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Peixes-anjos da costa brasileira

São chamadas de peixes-anjos várias espéciesde peixes com o corpo fino e oval, espinhos nas nadadeiras e uma boca pequena e saliente. Devido a suas cores chamativas, são considerados por muitas pessoas como os peixes marinhos mais bonitos, sendo muito procurados por aquaristas. São chamados de peixes-anjos por serem hermafroditas protogínicos, ou seja, se o macho dominante de um harém for removido, uma fêmea se tornará um macho funcional.

Podem ser encontrados a partir de 2 m de profundidade, vivendo próximos aos recifes de corais , onde os adultos se alimentam de algas, tunicados e principalmente de esponjas. Por isso, têm um papel importante na prevenção do crescimento excessivo de corais formadores de recifes.

Filhote de paru-cinza limpando uma caranha

Paru-cinza jovem limpando uma caranha. Imagem de Kevin Bryant CC BY NC 2.0 via flickr

Os juvenis, no entanto, se alimentam de pequenos parasitas que se alojam no corpo de outros peixes, mantendo uma relação simbiótica com várias espécies maiores. Os filhotes de peixes-frades, por exemplo, agitam os seus corpos coloridos e atraem os peixes que desejam ser limpos, criando “estações de limpeza”. Estes peixes flutuam sobre a área ou deitam-se sobre o substrato abrindo a boca e as guelras para que os peixes-frades possam remover o limo e os parasitas de seus corpos.

Os peixes-anjos pertencem à família Pomacanthidae. Apesar de existirem 87 espécies e cerca de 7 gêneros distribuídas nas águas tropicais dos oceanos de todo o mundo, em águas brasileiras, existem apenas cinco espécies.

Peixe-anjo-rainha (Holacanthus ciliaris)

Peixe-anjo-rainha (queen angelfish)

Peixe-anjo-rainha adulto. Imagem de Laszlo Ilyes CC BY 2.0 via flickr

O peixe-anjo-rainha atinge um comprimento máximo de 45 cm e pesa até 1,5 kg. É reconhecido por sua coloração azul e amarela, e uma mancha (ou “coroa”) em sua testa.

Como na maioria das espécies de peixes-anjos, sua coloração muda conforme o estágio de vida. Indivíduos totalmente adultos, são predominantemente amarelos com as barbatanas anal e dorsal são contornadas de azul-claro, assim como suas guelras, olhos e bocas. Além disso, possuem uma mancha preta contornada de azul no topo da cabeça, lembrando uma coroa — tal característica é o que deu a este peixe seu nome popular.

Os espécimes jovens, no entanto, têm cabeça, corpo e barbatanas dorsal e anal azuis escuras e cinco faixas verticais azuis claras em todo o seu corpo. A boca, o peito e as barbatanas peitorais, ventrais e caudal são amarelos. Apesar disso, alguns espécimes com cores fora do padrão (brancos ou completamente azuis) já foram avistados nos Arquipélagos de São Pedro e São Paulo, em Pernambuco.

Juvenil de peixe-anjo-rainha

Coloração de um peixe-anjo-rainha jovem. Imagem de Kevin Bryant CC BY NC SA 2.0 via flickr

Os peixes-anjo-rainha vivem em haréns que congregam um macho e entre duas a quatro fêmeas, dentro de um grande território. Pouco se sabe sobre o desenvolvimento sexual das espécies, embora se presuma que sejam hermafroditas protogínicos.

É um peixe muito popular no comércio de aquários e muito exportado pelo Brasil. De 1995 a 2000, 43.730 peixes foram comercializados em Fortaleza, representando 50% de todo o comércio. Quase 90% do comércio de peixe foi dirigido ao mercado internacional.

Apesar disso, não é uma espécie mantida facilmente em aquários e requer um nível alto de qualidade da água, iluminação e alimentação para manter suas cores vibrantes. Com o manejo inadequado, o peixe-anjo-rainha perde suas cores azuis, torna-se totalmente amarelo, e morre.

Peixe-anjo-soldado (Holacanthus tricolor)

Peixe-anjo-soldado

Peixe-soldado. Imagem de Francois Libert CC BY NC SA via flickr

É o peixe-anjo mais comuns nos recifes do Atlântico Oeste. Também é o menor peixe-anjo presente na costa brasileira (com exceção do peixe-anjo-anão) — os machos, que costumam ser maiores que as fêmeas, medem até 35 centímetros de comprimento.

É um peixe facilmente distinguido por suas cores: possui a cabeça e a parte anterior do corpo amarelo e a parte posterior negra, e as margens de suas nadadeiras dorsal e anal são vermelho-alaranjadas. A boca também se torna negra durante a época de reprodução. Os juvenis são amarelos com um pequeno “olho-falso” nas laterais do corpo (uma mancha negra contornada de azul), que ajuda a confundir predadores. Conforme o peixe amadurece, o preto aumenta e o contorno azul desaparece.

O peixe-anjo-soldado costuma ser muito territorialista e tímido, passando a maior parte do dia escondido. Sendo assim, sua cor escura ajuda-o a se esconder e fugir de predadores.

Apesar de difícil de manter, também pode ser criado em aquários . É preciso dar-lhe uma alimentação específica e requer aquários bem grandes, com peixes cuidadosamente selecionados, para não criar conflitos.

Peixe-frade (Pomacanthus paru)

Peixe-frade com a coloração em transição de jovem para adulto

Casal de peixes-frade com a coloração em transição de jovem para adulto. Imagem de Kevin Bryant CC BY NC SA 2.0 via flickr

O corpo do peixe-frade, é preto com a ponta das escamas amarelas (com exceção do peito e nadadeiras), a base de suas nadadeiras peitorais é amarela e os olhos também. Os indivíduos jovens possuem uma coloração completamente diferente: são negros com cinco faixas amarelas verticais em todo o corpo, e pontas azuis nas barbatanas pélvicas e anal.

O peixe-frade está entre os maiores peixes de recife sendo predados apenas por garoupas e grandes tubarões. O maior espécime já registrado possuía 61 cm, porém, costumam medir cerca de 40 cm. Na natureza, o frade é amplamente distribuído, podendo ser encontrado desde a Flórida até o norte do Rio Grande do Sul.

É um peixe muito territorialista, espantando todos os que se aproximam da sua área. São monógamos e ficarão com o seu companheiro até a morte, porém, ao contrário de outros peixes-anjos, as fêmeas não conseguem mudar de sexo na ausência dos machos.

Os peixes-frades também diferem de outros peixes-anjos pela sua alta tolerância a mudanças de ambiente, resistência a doenças e longevidade, tornando essa espécie ideal para aquários .

Paru-cinza (Pomacanthus arcuatus)

Paru-cinza

Paru-cinza. Imagem de Kevin Bryant CC BY NC SA 2.0 via flickr

O peixe-anjo-cinza ou paru-cinza costuma medir até 45 cm, mas espécimes de até 60 cm já foram encontrados. Suas escamas são em grande parte cinzas com pintas negras; sua boca é branca; as barbatanas peitorais são amarelas e as escamas possuem um contorno branco. A cabeça é azul acinzentada.

Os jovens são muito parecidos com os filhotes de peixe-frade: pretos com cinco listras amarelas em todo o corpo e pontas azuis nas barbatanas pélvicas e anal. Conforme amadurecem, mudam para um cinza uniforme e suas barbatanas arredondadas tornam-se mais pontudas com o tempo.

Por haver uma estreita relação entre os dois os chamamos de “espécies irmãs”. Ou seja, ambas espécies vieram de um único ancestral em comum que se dividiu com o passar dos anos. Algumas pequenas diferenças podem ser notadas entre o paru-cinza e o frade:

Peixe-frade (esquerda) e paru-cinza (direita)

Diferenças entre peixe-frade (esquerda) e paru-cinza (direita). Imagens de Kevin Bryant CC BY NC SA 2.0 via flickr

O frade possui uma linha amarela notável no fim da cauda, ausente nos parus-cinzas jovens. Já estes, possuem uma pequena linha abaixo do lábio inferior (como um pequeno cavanhaque), que os frades não têm.

Diferentemente dos peixes-anjo do gênero Holacanthus, os do gênero Pomacanthus são monogâmicos e vistos com mais frequência nadando em casal. O paru-cinza tem uma grande presença geográfica, estando distribuído desde a Flórida até o Rio de Janeiro, com populações estáveis. No Brasil, foi estabelecida a quantidade de 3 mil espécimes que podem ser capturados e vendidos para aquaristas anualmente. Entre 1995 e 2000 foram exportados mais de 12.000 paru-cinzas originários do Brasil.

Donzela-de-fogo (Centropyge aurantonotus)

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Donzela-de-fogo. Imagem de Terence Zahner CC BY NC 4.0 via iNaturalist

Conhecido como peixe-anjo-dorso-de-fogo, donzela-de-fogo, peixe-anjo-anão ou peixe-anjo-flameback, seu corpo é principalmente azul, com uma faixa amarela em todo o rosto, dorso e quase toda a nadadeira dorsal. A coloração dos juvenis é a mesma dos adultos, a única diferença é o amarelo da parte de cima, que chega até o fim da nadadeira dorsal.

Esta é a menor espécie de peixe-anjo, atingindo no máximo de 7,5 centímetros de comprimento. É muito confundido com o Centropyge acanthops do oceano Índico, mas se difere por ser mais amarelado e não avermelhado. Das 37 espécies do gênero Centropyge, apenas a C. aurantonotus é encontrada no Brasil ocorrendo desde a Venezuela até São Paulo.

O peixe-anjo-anão tem uma longa vida no seu habitat e também pode se adaptar muito bem à vida em aquários — vivendo até mais de oito anos. Além disso, é uma das poucas espécies de peixe-anjo consideradas seguras para os corais.


O Brasil é um dos principais exportadores de peixes ornamentais de água doce, e também um grande fornecedor de espécies marinhas. Apesar da crescente procura de peixes marinhos tropicais, o controle e os registros do comércio são inconsistentes e quase inexistentes. Da mesma forma, as medidas de conservação e quotas de captura estabelecidas pelo Ibama são ineficazes devido à falta de uma base de dados.

Apesar de Fortaleza ser um dos principais centros do comércio de peixes ornamentais marinhos, sabe-se muito pouco sobre as espécies capturadas — como seu estatuto populacional e as áreas de recolha. Porém, até o momento, todas as espécies aqui citadas não estão na lista de peixes ameaçados da União Internacional para a Conservação da Natureza.

Leia mais em:

Colour Morphs in a Queen Angelfish Holacanthus ciliaris (Perciformes: Pomacanthidae) population of St. Paul’s Rocks

Gray Angelfish - Florida Museum

EOL - Pomacanthus paru

The Online Guide to the Animals of Trinidad and Tobago - Pomacanthus paru (French Angelfish)

Flameback Angelfish

What a Darling Little Angel: The Genus Centropyge

The Online Guide to the Animals of Trinidad and Tobago Diversity - Centropyge aurantonotus (Flameback Pygmy Angelfish)

Monteiro-Neto, Cassiano & Cunha, Francisca & Nottingham, Mara & Araújo, Maria & Rosa, Ierecê & Barros, Glaura. (2003). Analysis of the marine ornamental fish trade at Ceará State, northeast Brazil. Biodiversity and Conservation. 12. 1287-1295. 10.1023/A:1023096023733.

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