Quem foram os pterossauros?
É comum que na maioria dos filmes sobre dinossauros apareçam pterossauros sempre representados como grandes predadores alados, com um longo bico e asas que nos lembram as de um morcego. Tal perspectiva é uma demonstração do quão pouco sabemos sobre esses animais, já que os pterossauros foram muito mais do que isso.
Desde sua descoberta no século XX, os pterossauros têm sido incompreendidos. Muitos pesquisadores da área pensavam que os pterossauros mal pudessem voar, e que apenas as espécies maiores conseguiriam planar ao se jogar do alto das árvores ou de penhascos — considerados por alguns estudiosos como produtos falhos da evolução.
No entanto, pesquisas recentes do Centro de Anatomia Funcional e Evolução da Universidade Johns Hopkins compararam a força óssea nos membros dos pterossauros com a dos pássaros e concluíram que os pterossauros tinham muito mais força braços do que pernas. Apesar de seus membros serem finos e aparentemente fracos, sua força era suficiente para impulsionar seus corpos e decolar com facilidade — algumas espécies eram capazes até mesmo de correr ou nadar.1 Além disso, estima-se que uma vez no ar, poderiam atingir velocidades de até 120 km/h e viajar milhares de quilômetros.2
Geralmente os fósseis de pterossauros não preservam muitos detalhes da pele ou outros aspectos físicos além dos ossos. Mas, a partir da descoberta de certos espécimes com impressões de coberturas corporais, sabemos que os pterossauros eram parcialmente cobertos por filamentos semelhantes aos pelos, chamados picnofibras .3
Muitos pterossauros também possuíam grandes cristas semelhantes às dos casuares e calaus, provavelmente usadas para exibição durante os períodos de reprodução.4 Embora os pterossauros voassem, tivessem longos bicos, cristas e ossos leves e ocos como as aves , não tinham nenhuma relação com elas, e muito pouco com os próprios dinossauros.
Pterossauros são dinossauros?
Os primeiros pássaros surgiram no final do Período Jurássico , os pterossauros, no entanto, surgiram cerca de 80 milhões anos antes dos pássaros, no Período Triássico . Mesmo após o aparecimento dos pássaros, os pterossauros mantiveram sua posição dominante de vertebrados voadores de grande porte até o final do Período Cretáceo — quando foram extintos com os dinossauros.
Sendo assim, os pterossauros não são dinossauros e estão muito menos relacionados às aves. Na verdade, são répteis voadores — como indica seu nome. Dizer que um pterossauro é um dinossauro, seria como dizer que uma onça-parda é o mesmo que uma onça-pintada , ignorando tamanha divergência na evolução de ambos os grupos. De mesmo modo, atualmente o grupo dos dinossauros e dos pterossauros são considerados irmãos, ou seja, vieram do mesmo ancestral, mas se separaram com o passar dos anos.
Além dos pterossauros, existiram muitos outros répteis aquáticos e terrestres que apesar de serem às vezes muito semelhantes, não são considerados dinossauros. Isso se deve a duas características intrínsecas que os diferenciam — a forma do quadril e das vértebras ligadas ao sacro.
A forma em que esses ossos eram conectados fazia com que os membros dos dinossauros sempre estivessem sob seus corpos, e não posicionados lateralmente como nos pterossauros, dimetrodontes, mosassauros e outros répteis.5 6
A primeira descoberta
O primeiro fóssil de um pterossauro foi descoberto em 1784. Por claramente não ser nenhum tipo de animal existente, suas primeiras interpretações foram inusuais. Inicialmente suas asas foram entendidas como longas nadadeiras, o que fez com que fosse erroneamente considerado um animal aquático.
Apenas em 1800, foi sugerido pela primeira vez que o fóssil representava, na verdade, uma criatura voadora. Em 1809 o fóssil recebeu o nome de Ptéro-Dáctilo, “dedo de asa”, e partir de 1834, depois que outros fósseis foram descobertos, o nome “pterodáctilo” passou a ser usado para se referir a apenas uma espécie específica dentro do novo grupo criado – o dos pterossauros.
Tipos de pterossauros
Os pterossauros estão presentes na ficção popular em todos os tipos de mídia quase tanto quanto os dinossauros. Porém, uma característica notável dessas várias aparições é o número extremamente limitado de espécies em exibição.
Eles iviam em todo o mundo em vários ambientes diferentes e sua enorme variedade os tornou uma parte importante da ecologia mesozoica por dezenas de milhões de anos.7 Apesar disso, pouquíssimas espécies de pterossauros são popularmente conhecidas e representadas.
Os pterossauros tinham uma grande variedade de tamanhos, as maiores espécies representam os maiores animais conhecidos que já voaram, ultrapassando os 250 kg,7 com uma envergadura de aproximadamente 10 m e a altura de uma girafa. Em contraste, as menores espécies tinham uma envergadura de cerca de 25 centímetros apenas.8
Existem cerca de 110 espécies de pterossauros atualmente reconhecidas em cerca de 85 gêneros. Embora não sejam usados como grupos formais em grande parte da literatura científica, podem ser divididos como: ranforrincóides (pterossauros basais) e pterodactlóides.4
Ranforrincóides
Os pterossauros basais foram os primeiros a aparecerem, surgindo no final do Triássico , há cerca de 210 milhões de anos. Eram animais relativamente pequenos, com envergadura raramente superior a 2,5 metros. A maioria possuía mandíbulas dentadas, caudas longas e membranas alares que se estendiam até suas patas traseiras.
Devido a isso, afirma-se que teriam uma postura desajeitada no chão, já que as membranas em suas patas traseiras dificultariam seu andar — seria como andar com as calças abaixadas. Além disso, a forma de seus quadris e coxas implica que só poderiam andar com as pernas afastadas como pequenos lagartos, tornando sua postura em terra mais esparramada e baixa, como um réptil.
Apesar disso, podemos inferir devido às longas garras em seus pés que provavelmente eram muito mais eficazes escalando árvores ou rochas quando não estavam voando.9
Pterodactilóides
Surgiram durante o Jurássico Médio . Apesar de inicialmente coexistirem junto aos ranforrincóides, estes foram gradualmente substituídos pelos pterodactilóides.
Estes pterossauros evoluíram em muitos tamanhos, formas e estilos de vida. Quando comparados aos ranforrincóides é possível notar que suas asas eram mais estreitas, caudas reduzidas, pescoços longos com cabeças grandes, bocas sem dentes e pernas traseiras que não eram presas pela membrana alar.
Portanto, quando em terra, os pterodactilóides eram quadrúpedes e andavam muito bem com uma postura erguida. Dividir sua membrana em duas e liberar suas pernas permitiu que andassem com muito mais eficiência do que seus predecessores — o que os ajudou em sua diversificação e na exploração de novos ambientes e áreas de alimentação.9
O que os pterossauros comiam?
Antigamente todos os pterossauros eram vistos como gaivotas ou albatrozes arcaicos, voando acima de penhascos, costas e mares. Esta visão foi apoiada por muitos fósseis terem sido encontrados em ambientes marinhos e devido à formação esquelética da maioria dos pterossauros conhecidos naquela época.
De fato, muitos pterossauros basais como os dos gêneros Rhamphorhynchus e Ornithocheirus eram caracterizados por longas asas finas e pontudas que lhes permitiriam voar sem esforço em torno das costas ou mares e bicos longos e finos, ideais para capturar peixes na superfície da água.
Porém, apesar de os peixes serem os principais alimentos de muitos deles, outros pterossauros romperam totalmente seus laços com a água. Muitos fósseis também são encontrados distantes das antigas áreas costeiras, o que implica que provavelmente viviam em planícies e florestas, não em penhascos e praias.
Um desses grupos de pterossauros, por exemplo, foram os anurognatídeos: eram pequenos com bocas grandes e asas menores, excelentes adaptações para voos lentos e manobráveis — ideais para capturar insetos voando no meio das florestas. Atualmente sabe-se que havia pterossauros caçadores de animais terrestres, insetívoros, frugívoros, limícolas, filtradores e até predadores de outros pterossauros.10
Pterossauros do Brasil
O Brasil é reconhecido internacionalmente pelas contribuições feitas com relação às descobertas de fósseis de pterossauros.
A Bacia do Araripe, localizada entre os estados do Ceará, Pernambuco e Piauí contém a maior jazida de fósseis do Brasil. O lugar é reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como um importante patrimônio geológico e paleontológico.
Ali, foram encontradas mais de 25 espécies de pterossauros. Muitos de seus fósseis, também são reconhecidos mundialmente por sua ótima preservação e, em alguns casos, até mesmo suas partes moles estão preservadas — ajudando a definir como era a pele desses animais, se tinham pelos ou não, ou alguma outra estrutura corporal como cristas.11
Do outro lado do país, na região oeste do Paraná, a cidade de Cruzeiro do Oeste também ficou famosa a partir de 2014 pela grande quantidade de fósseis de pterossauros encontrados. Além de conter fósseis de vários outros dinossauros espalhado, talvez, por toda a cidade, o local é reconhecido como a primeira colônia de pterossauros do Brasil, onde foram encontrados 47 espécimes.12
Leia mais em:
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The Guardian - Why pterosaurs weren’t so scary after all ↩︎
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Discovery of a rare arboreal forest-dwelling flying reptile (Pterosauria, Pterodactyloidea) from China ↩︎
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Pterosau.net - From belly-dragging sprawlers to two-legged dynamos and everything in-between: terrestrial locomotion in pterosaurs ↩︎
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Pterosau.net - Food, sex and over-excess: pterosaur palaeoecology in a nutshell ↩︎
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Lume.ufrgs - Contribuição ao conhecimento dos Pterossauros do Grupo Santana (Cretáceo Inferior) da Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil ↩︎
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A ‘caçada’ a ovos de pterossauro em cidade do interior do Paraná ↩︎