado de Santa Catarina, em 1995. Apesar de seu grande tamanho – tendo o maior registrado até o momento 5,5 m, seu nado é surpreendentemente lento, alcançando cerca de apenas 2 km/h.
Assim como o tubarão-peregrino e o tubarão-baleia, alimenta-se filtrando plâncton e medusas enquanto nada com a sua grande boca aberta. Ao redor dela, encontram-se fotóforos – órgãos luminosos que provavelmente são usados para atrair suas presas.
Tubarão-baleia (Rhincodon typus)
O tubarão-baleia é sem dúvidas o maior peixe do mundo e também, um dos maiores animais – ficando atrás somente de algumas espécies de cetáceos. Atinge por volta de 10 m de comprimento, mas indivíduos com mais de 20 m já foram relatados. Não só isso, mas sua pele pode medir até 15 cm de espessura.
A boca de um tubarão-baleia tem cerca de 1,5 m de largura, e possui por volta de 350 fileiras de pequenos dentes usados para filtrar seu alimento – que são plânctons e pequenos invertebrados que possam ser sugados facilmente. Quando o plâncton é sugado, a água sai pelas brânquias e o alimento fica retido em seu interior (o mesmo processo acontece com o tubarão-boca-grande e peregrino). Um tubarão-baleia jovem precisa ingerir cerca de 20 kg de plâncton diariamente.
Costumam nadar em mar aberto, mas, em certas épocas do ano, se aproximam da costa em busca de mais plâncton. Geralmente são dóceis e não apresentam ameaça para os seres humanos, porém, devido ao seu tamanho descomunal, acidentes podem acontecer – portanto, é recomendado que mergulhadores não se aproximem demais.
Não existe atualmente uma estimativa sobre sua população, mas a espécie é considerada “Em Perigo” devido aos impactos causados pelas embarcações, pela pesca e por sua reprodução lenta.
Tubarão-peregrino (Cetorhinus maximus)
Também conhecido como tubarão-elefante ou tubarão-frade, é o segundo maior peixe conhecido – menor apenas que o tubarão-baleia. Geralmente, alcança os 5 m, mas há registros de indivíduos com mais de 10 m e pesando mais de 4 toneladas. Apesar de seu grande tamanho e sua boca com até 1 m de largura, esse tubarão se alimenta apenas de plâncton. Ao contrário dos tubarões-boca-grande e dos tubarões-baleia, os tubarões-peregrinos não procuram ativamente por comida, apenas nadam lentamente com a boca aberta e esperam que os plânctons sejam filtrados pelas suas brânquias.
Os tubarões-peregrinos passam cerca de 90% do tempo no fundo do oceano e apenas 10% na superfície, apesar disso, costumam ser vistos com certa frequência nas costas do Sul e Sudeste do Brasil, onde a água contém mais plâncton. Não obstante, esses tubarões não possuem interesse ou se incomodam com a presença de humanos.
Embora sejam geralmente solitários, muitos tubarões se juntam em determinadas épocas para acasalar, evitar predadores ou (como no caso do tubarão-peregrino), para se alimentar. Entre 1980 e 2013 foram feitos dez avistamentos desses tubarões em grandes grupos. Em 2013, no entanto, um grupo com quase 1.400 indivíduos foi visto no sul da Nova Inglaterra, no nordeste dos EUA.
Mesmo com esses números – assim como ocorre com muitos outros tubarões, o tubarão-peregrino encontra-se ameaçado de extinção devido à caça excessiva que sofreu no século XX. Atualmente, sua captura é proibida por lei em vários países.
Comumente vemos filmes falando sobre quão perigosos são os tubarões, porém se percebe que nem todos são assim. Além disso, nenhum tubarão ataca humanos por prazer, pois não fazemos parte de sua dieta natural. O fato é que a maioria dos tubarões não possui uma visão muito boa e se orientam principalmente detectando pulsos elétricos gerados pelo movimento, o que faz com que a movimentação das pessoas na água possa parecer com a dos animais que fazem parte de sua dieta, por exemplo, para um tubarão, surfistas nadando em suas pranchas podem se assemmelhar a focas, quando vistas de baixo.
Em meio a mais de 80 espécies de tubarões presentes na costa brasileira, apenas três são considerados perigosas para os humanos. Em 23 anos, 68 ataques de tubarão ocorreram no Brasil, principalmente em Pernambuco; a maioria não foi fatal. Ademais, é muito mais provável ser atingido por um raio do que atacado por um tubarão, o que ilustra quão excessiva é a má fama que damos a eles.
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