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Fatos sobre as tarântulas

As tarântulas ou caranguejeiras surgiram primeiramente nas Américas a cerca de 120 milhões de anos — durante o período Cretáceo 1. Desde então, se diversificaram e se espalharam por todos os continentes, com mais de mil espécies identificadas atualmente.

Apesar de serem frequentemente confundidas com aranhas-lobo ou armadeiras , podemos identificar caranguejeiras por geralmente ser mais peludas, mais robustas e maiores, com tamanho do corpo variando de 2 a 11 cm, e a distância entre a ponta de uma perna a outra de 8 a 30 cm. Além disso, seus pedipalpos são tão longos que se assemelham a mais um par de pequenas pernas.

Apesar de muitas caranguejeiras serem grandes e assustadoras, algumas espécies são pequenas e estão entre as aranhas mais bonitas do mundo. É o caso da tarântula-joia-brasileira (Typhochlaena seladonia), seu corpo (sem as pernas) tem cerca de 2 cm apenas. É uma espécie muito rara, encontrada apenas num fragmento da Mata Atlântica na Bahia e Sergipe.2

Tarântula-joia (Typhochlaena seladonia)

Tarântula-joia (Typhochlaena seladonia) fêmea. Imagem de Rogéio Bertani sob a licença CC-BY 3.0 via Wikimedia Commons

Caranguejeiras vivem em pequenos buracos no chão com até 1 metro de profundidade ou nas árvores — sem precisar ir ao solo durante toda a sua vida. Enquanto as espécies arbóreas normalmente vivem em uma “tenda” de seda, as terrestres forram suas tocas subterrâneas para estabilizar e facilitar a subida e descida.

Ao contrário de muitas aranhas, caranguejeiras não tecem teias para caçar, seu principal método de captura são as emboscadas. Apesar disso, estas aranhas não enxergam muito mais do que luz, escuridão e movimento, e o tato é seu sentido mais apurado.

Sendo assim, ao forrar sua toca e seus arredores com seda, as caranguejeiras usam suas cerdas como órgãos sensoriais, capazes de captar as vibrações, assinaturas químicas e a direção do vento — ajudando a detectar os movimentos das presas que passam por perto.

Armadas com suas enormes e poderosas quelíceras, as caranguejeiras estão adaptadas a caçar grandes artrópodes como centopeias, milípedes e outras aranhas. As maiores, podem até mesmo se alimentar de pequenos vertebrados como lagartos, camundongos, morcegos , pássaros e algumas serpentes.

Sendo assim, as caranguejeiras caçam ativamente, e não esperam que suas presas caiam ou fiquem presas em suas teias como muitas outras aranhas.

Cerdas urticantes e mordida

As caranguejeiras possuem várias maneiras de se defender, uma delas é lançando no ar as cerdas urticantes localizadas no abdômen. Algumas espécies têm cerdas mais urticantes do que outras, e podem causar desde uma simples irritação na pele até penetrar na córnea ou serem inaladas levando a danos permanentes nos olhos e no sistema respiratório, se expostos. Apesar de complicações do gênero serem raras,3recomenda-se o uso de proteção ao manusear estes animais.

Acanthoscurria simoensi

Acanthoscurria simoensi. É possível notar a falta de pelos em seu abdomen — possivelmente usados para se defender de predadores em potencial. Imagem de José Prestes sob a licença CC-BY-NC 4.0 via Inaturalist

As caranguejeiras também usam essas cerdas para marcar território ou forrar seus abrigos evitando que outros insetos se alimentem de seus filhotes. Uma vez arrancadas, as cerdas urticantes não voltam a crescer, mas são substituídas a cada ecdise.

Outro método de defesa usado por algumas caranguejeiras é criar uma estridulação ao esfregar as pernas em seus abdomens — o som produzido serve como aviso para afastar animais ou pessoas que possam feri-la.

Além disso, é comum levantarem as patas frontais e mostrarem suas grandes presas como tentativa de intimidar seu oponente, em seguida, podem dar um tapa com as patas dianteiras. Se ainda assim se sentirem ameaçadas, a próxima reação seria fugir. Porém, se nenhuma rota de fuga estiver disponível e como último recurso, as caranguejeiras podem morder.

Todas as caranguejeiras são venenosas, porém seu veneno não é perigoso para os humanos. Além disso, são conhecidas por frequentemente darem “picadas secas”, ou seja, morderem e não injetar veneno na ferida. A mordida de muitas espécies é como uma picada de marimbondo, e pode causar desde um simples desconforto, até espasmos por vários dias. A aranha-golias-comedora-de-pássaros (T. blondi), por exemplo, tem presas de até 3 cm que podem causar picadas muito dolorosas. Além disso, suas cerdas são excepcionalmente perigosas.

Maiores aranhas do mundo

Aranha-golias (Theraphosa blondi)

Aranha-golias (Theraphosa blondi). Imagem de Cameron Rutt sob a licença CC-BY-NC 4.0 via Inaturalist

Sendo aranhas geralmente grandes, é dentro desta família que se encontram as maiores do mundo. A aranha-golias-de-pés-rosas (Theraphosa apophysis) é considerada a aranha com a maior extensão de pernas, já aranha-golias-comedora-de-pássaros (T. blondi), é a mais pesada. Ambas são encontradas em apenas algumas regiões da Floresta Amazônica.

Outras duas espécies que rivalizam com o tamanho das aranhas-golias são a caranguejeira-rosa-salmão-brasileira (Lasiodora parahybana) e a caranguejeira-comedora-de-pássaros-rosa-salmão (L. klugi) — espécies endêmicas encontradas apenas no Nordeste.

O que fazer se encontrar uma caranguejeira?

As caranguejeiras habitam todo o Brasil, em regiões urbanas podem ser observadas com mais frequencia próximas de áreas verdes como parques. São noturnas, mas podem ser vistas caminhando durante o dia principalmente no verão, quando os dias chuvosos e nublados deixam o céu mais escuro.

Em regiões mais secas do país, costumam se reproduzir quando o alimento e a umidade são mais abundantes, portanto, apesar de geralmente serem aranhas calmas, nesse período podem mostrar certa agressividade para proteger seus ovos.4 Ainda assim, picar costuma ser o último recurso de defesa destes animais e mesmo que dolorida, seu veneno não é perigoso para os humanos.

Caranguejeira-rosa-salmão-brasileira (Lasiodora parahybana)

Caranguejeira-rosa-salmão-brasileira (Lasiodora parahybana). Imagem de Helio Lourencini sob a licença CC-BY-NC 4.0 via Inaturalist

Pessoas que não têm experiência com o manuseio destes animais devem tomar o cuidado de não tocá-los — evitando o contato com as cerdas urticantes. Caso encontre uma caranguejeira mantenha a distância e com um objeto longo espante-a para longe com cuidado. Não há necessidade de matá-la, pois são importantes para controlar certos animais como mosquitos, baratas ou aranhas com picadas perigosas .

Conservação e criação

Embora muitas pessoas considerem as caranguejeiras criaturas repulsivas e perigosas, há uma proporção crescente da população mundial que as apreciam e as mantém como animais domésticos. No entanto, as tarântulas não são animais domésticos e sua criação no Brasil é ilegal! Sua captura e venda é considerada crime ambiental e pode levar à prisão. Mesmo assim, uma grande quantidade é vendida de forma irregular inclusive no exterior através do tráfico de animais 5.

Certas espécies, como a tão procurada tarântula-joia-brasileira, são endêmicas e raras. Sua retirada da natureza para a comercialização pode extinguir a espécie a qualquer momento. Além disso, há o risco de estes animais fugirem ou serem abandonados por seus donos em regiões fora de seu habitat, ameaçando desequilibrar a fauna local.

Veja a seguir um vídeo do biólogo Richard Rasmussen onde apresenta mais alguns detalhes e mostra todos os cuidados que devemos tomar com estas aranhas:

Leia mais em:


  1. Live Science - Tarantulas conquered Earth by spreading over a supercontinent, then riding its broken pieces across the ocean  ↩︎

  2. About trapdoors and bridges – New insights in the little-known ecology and lifestyle of the genus Typhochlaena C.L. Koch, 1850", British Tarantula Society Journal, 32 (3): 3–29  ↩︎

  3. Neto, EMC Aves-aranhas (Arachnida, Mygalomorphae) percebidas pelos habitantes da aldeia de Pedra Branca, Bahia, Brasil. J Etnobiologia Etnomedicina 2 , 50 (2006). https://doi.org/10.1186/1746-4269-2-50  ↩︎

  4. BMJ - Eye disease associated with handling pet tarantulas: three case reports  ↩︎

  5. Repositório INPA - First record of Theraphosa apophysis (Tinter, 1991) (Araneae, Mygalomorphae, Theraphosidae) in Brazil  ↩︎

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