As diversas espécies de antas
As antas ou tapires são os maiores mamíferos da América do Sul e Central. Apesar de parecerem muito diferentes, as antas são parentes dos burros, cavalos, rinocerontes e zebras — ungulados de dedos ímpares. As antas, no entanto, são os únicos desse grupo que vivem apenas em regiões tropicais.
Assim como os elefantes, as antas têm uma tromba pequena e muito flexível que ajuda a agarrar folhas e galhos que de outra forma estariam fora de seu alcance. O tamanho da tromba difere entre cada espécie; as antas-malaias têm os focinhos mais compridos e as sul-americanas, os mais curtos.
Embora costumeiramente habitem florestas de terra seca, grande parte das antas passam muito tempo nadando, mergulhando e caminhando nos rios para se protegerem de predadores, se refrescarem durante os períodos mais quentes do dia e para que os peixes possam comer os insetos de seus corpos. Também costumam rolar em poças de lama, para se manterem frescas e livres de parasitas.
O grande tamanho das antas adultas é suficiente para que não tenham muitos predadores naturais, e a pele grossa na parte de trás do pescoço dificulta que sejam abatidas por jacarés , onças , sucuris , tigres e leopardos. Ainda assim, filhotes e indivídos mais fracos podem ser atacados ocasionalmente. Considerando seu tamanho, as antas também conseguem correr com bastante rapidez, encontrando refúgio na vegetação baixa e espessa, da floresta ou na água.
Há quatro espécies de antas reconhecidas e todas estão classificadas na Lista Vermelha da IUCN como Ameaçadas ou Vulneráveis devido à caça por sua carne e pele e pela degradação de seu ambiente.
Anta Sul-americana (Tapirus terrestris)
Também chamada de anta-comum ou anta-brasileira, é o maior mamífero do Brasil e o segundo maior da América do Sul — logo após a anta-de-baird. Está presente desde o Sul da Venezuela até o Norte da Argentina, além de grande parte do Brasil. Habita campos abertos ou florestas próximos a rios.
Se alimenta principalmente de frutos como jerivás e buritis. Por ser uma grande dispersora de sementes, as antas são animais muito importantes para a preservação e estabilidade dos palmeirais.
A anta-comum é o único animal brasileiro que existe desde o período Quartenáro — quando os tigres-de-dente-de-sabre, mamutes e as preguiças-gigante ainda existiam. Pesa até 300 kg e pode chegar a 2,4 m de comprimento, e se destaca das outras espécies de antas do mundo por ter uma crina.
As antas brasileiras já se tornaram extintas no Rio Grande do sul e no Nordeste, além de várias localidades no país. Apesar de em queda, seus maiores números se concentram principalmente na Floresta Amazônica e no Pantanal. Também podem ser encontradas no Mata Atlântica do Sudeste e no Cerrado.
As principais ameaças são: a caça, o desmatamento para a extração de recursos ou pecuária, incendios, doenças infecciosas provindas de animais domésticos e atropelamentos em estradas. Além disso, as antas possuem baixa taxa de natalidade, dificultando sua proliferação e sobrevivência visto que sua gestação dura mais de um ano, e dão à luz a apenas um filhote.1
Anta-de-baird (Tapirus bairdii)
Também conhecida como anta-da-america-central ou anta-centro-americana, é o maior mamífero da América Central e do Sul, tendo no máximo 400 kg, 2,50 m de comprimento e 1,20 m até a altura dos ombros. Suas caracteríticas distintivas são: a coloração creme no rosto e na garganta e um ponto escuro em cada bochecha.
As antas-de-baird são encontradas principalmente em áreas úmidas de mangue, pântanos, e florestas úmidas, em menor ocorrência, também poder habitar áreas mais secas como matas ciliares e florestas montanhosas em até 3.600 m de altitude, mas, sempre próximas à água.
Se alimentam especialmente de folhas, mas grama, flores e frutas também fazem parte de sua dieta. Além disso, também são grandes dispersoras de sementes.
Vivem na América Central e no extremo norte da Colômbia. De acordo com União Internacional Para a Conservação da Natureza, as antas-de-baird são classificadas como “Em perigo”, as principais causas são a caça e a perda de habitat.
Anta-da-montanha (Tapirus pinchaque)
É a menor espécie de anta confirmada. Costumam ter o comprimento em torno de 1,8 m e no máximo 1 m de altura até os ombros. Normalmente pesam entre 130 a 250 kg — sendo as fêmeas maiores e mais pesadads.
É a única que não habita naturalmente florestas tropicais. Preferem as florestas montanhosas do Equador, Colômbia e extremo norte do Peru. Costuma viver em altitudes de 2.000 a 4.300 m, onde é comum que as temperaturas fiquem negativas — por isso, seus pelos são mais espessos.
A principal característica desta anta, é a mancha branca em volta dos lábios e sua pelagem preta e grossa. Se alimenta principalmente de folhas de samambaia e bromélias. Algumas espécies de palmeiras dependem quase exclusivamente da dispersão das sementes feitas por estas antas, e em alguns locais onde as antas-da-montanha se tornaram extintas, as palmeiras também diminuíram drásticamente.
Os principais predadores desta espécie são as suçuaranas e, menos frequentemente, os ursos de óculos e as onças-pintadas .
É uma das espécies mais ameaçadas, estando classificada pela IUCN como “em perigo” desde 1996. Apesar de a anta-de-baird também ser classificada de tal forma, os números populacionais das antas-das-montanhas são ainda menores. Seu declínio se deve principalmente devido à caça e ao desmatamento.
Anta-malaia ou tapir-malaio (Tapirus indicus)
É a maior espécie de anta, com 2,5 m de comprimento e até 500 kg. Possui uma inconfundível cor preta e branca. É a única anta nativa do Sudeste Asiático, habita as regiões sul e central de Sumatra (Indonésia) e na península da Malásia, Tailândia e Mianmar.
São classificada pela IUCN como “em perigo de extinção” devido à caça e perda de habitat. Em 2014 eram estimados menos de 2.500 indivíduos adultos e que suas populações diminuiriam um até 20% em 24 anos. A maioria das populações remanescentes está isolada em áreas protegidas e fragmentos de florestas descontinuadas, oferecendo pouca variação genética. 2
Já sabemos que existem quatro espécies de antas e três delas vivem na América do Sul e Central. Então por que existe uma espécie de anta na Ásia? Ela parece estar fora de lugar.
Para respondermos a essa pergunta precisamos entender sobre a evolução da espécie.
Os primeiros ancestrais das antas – como os heptodontes – surgiram durante o Eoceno e estavam espalhados por quase todos os continentes. Foi nessa época que os mamíferos começaram a se desenvolver e “dominar” o planeta. Durante o Eoceno, o clima da Terra era bem diferente – sendo em quase todo o mundo o clima temperado quente e subtropical, com pouco ou nenhum gelo presente.
Conforme as temperaturas foram diminuindo, as áreas de clima temperado e florestas tropicais também foram reduzindo e, com o passar dos anos, os heptodontes foram migrando de suas regiões originárias (onde atualmente conhecemos como Europa e América do Norte) em direção ao Sul, onde o clima temperado ainda permanecia. Portanto, antas que viviam nas Américas, vivem atualmente na América do Sul, e as que viviam em regiões próximas à Europa, atualmente vivem nas regiões tropicais mais próximas — o Sudeste Asiático.
As antas sempre tiveram uma história anatômica bastante conservadora e quase sempre foram habitantes de florestas úmidas e densas. Mesmo que suas proporções tenham se tornado maiores durante os últimos 55 milhões de anos, suas características, dieta e comportamento têm se mantido muito parecidas às de seus ancestrais.
Curiosidade
Antas, na verdade, são animais muito inteligentes. O termo pejorativo “anta” originalmente não se referia a uma pessoa de pouca inteligência, e sim, a uma pessoa desastrada e atrapalhada. Isso porque quando uma anta está fugindo, corre de maneira descontrolada, derrubando arbustos, pequenas árvores e o que quer que esteja em seu caminho.
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