A origem dos mamíferos
Até 66 milhões de anos atrás, os dinossauros dominavam a Terra. Os oceanos estavam repletos de enormes tubarões e répteis marinhos vorazes, enquanto os ancestrais dos mamíferos, pequenos e frágeis, viviam nas sombras. Após a grande extinção do Cretáceo que matou cerca de 75% de todas as espécies, os até então irrelevantes mamíferos primitivos se encontraram em um mundo sem grandes predadores e os substituíram os como os animais terrestres dominantes.
Estima-se que os primeiros “mamíferos” chamados cinodontes, tenham aparecido no final do Permiano e início do Triássico — quando muitos répteis ainda estavam evoluindo. No Brasil, fósseis de cinodontes são encontrados apenas no Rio Grande do Sul, o único local no país onde há rochas do período Triássico . Ali, cerca de doze espécies de cinodontes foram descritas até o momento – mais do que qualquer outro país.
Os primeiros cinodontes, eram mais parecidos aos répteis do que aos mamíferos, mas, ao longo de milhões de anos, alguns desenvolveram várias características que depois seriam associadas apenas aos mamíferos verdadeiros.
Alguns dos desenvolvimentos mais notáveis foram o formato único da mandíbula e do crânio, a melhora na audição e olfato, alterações na postura mudando o formato dos membros e coluna, e o desenvolvimento de pelos. Gradualmente, transformando aqueles estranhos animais em seres mais próximos dos que conhecemos na atualidade.
No entanto, a mudança mais importante provavelmente foi quando se tornaram endotérmicos, ou seja, quando passaram a obter seu próprio calor corporal através da comida que ingeriam. Desse modo, não dependiam mais do calor do sol para se aquecerem como os répteis e tornaram-se ativos inclusive durante a noite – o período mais seguro para procurar comida. Em contraste, o corpo dos répteis evoluiu para uma vida diurna, e durante os períodos de frio e à noite, dormiam e aguardavam o calor do dia seguinte.
Estima-se que os primeiros mamíferos verdadeiros surgiram no Jurássico ou Cretáceo . Os tritylodontideos (uma das mais avançadas famílias de cinodontes) desenvolveram um corpo pequeno, tipicamente do tamanho de um roedor, e segundo alguns estudiosos, foi a partir deste grupo que os mamíferos evoluíram.
Outra teoria diz que o ancestral dos mamíferos pode ter pertencido a outra linhagem, a dos megazostrodontes — cinodontes que fazem parte de outra ordem e espécie. As características dos megazostrodontes permitem supor que foi a última escala da evolução entre cinodontes e verdadeiros mamíferos. Possuíam cerca de 10 cm apenas, e pareciam com os roedores atuais.
Embora os especialistas concordem sobre a evolução dos mamíferos em muitos pontos, ainda há debate sobre como os primeiros grupos estão relacionados entre si e em quais sugiram os verdadeiros mamíferos como os que conhecemos hoje.
Por mais que não exista uma resposta definitiva para qual foi o animal que deu origem aos primeiros mamíferos verdadeiros, sabe-se que os mamíferos verdadeiros mais antigos que se têm conhecimento até o momento, são os marsupiais (Sinodelphys) e os monotremados (Steropodon galmani). Os monotremados se diferenciam de todos os outros mamíferos por colocarem ovos que são incubados e eclodidos fora do corpo da mãe. Atualmente são representados por duas espécies de equidnas e uma espécie de ornitorrinco.
Estudos recentes de DNA sugerem que os mamíferos placentários (como baleias, gatos e humanos) começaram a divergir dos marsupiais há cerca de 125 milhões de anos. Porém, nenhum registro havia provado esta afirmação, até que um novo fóssil muito bem conservado de uma espécie protoplacentária (Eomaia scansoria) foi encontrado na China.
Essa descoberta ajudou a comprovar as alegações dos pesquisadores de que os placentários começaram a evoluir muito antes do que se pensava e, embora a E. scansoria não fosse totalmente placentária, sua forma anatômica sugere que estava a caminho de se tornar assim.
Os primeiros mamíferos continuaram a evoluir enquanto aprimoravam seus sentidos, e sua crescente de coordenação exigia cada vez mais capacidade cerebral. A evolução da placenta se adequa melhor a essa necessidade, pelo embrião permanecer no útero recebendo nutrientes e oxigênio da mãe por um período prolongado, possibilitando o desenvolvimento do cérebro.
À medida que o cérebro continuou a se expandir, trouxe aos mamíferos maiores capacidades de aprender. A maioria dos cientistas acredita que a Ordem de mamíferos placentários mais antiga que existe sejam os insetívoros como os musaranhos e as toupeiras.
A maioria dos mamíferos não ficou maior do que um cão grande até a época do Eoceno , há cerca de 55 milhões de anos, quando um rápido aumento na temperatura global encorajou a expansão das florestas ao redor do mundo. Essa abundância de rica vegetação abriu outros nichos ecológicos para os mamíferos explorarem e sua diversidade disparou. Foi nesse contexto que surgiram os primeiros primatas.
Nossa perspectiva dos mamíferos do Jurássico e do Cretáceo mudou radicalmente nas últimas três ou quatro décadas: antes considerados um grupo insignificante que vivia à sombra dos dinossauros , atualmente, entende-se que tenham sido diversos e abundantes, comparáveis em escala à fauna de mamíferos atuais.
Havia espécies se alimentando de pequenos invertebrados , répteis , outros mamíferos e de alimentos vegetais. Havia os que escavavam o solo para construir suas tocas, os que viviam em árvores, os semiaquáticos e até planadores. No entanto, a grande diferença dos mamíferos de outrora aos da fauna moderna é a ausência de animais de médio e grande porte.
Hoje novas descobertas de fósseis e novas tecnologias estão iluminando nosso distante passado com mais clareza do que nunca. Menos de meio século atrás, tentar entender a evolução dos mamíferos era como explorar o universo com um telescópio caseiro. Mas agora é possível reconstruir com meticulosidade as condições geográficas, e o trabalho obstinado com fósseis (costumeiramente minúsculos) está criando percepções sobre o que se supunha até então.
Todos os mamíferos vivos hoje (incluindo os humanos) com todas suas formas e comportamentos variados, descendem desses pequenos animais que sobreviveram às várias extinções .
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Mammals in the Age of Dinosaurs
Transformation and diversification in early mammal evolution
Evidence of Common Ancestry and Diversity
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