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Mustelídeos do Brasil

Os mustelídeos são uma família de mamíferos carnívoros da qual fazem parte as doninhas, texugos, lontras, furões, martas, iraras, entre outros. No decorrer da evolução, várias adaptações comportamentais e físicas diferentes se desenvolveram em cada subfamília, e passaram a habitar os mais diversos ambientes como litorais, montanhas, rios ou florestas. Sendo assim, os mustelídeos podem ser terrestres: vivendo no solo ou nas árvores; ou aquáticos: vivendo em rios, lagos ou mares.1

Os menores mustelídeos como a doninha-anã, podem ter menos de 23 cm de comprimento, enquanto a ariranha pode medir até 1,8 m. Apesar de tal variação em tamanho, todos eles têm corpos semelhantemente alongados, pernas curtas, orelhas pequenas e redondas e pelagem grossa.

Com exceção da lontra-marinha, todos possuem glândulas odoríferas anais que produzem uma secreção de cheiro forte — usada para sinalização sexual e marcação de território. Apesar de compartilharem algumas características, os gambás não fazem parte da família dos mustelídeos. 2

A família dos mustelídeos é composta atualmente por 25 gêneros e aproximadamente 67 espécies que habitam quase todos os continentes, formando a maior família da ordem dos Carnívoros. No Brasil, existem seis espécies distribuídas por todo o país:

Furão-grande (Galictis vittata) e Furão-pequeno (Galictis cuja)

Furão-grande

Furão-grande. Imagem de Tony Hisgett sob a licença CC-BY 2.0 by via Wikimedia Commons

São facilmente diferenciados de outros mustelídeos por terem a parte inferior do corpo preta e a superior, grisalha. Da cabeça aos ombros há uma faixa horizontal branca que separa o preto e o grisalho.

O furão-grande e o furão-pequeno compartilham muitas características físicas e comportamentais. Ambos são aptos a correr e escalar sendo principalmente terrestres, mas também possuem patas com membranas interdigitais que os permite (quando necessário) caçar na água com eficiência. Se alimentam principalmente de roedores e pequenos mamíferos. Além de aves , sapos , lagartos, cobras e seus ovos. 3 4

A principal diferença entre estas duas espécies está no tamanho e na distribuição: o furão-grande atinge até 68 cm2 e pode ser encontrado na América Central e do Sul. No Brasil, habita toda a região Norte e Nordeste — sendo provavelmente o único mustelídeo presente na Caatinga. Já o furão-pequeno, mede cerca de 42 cm e pode ser encontrado em todo o Brasil — com exceção da Amazônia. No entanto, registros confirmados destas espécies são escassos, portanto, não há estimativas atuais precisas de sua distribuição.

Ambas espécies são listadas pela União Interncional para Conservação da Natureza (IUCN) como “Pouco Preocupante” por ter uma ampla distribuição e tolerar certo grau de perturbação humana. Apesar disso, possui naturalmente uma baixa densidade populacional, e algumas subespécies são consideradas incomuns ou raras.

Irara (Eira barbara)

Irara

Irara. Imagem de Mike's Birds sib a licença CC-BY-SA 2.0 via Wikimedia Comons

As iraras são encontradas em quase toda a América Central e do Sul. No Brasil, três das sete subespécies podem ser encontradas, sendo E. b. poliocephala e E. b. madeirensis, encontradas na Amazônia, e E. b. barbara encontrada em florestas de todo o país — com exceção da Caatinga e dos Pampas.

São fáceis de diferenciar dos outros mustelídeos pela sua coloração única: a cabeça é mais clara do que o resto do corpo, com tons cantanhos ou acinzentados que gradualmente escurecem até a região dos ombros — no entanto, não é incomum encontrar indivíduos albinos, melanísticos ou leucísticos. Na garganta, cada indivíduo possui uma mancha amarelada diferente que ajuda membros da família a se identificarem.5

As iraras são animais oportunistas, caçam pequenos mamíferos, pássaros , lagartos e invertebrados . Também possuem membranas interdigitais, porém não costumam nadar. Em vez disso, são ótimos corredores e escaladores de árvores, onde se alimentam de frutas e mel .6

Apesar de a espécie ser listada como “Pouco Preocupante” pela IUCN, as populações de iraras selvagens estão diminuindo lentamente. A subespécie E. b. senex, por exemplo, já é classificada como “Vulnerável”. As principais causas de mortes não naturais são devido a atropelamentos, transmissão de doenças por animais domésticos, queimadas e conflitos com avicultores, apicultores e agricultores.

Ariranha (Pteronura brasiliensis)

Ariranha comendo um peixe

Ariranha comendo um peixe. Imagem de Bernard DUPONT sob a licença CC-BY-SA 2.0 via Wikimedia Commons

As ariranhas também são conhecidas como lontras-gigantes, onças-d’água e lobos-do-rio, são os maiores mustelídeos do mundo, antingindo até 1,8 m2 e até 34 kg. Assim como as iraras, possuem manchas na região da garganta que torna cada indivíduo único, ajudando na identificação. Por outro lado, se distinguem de outros mustelídeos principalmente por seu grande tamanho, por sua cauda em forma de remo e por ser a única espécie dentre os mustelídeos brasileiros exclusivamente diurna.2

Seus pés são totalmente palmados e adaptados para a vida aquática. Portanto, se alimenta principalmente de peixes , mas também pode comer tartarugas , caranguejos , cobras e filhotes de jacarés se não houver peixes suficientes disponíveis. As ariranhas são sociais, e vivem em grupos de três a sete indivíduos, formados pelos pais e seus filhotes adultos.

Todas as lontras emitem sons, mas considerando o volume e a frequência, as ariranhas podem ser especialmente barulhentas, com um complexo repertório de vocalizações de avisos e chamados. Além disso, cada família parece ter sua própria identidade sonora.7

É uma das espécies de mamíferos mais ameaçadas da América Latina. Antigamente, habitava quase todo o Brasil — desde a Amazônia até o Rio Grande do Sul, com exceção da Caatinga. Mas devido à caça furtiva para obter sua pele aveludada durante as décadas de 1940 e 1960, seus números foram drasticamente reduzidos sendo listadas em 1999 como “Em Perigo de Extinção”.

Atualmente, as ariranhas perderam até 80% de sua distribuição na América do Sul e as estimativas para seus números estão abaixo dos 5 mil. As principais causas de suas atuais ameaças são: a degradação e a perda de habitat, a superexploração da pesca, a contaminação dos corpos d’água, doenças transmitidas por animais domésticos, pescadores que as abatem por retaliação e a construção de hidrelétricas.

Apesar disso, vários trabalhos de conservação têm sido feitos e aos poucos, obtido resultados. Segundo constatado na pesquisa da bióloga Natália Pimenta em 2018, as ariranhas estão voltando a habitar o rio Içana — onde estavam extintas desde 1940.8

Lontra (Lontra longicaudis)

Casal de lontras

Casal de lontras. Imagem de Don Marsille sob a licença CC-BY-NC 4.0 via iNaturalist

Também chamadas de lontras-neotropicais lontrinhas ou lobinhos-de-rio. São adaptadas para a vida aquática, possuindo membranas interdigitais que as ajudam durante a natação. Se alimentam principalmente de peixes e crustáceos , representando 67% e 28% respectivamente de sua dieta, mas também pode ocasionalmente comer moluscos e pequenos animais.

A primeira vista, estas lontras podem ser muito semelhantes às ariranhas, porém são menores (com cerca de 1 m de comprimento) e não possuem manchas no pescoço. Além disso, convivem em casais ou solitários, não costumando formar grupos.

Assim como outros grandes mustelídeos, está localizada na classe mais alta da cadeia alimentar como um animal importante para todo o ecossistema aquático, sendo uma indicadora de boa qualidade biológica para o ambiente.9

Habitam a América Central e América do Sul. No Brasil, podem ser encontradas em rios, lagos e lagoas de todos os biomas, com exceção da Caatinga. Cada região do país possui uma situação diferente da espécie, variando de “Pouco Preocupante” até “Vulnerável”. No entanto, é listada pela IUCN como uma espécie “Quase Ameaçada”.

As margens dos corpos d’água são essenciais para sua sobrevivência, pois é nestes locais que realizam a limpeza do pelo, criação dos filhotes, descanso e marcação territorial. Portanto, a poluição da água e a retirada da mata ciliar podem ameaçar as populações de lontras, por não terem o ambiente adequado para realizar suas atividades básicas.

Além disso, outros fatores que afetam as populações desta lontra são: a caça ilegal, a destruição do habitat pela mineração e pecuária, atropelamentos acidentais, construção de barragens e conflitos com pescadores por roubarem seus peixes.10

Doninha-amazônica (Mustela africana)

A doninha-amazônica, também conhecida como lobinho-d’água ou furão. Foi identificada pela primeira vez a partir de um espécime em um museu rotulado erroneamente como vindo da África, por isso seu nome científico contem “africana”. A doninha-amazônica é o animal com menos informações dentre todos os carnívoros brasileiros — inclusive imagens em vida livre.11 Apesar de sua distribuíção ser incerta, já foi registrada ao longo de quase toda bacia Amazônica, no Equador e Peru.12 Medem de 40 a 50 cm de comprimento.

É uma espécie terrestre, porém hábil tanto para escalar quanto nadar. Sua dieta é composta principalmente por roedores, mas caso suas presas naturais estejam escassas, também podem se alimentar de coelhos ,galinhas ou outros animais domésticos, sendo perseguidas como pragas em muitas áreas rurais.

Apesar disso, há suspeitas de que habitam uma grande área da Amazônia quase intacta, portanto não tendem ao declínio populacional e seu risco de extinção é baixo, portanto está listada como “Pouco Preocupante” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).13 Ainda assim, é necessário mais pesquisas para definir sua área de distribuição com precisão e seu nível de tolerância às alterações provocadas pelo homem no meio ambiente, e mais informações sobre a espécie.

Ainda que não seja uma espécie ameaçada, pode-se inferir que o crescente desmatamento, a perda e alteração do habitat podem futuramente causar grandes ameaças à espécie.

Leia mais em:


  1. Mustelidae — National Library of Medicine  ↩︎

  2. Carnívoros brasileiros — ICMBio  ↩︎

  3. <i>Galictis vittata</i> — BioOne  ↩︎

  4. Análise Preliminar da Dieta do Furão Pequeno (<i>Galictis cuja</i>) na Região do Pampa Brasileiro — SIEPE  ↩︎

  5. Throat Patch Variation in Tayra (<i>Eira barbara</i>) and the Potential for Individual Identification in the Field — MDPI  ↩︎

  6. Predation by the Tayra (<i>Eira barbara</i>) — Journal of Mammalogy  ↩︎

  7. Territorial choruses of giant otter groups (Pteronura brasiliensis) encode information on group identity  ↩︎

  8. O Retorno das Ariranhas à Paisagem Baniwa  ↩︎

  9. Aspectos Comportamentais de <i>Lontra longicaudis</i>) em Cativeiro do Instituto Mamíferos Aquáticos (IMA) Salvador — Ba  ↩︎

  10. Levantamento bibliográfico sobre lontras (<i>Lontra longicaudis</i>)) com ênfase às populações do Rio Grande do Sul, Brasil — ResearchGate  ↩︎

  11. Carnívoros Brasileiros — ICMBio  ↩︎

  12. Doninha-amazônica — Pró carnívoros  ↩︎

  13. Amazon Weasel — IUCN  ↩︎

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