Tudo Sobre Animais

As belas e impressionantes sucuris e jiboias

As jiboias e sucuris fazem parte da família dos Boídeos, um grupo de serpentes muito antigas que existe desde o Paleoceno . Se diferenciam das serpentes modernas por terem ossos vestigiais do que eram suas patas traseiras há milhares de anos.

Estas serpentes são encontradas em todos os continentes — com exceção da Antártica. São conhecidas por terem médio e grande porte, podendo ultrapassar os 6 metros de comprimento, especialmente as fêmeas por serem maiores que os machos. São cobras reclusas, noturnas e com grandes olhos com pupilas em forma de fenda que as ajudam a controlar a quantidade de luz que entra em sua retina.

Se alimentam principalmente de roedores e todas têm dentição áglifa , portanto, não são serpentes peçonhentas e não picam — apesar de poderem morder. As jiboias e sucuris abatem suas presas agarrando-as com a boca, mas as matam através da constrição; isso significa que após capturar um animal, a serpente enrola seu corpo várias vezes ao redor dele e o aperta até asfixiá-lo — muitas vezes, sem quebrar um único osso.1

Sendo assim, ao contrário da crença popular, estas serpentes não esmagam todos os ossos de suas presas até a morte, e sim as impedem de respirar. A presa é engolida inteira e pode levar dias ou até mesmo semanas para ser digerida, somente após esse longo período é que irão se alimentar novamente.1

As jiboias e sucuris estão distribuídas em 14 gêneros e 66 espécies, das quais podemos encontrar 4 gêneros e 12 espécies no Brasil: 2

Sucuris (Eunectes)

Sucuri (E. murinus)

Sucuri (E. murinus). Imagem de MKAMPIS sob a licença CC-BY-SA 4.0 via Wikimedia Commons

As sucuris, também chamadas anacondas, não são apenas uma das serpentes mais antigas dentre os Boídeos como uma das maiores serpentes. Podem medir de 2 m a 9 m de comprimento dependendo da espécie, porém, geralmente medem em torno de 4,5 m.

As sucuris são cobras pesadas e lentas em terra, portanto, vivem a maior parte do tempo debaixo d’água, onde são mais ágeis e conseguem capturar os peixes, anfíbios e aves aquáticas das quais se alimentam. Os indivíduos maiores podem se alimentar também de jacarés , capivaras , queixadas e até mesmo, veados .1

Apesar de existirem muitas histórias em que as sucuris engoliram pessoas, as sucuris são cobras tímidas e evitam o contato com humanos. Sua primeira reação ao encontrar pessoas é se afastar, e se ainda assim se sentir ameaçada pode dar botes para manter a ameaça longe.

Uma sucuri apenas conseguiria engolir um humano se a vítima fosse uma criança e a serpente maior que as estimativas de tamanho confirmadas cientificamente (mais de 9 m), porém, humanos não fazem parte de sua dieta natural. Devido aos seus hábitos, uma sucuri apenas tentaria engolir um humano se não houvessem mais presas naturais em seu habitat e o animal estivesse com muita fome.3 De fato, muito mais pessoas matam sucuris do que sucuris matam pessoas.

Existem quatro espécies de sucuris, três são encontradas no Brasil:

Sucuri-malhada (E. deschauenseei): É a menor espécie do gênero, atingindo até 3 m de comprimento e 60 kg. Ocorre apenas no leste do Pará e na Guiana Francesa.4

Sucuri-amarela (E. notaeus): Possui um comprimento de 2,4 a 4,6 metros. Habita o pantanal brasileiro.1

Sucuri (E. murinus): É uma das maiores e mais conhecidas serpentes existentses, rivalizando apenas com a píton-retículada (P. reticulatus) encontrada no sudeste da Ásia. Pode chegar aos 9 m, porém a maioria dos indivíduos possui por volta de 4,5 metros5. Ocorre em quase todo o Brasil, não sendo encontrada apenas nos Pampas e em parte da Mata Atlântica.6

Jiboia (Boa constrictor)

Jiboia (B. constrictor)

Jiboia (B. constrictor). Imagem de Leandro Avelar sob a licença CC-BY-SA 4.0 via Wikimedia Commons

Existem cinco espécies de jiboias encontradas desde o México até a Argentina, porém, apenas a B. Constrictor, é encontrada no Brasil — ocorrendo em todo o país com exceção da região sul.7

As jiboias são serpentes semi-arborícolas — especialmente quando jovens, também são ótimas nadadoras e podem ser encontradas em ambientes aquáticos 8. Atingem até 4 m de comprimento e podem pesar mais de 10 kg. Alimentam-se principalmente de pequenos mamíferos como marsupiais e roedores, além de aves e lagartos.

Salamantas (Epicrates)

Salamanta (E. cenchria)

Salamanta (E. cenchria) juvenil. Imagem de Bernard Dupont sob a licença CC-BY-SA 2.0 via Wikimedia Commons

As salamantas, também conhecidas como jiboias-arco-íris, são arborícolas quando jovens, mas ao atingirem a maturidade se tornam semi-arborícolas. Apesar de evitarem entrarem na água, também são boas nadadoras.

Se alimentam de pequenos mamíferos, mas podem complementar sua dieta com aves. Devido ao atraente brilho iridescente de suas escamas, são frequentemente caçadas por seu couro ou por traficantes de animais.9

Há cinco espécies de salamantas, das quais quatro ocorrem no Brasil:

E. assisi: A Salamanta-da-caatinga é endêmica da Caatinga. Atinge cerca de 2 metros de comprimento.

E. cenchria: É a espécie mais conhecida. É encontrada em toda a Floresta Amazônica e na Mata Atlântica do Nordeste. Atinge em média 1,7 m de comprimento, mas pode chegar aos 2 m.

E. crassus: Habita a região central da América do Sul. No Brasil pode ser encontrada desde o sul do Amazonas até o norte do Paraná e leste da Bahia. Seu tamanho máximo é de 1,20 m, sendo a menor espécie.

E. maurus: Ocorre desde o Panamá até o norte da Floresta Amazônica brasileira. Pode chegar aos 2 m de comprimento.10

Corallus

Araramboia, cobra-papagaio, jiboia-verde, periquitamboia, araboia e jiboia-arborícola-esmeralda (C. caninus)

Cobra-papagaio (C. caninus). Imagem de Pogrebnoj Alexandroff sob a licença CC-BY-SA 3.0 via Wikimedia Commons

As serpentes deste gênero são principalmente arbóreas e raramente descem ao solo. Estas serpentes possuem profundas fossetas termorreceptoras próximas aos lábios que as permitem detectar pequenas variações térmicas no ambiente e encontrar suas presas com mais facilidade.

São encontradas na América Central e em grande parte da América do Sul, com exceção do Paraguai, Argentina e sul do Brasil. Das nove espécies, quatro estão presentes no Brasil.11

Suaçuboia (C. hortulana): A suaçuboia possui a maior distribuição dentre todas as serpentes de sua família (Corallus), ocorrendo em quase toda a América do Sul — no Brasil apenas não é encontrada no sul. Possui de 1,5 a 2 m de comprimento.12

Jiboia-Do-Ribeira (C. cropanii): É o membro mais enigmático do gênero devido a sua raridade. Desde sua descrição há quase 60 anos, menos de dez indivíduos foram encontrados.2 13 Um dos registros de avistamentos mais recentes foi realizado em 2017, quando pesquisadores encontraram a primeira jiboia-do-ribeira viva no município de Sete Barras/SP.

O espécime media 1,70 m, foi equipado com um rastreador e liberado na natureza. O rastreador fornecerá aos pesquisadores, novas informações sobre como este animal vive e quais seus hábitos — informações cruciais para proteger essa espécie ameaçada de extinção. 14 13

C. batesii e C. caninus

Araramboia, cobra-papagaio, jiboia-verde, periquitamboia, araboia e jiboia-arborícola-esmeralda (C. caninus)

Cobra-papagaio (C. caninus). Imagem de Steve Newbold sob a licença CC-BY-NC 2.0 via flickr

Estas duas espécies foram consideradas as mesmas até 2009, portanto, são conhecidas pelos menos nomes populares: araramboia, cobra-papagaio, jiboia-verde, periquitamboia, araboia e jiboia-arborícola-esmeralda.

São serpentes muito difíceis de serem encontradas por viverem nos dosséis das árvores. Apenas durante a caça podem ser vistas próximas ao solo à espreita de uma presa. Anteriormente, pensava-se que sua dieta consistia principalmente em aves. No entanto, o resultado de estudos feitos indicam que grande parte de sua alimentação consiste em pequenos mamíferos, como marsupiais e roedores.15 16

Possuem proporcionalmente os maiores dentes dentre todas as serpentes, — devido a isso, a suas pupilas verticais e as suas cabeças triangulares, podem ser confundidas com cobras venenosas. No entanto, esses grandes dentes são usados apenas para ajudar a agarrar e engolir suas presas.

C. batesii: Os indivíduos adultos são verdes com padrões brancos em toda a região dorsal. Se diferencia de C. corallus por às vezes ter em adição uma faixa branca seguindo toda a coluna vertebral e pontos negros contornando seus padrões brancos, além disso, as escamas de seu focinho são pequenas. É encontrada ao sul do Rio Amazonas e ao oeste do Rio Negro.

C. caninus: Os indivíduos adultos são verdes com padrões brancos em toda a região dorsal. Se diferencia de C. batesii por às vezes ser completamente verde, além disso, as escamas de seu focinho são grandes. É encontrada ao norte do Rio Amazonas e ao leste do Rio Negro.17 2 18

A Morelia viridis da Nova Guiné e a C. caninus são frequentemente confundidas, sendo bons exemplos de evolução convergente.15

Conservação

Jiboia-arco-iris E. cenchria

Jiboia-arco-iris (E. cenchria). Imagem de karoh sob a licença CC-BY-SA 3.0 via Wikimedia Commons

Segundo a UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) e o ICMBio nenhuma das espécies de jiboias e sucuris brasileiras sofrem algum perigo de extinção, pois costumam ter uma grande distribuição e algumas espécies vivem em áreas protegidas. Apenas a jiboia-do-ribeira (C. cropanii) é considerada “vulnerável” pelo ICMBio e em “em perigo” pela UICN devido a sua pequena área de ocorrência e seus raros avistamentos — estima-se que existam menos de mil indivíduos.

Algumas espécies como as jiboias (B. constrictor), salamantas e cobras-papagaio são frequentemente capturadas por traficantes de animais para serem vendidas como animais de estimação. Para as pessoas que vivem próximas a estes animais, o desconhecimento, o medo e a cultura local fazem com que estas serpentes sejam mortas por prevenção, por sua carne, pele ou até mesmo para medicinas tradicionais. Além disso, o crescente desmatamento de muitas regiões em que as jiboias e sucuris habitam também pode ameaçá-las em um futuro não tão distante.

Apesar de atualmente serem abundantes, é necessário realizar um trabalho constante de conscientização para que a população em geral possa entender a importância que esses animais têm na natureza e a importância de preservar seu habitat.


Leia mais em:


  1. Animal Diversity Web - Eunectes notaeus  ↩︎

  2. R. Graham Reynolds, Robert W. Henderson. Bulletin of the Museum of Comparative Zoology, 162(1):1-58 (2018)https://doi.org/10.3099/MCZ48.1  ↩︎

  3. Emmer R. The Giant Anaconda and Other Cryptids: Fact or Fiction? New York: Chelsea House; 2010.http://site.ebrary.com/id/10403552 . Accessed January 12 2023. ↩︎

  4. Texas SchoolarWorks - Catalogue of American Amphibians and Reptiles - Eunectes deschauenseei  ↩︎

  5. Fundação Jardim Zoológico de Brasília - Sucuri-verde  ↩︎

  6. IUCN Red List - Eunectes murinus  ↩︎

  7. IUCN Red List - Boa constrictor  ↩︎

  8. DNA Barcode 101 - Investigating the evolutionary relationships of species within the Boa constrictor species complex  ↩︎

  9. The Online Guide to the Animals of Trinidad and Tobago - Epicrates maurus (Rainbow Boa or Velvet Mapepire)  ↩︎

  10. IUCN Red List - Epicrates spp.  ↩︎

  11. IUCN Red List - Map of Corrallus ssp. occurrence  ↩︎

  12. Fundação Jardim Zoológico de Brasília - Suaçuboia  ↩︎

  13. SALAMANDRA - German Journal of Herpetology - New record of Corallus cropanii (Boidae, Boinae): a rare snake from the Vale do Ribeira, State of São Paulo, Brazil  ↩︎

  14. UOL - Cobra raríssima, só vista 3 vezes no Brasil, é resgatada de cativeiro em SP  ↩︎

  15. Henderson, R.W., Pauers, M.J. and Colston, T.J. (2013), Morphology, Trophic Ecology, and Phylogeny in Treeboas. Biol J Linn Soc Lond, 109: 466-475. https://doi.org/10.1111/bij.12052  ↩︎

  16. Youtube - Biólogo Paulo Bernarde - Listas de Serpentes do Planeta e do Brasil  ↩︎

  17. Henderson, Robert & Passos, Paulo & Feitosa, Darlan. (2009). Geographic Variation in the Emerald Treeboa, Corallus caninus (Squamata: Boidae). Copeia. 2009. 10.1643/CH-08-190  ↩︎

  18. The Reptile Database - Corallus batesii  ↩︎

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