Felinos do Brasil
Conhecemos várias espécies de gatos domésticos e de alguns felinos selvagens, principalmente os que vemos na internet ou em documentários, como linces, leões, leopardos e tigres. Porém, na América do Sul também há uma grande variedade de felinos selvagens que você precisa conhecer! Todos nós já ouvimos falar dos dois maiores felinos do país — a onça-pintada e a onça-parda (também conhecida como suçuarana ou puma). Hoje, veremos alguns outros que habitam diversas áreas do país.
Gênero Leopardus
Na América do Sul e Central são oficialmente reconhecidas oito espécies de felinos selvagens do gênero Leopardus, e sete são encontradas no Brasil1. O grupo, no entanto, ainda precisa de mais estudos, dado que alguns taxonomistas sugerem que podem existir até treze espécies.
Os felinos deste gênero receberam o nome Leopardus como uma referência de a maioria ter pintas semelhantes às dos leopardos. Os leopardos e as onças, no entanto, pertencem ao gênero (Phantera) e apesar de suas pintas semelhantes, estão genéticamente muito distantes dos felinos do gênero Leopardus que tratamos neste texto.
Sua coloração similiar se deve à evolução convergente. Um processo evolutivo em que animais, sem grau de parentesco próximo, apresentam características físicas e comportamentais parecidas por viverem em condições ambientais semelhantes.
Várias espécies muito similares são chamadas de “gatos-do-mato” e muito pouco é conhecido sobre elas. Porém, é evidente que a maioria sofre risco de extinção por perda de habitat, atropelamentos, doenças transmitidas por cães e retaliação de fazendeiros que os matam para não atacarem suas galinhas.
1. Gato-do-mato-grande (L. geoffroyi)
É encontrado principalmente em campos da Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai. No Brasil, no entato, é encontrado apenas nos Pampas do Rio Grande do Sul. Costuma ser um pouco maior do que um gato doméstico, tendo de 78 a 95 cm de comprimento e pesando até 6 kg. Um comportamento muito interessante observado no gato-do-mato-grande, é que já foram vistos se levantando sobre as patas traseiras para olhar a área ao seu redor enquanto usam sua cauda como apoio, como um canguru.
Estão no topo da cadeia alimentar do ambiente que habitam, se alimentam principalmente de lebres, roedores, pequenos lagartos e ocasionalmente de peixes e sapos . Os machos, possuem territórios de até 12 quilômetros2.
Assim como muitos outros animais, os gatos-do-mato-grandes variam de tamanho e coloração conforme o lugar que habitam: os que vivem próximos à linha do equador (na Bolívia por exemplo) são menores e possuem tons mais quentes. Já os encontrados mais ao Sul do continente, costumam ser maiores e ter cores mais acinzentadas.
Seu nível de ameaça à extinção é considerada de maneira geral como “menos preocupante”, porém, nos Pampas é considerado vunerável por ser uma vítima frequente de atropelamentos e perseguido por caçar aves de fazendeiros.3
2. Gato-do-mato-pequeno (L. guttulus)
O L. guttulus foi considerado até 2013 como uma subespécie do L. tigrinus porém, depois de analisadas diferenças na tonalidade da pelagem, nas caudas, orelhas e no tamanho das manchas, passou a ser considerado uma outra espécie.4
Também conhecido como gato-tigre-do-sul. Pode ser encontrado em florestas e campos do Centro-Oeste, Sudeste e no Sul do país. Pesam de 1,5 Kg a 3 Kg e medem pouco mais de 80 cm até a ponta da cauda. Assim como a maioria dos pequenos felinos, se alimenta de pequenas aves, roedores e répteis .
O gato-do-mato-pequeno sofre com a perda e fragmentação de seu habitat, com a caça por retaliação, doenças transmitidas por cães domésticos e atropelamentos. Outro risco à espécie é sua hibridização com o gato-do-mato-grande, já que os filhotes nascem estéreis e incapazes de se reproduzirem.
Entre 2005 e 2014 houve uma queda de 50% na densidade populacional do gato-do-mato-pequeno. Foi estimado que se este declínio continuasse, seus números diminuiriam cerca de 10% nos próximos dez anos. A última avaliação do gato-do-mato-pequeno feita pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) foi em 2014. Nessa época, eram estimados cerca de 6 mil indivíduos.5
3. Gato-do-mato-do-norte (L. tigrinus)
É muito confundido com o gato-do-mato-pequeno, e até 2013 eram considerados como sendo da mesma espécie. É o menor felino do Brasil tendo o mesmo tamanho de um gato doméstico com 77 cm de comprimento e 2,5 kg em média. A maior parte de seu comprimento deve-se a sua longa cauda que equivale a 60% do tamanho de seu corpo.
Segundo a IUCN, habita o Cerrado, a Caatinga e em menor número, a Floresta Amazônica. No entanto, o gato-do-mato-do-norte é o felino mais dificil de ser avistado no Brasil. Sua dieta é composta principalmente de pequenos pássaros e lagartos.
Foi considerado em 2018 pelo Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção como “Em perigo”. Estima-se que entre 2016 e 2031, ocorrerá um declínio de pelo menos 36% de sua população no Brasil6, principalmente pela perda e fragmentação de habitat devido à expansão agrícola.
4. Jaguatirica (L. pardalis)
Também conhecida como ocelote, é o felino mais abundante na América do Sul. É encontrada desde a América Central até o norte da Argentina, com exceção do Chile. No Brasil, apenas não está presente nos Pampas. Se alimenta de principalmente de roedores de médio porte como pacas e cutias, mas, por ter uma dieta generalista, também pode se alimentar ocasionalmente de ungulados, aves, répteis peixes e até de primatas como bugios.7
As jaguatiricas toleram certo grau de degradação, porém, a fragmentação do habitat também causa a redução de suas presas. Apesar de ter sido considerada como “vulnerável” por muito tempo, é listada atualmente como “pouco preocupante” pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (UICN). Tal alteração em seu nível de ameaça é baseada em sua ampla distribuição geográfica e por habitar áreas de difícil acesso, como na Amazônia, onde se estima ter a maior população da espécie.
No entanto, em muitos estados fora da Floresta Amazônica o nível de classicação da subespécie L. p. mitis varia desde “vulnerável” até “criticamente em perigo”.
5. Gato-maracajá (L. wiedii)
É um felino muito característico por seus olhos grandes, sobressalentes e bem delineados que o ajudam a enxergar ainda melhor à noite. Apesar de ser menor que a jaguatirica, suas garras são maiores e possui uma cauda que equivale a 70% do tamanho de seu corpo, particularidades ajudam-no a se equilibrar e o tornam um grande escalador. Outro traço distintivo é ser um dos únicos felinos que conseguem virar os tornozelos a 180º e descer de árvores de ponta-cabeça, além disso, já foi observado imitando saguis e pássaros para atraí-los.
Pode ser encontrado desde a América-central até o Uruguai, porém, avistamentos nos pampas e na caatinga são raros.
Atualmente é classificado como vunerável à extinção no Brasil, e estima-se que nos próximos 11 anos, sua população diminua em 10% principalmente devido à perda de habitat em decorrência da expansão agrícola. Outros fatores de risco são: a tranmissão de doenças por animais domésticos, a caça por retaliação e atropelamentos.4
6. Gato-palheiro-do-pantanal (L. braccatus)
Diferentemente dos outros felinos, possui a pelagem parda, com pintas menos aparentes. suas patas e a ponta da cauda são pretas. Se alimenta de pequenos mamíferos , aves , lagartos , serpentes e insetos .
Habita o Pantnal e o Cerrado, podendo ser encontrado em campos até a borda de áreas de cultivos.4 É considerado vulnerável à extinção e é dificilmente avistado no Brasil.
7. Gato-palheiro-pampeano (L. fasciatus)
Assim, como o gato-palheiro-do-pantanal, faz parte das novas espécies recentemente propostas. É, portanto, um dos felinos mais desconhecidos do país. Há pouquíssimos dados sobre este felino e em muitos deles, é classificado como L. munoai.
Apesar de avistamentos serem raros, podem ser encontrados nos Pampas — principalmente próximos à fronteira do Uruguai. Sua pelagem é parda, semi-longa e costuma ser mais áspera do que a dos outros felinos, possui pintas não muito aparentes.
O gato-palheiro-pampeano está criticamente ameaçado de extinção devido a uma combinação do seu pequeno tamanho populacional,dristribuição limitada e perda de habitat. Além disso, outras ameaças que podem levar o gato-pampeano à extinção nos próximos anos são diretamente relacionadas ao homem como atropelamentos, perseguição por cães domésticos, caça retaliatória por predação de aves, etc.8
Jaguarundi (Herpailurus yagouaroundi)
O jaguarundi é o único felino desta lista que não pertence ao gênero Leopardus. Seu nome significa onça-pintada escura. É o terceiro maior felino do Brasil, depois da onça-pintada e da onça-parda. O comprimento de seu corpo atinge de 53 a 77 cm e sua cauda forte e musculosa, entre 31 e 52 cm de comprimento. Suas pernas são curtas, suas orelhas e cabeça são pequenas e seu corpo é longo e esguio. Sua cor varia de cinza a vermelho acastanhado. Os de cores mais claras geralmente habitam regiões mais secas e os mais escuros, as florestas.
Algumas curiosidades sobre os jaguarundis são que eles podem vocalizar vários sons diferentes como assobios ou chamadas de pássaros. Além disso, estudos apontam que estão mais relacionados com os guepardos do que com qualquer outro felino Sul Americano.
Os jaguarundis habitam todo o Brasil, com exceção dos Pampas. Seu risco de extinção é considerado pela IUCN como “Pouco Preocupante”, porém as populações têm diminuido em muitas regiões devido à perda e fragmentação do habitat e à retaliação de fazendeiros por matar aves.
Leia mais em:
ICMBio — CENAP — Carnívoros brasileiros
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iNaturalist - Espécies avistadas no Brasil do gênero Leopardus ↩︎
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Payan, E. & de Oliveira, T. 2016. Leopardus tigrinus. The IUCN Red List of Threatened Species 2016 Accessed on 23 June 2024. ↩︎
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Jounal of Mammalogy — Competitive Release in Diets of Ocelot (Leopardus pardalis) and Puma (Puma concolor) after Jaguar (Panthera onca) Decline ↩︎
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Flávia P. Tirelli, Tatiane C. Trigo, Diego Queirolo, Carlos Benhur Kasper, Nadia Bou, Felipe Peters, Fábio D. Mazim, Juan Andrés Martínez-Lanfranco, Enrique M. González, Caroline Espinosa, Marina Favarini, Lucas Gonçalves da Silva, David W. Macdonald, Mauro Lucherini, Eduardo Eizirik, High extinction risk and limited habitat connectivity of Muñoa’s pampas cat, an endemic felid of the Uruguayan Savanna ecoregion ↩︎