Tudo Sobre Animais

O mundo depois da extinção dos dinossauros

Há cerca de 66 milhões de anos, um asteroide com pelo menos 10 km de diâmetro e um trilhão de toneladas caiu onde hoje fica a península de Yucatán, no México. O impacto abriu uma cratera de 180 km, derreteu a crosta oceânica e lançou milhares de toneladas de rochas ao espaço. Ao reentrarem na atmosfera estas rochas se incendiaram e causaram incêndios globais ao atingirem o solo.

Ao mesmo tempo, as ondas de choque do impacto criaram um dos maiores megatsunamis que já houve no planeta, além de terremotos e erupções vulcânicas em todo o mundo. A lava expelida pelos vulcões liberou gases que criaram um efeito estufa e intoxicaram o ar a água e o solo.

Em consequência do impacto do asteroide e do vulcanismo, uma massa de cinzas cobriu o céu e impediu que a luz do sol chegasse ao solo por cerca de uma década, dificultando o crescimento das plantas. Sem o sol, o planeta começou a esfriar rapidamente e as drásticas alterações climáticas destruíram as cadeias alimentares em ambientes terrestres e marinhos. Em algumas décadas 75% dos animais foram extintos.1

Esta extinção (chamada extinção K-T ) não apenas marcou o fim dos dinossauros, mas sim o de toda a Era Mesozoica, dando início a uma nova Era, a Cenozoica. O primeiro período da Era Cenozoica é chamado Paleogeno ou Terciário, e primeira época, logo após a extinção K-T é chamada Paleoceno.

Após o caos que marcou o fim do Cretáceo, com o passar do tempo o clima se tornou um pouco mais estável, a nuvem de poeira que cobria os raios solares se dissipou, os componentes químicos que preenchiam o ar e os oceanos diminuíram e a fauna e flora foram gradualmente voltando a prosperar ao longo da nova época. Ainda assim, os ecossistemas só viriam a se recuperar totalmente alguns milhares de anos depois — no fim do Paleoceno.

Sem os dinossauros, pterossauros e outros grandes predadores, novas portas foram abertas para que animais pequenos e que viviam nas sobras como os mamíferos, se desenvolvessem.

Mamíferos

Taeniolabis taoensis

Taeniolabis taoensis - Mamífero multituberculado do início do Paleoceno. Imagem de Nobu Tamura a sob a licença CC-BY-SA 4.0 via Wikimedia Commons

Os primeiros mamíferos conviveram aos dinossauros desde o fim do Jurássico. Eram pequenos, semelhantes aos roedores e passavam o dia escondidos. Apenas durante a noite, quando a maioria dos grandes predadores dormia, é que podiam sair para procurar comida e realizar suas atividades.

A partir do Paleoceno houve uma grande diversificação desses animais. Eles se adaptaram ao estilo de vida diurno, ampliaram sua alimentação, aprimoraram sua forma de procriação, desenvolveram seus cérebros e cresceram.

Um dos animais que surgiram foram os marsupiais, chegando a representar cerca de 50% das espécies de mamíferos em alguns locais da América do Sul — muitos deles intimamente relacionados aos gambás atuais. Por esse motivo, é comum que estes últimos sejam chamados “fósseis vivos”. Também na América do Sul, há registros de um segundo grupo de marsupiais atuais que existem desde o Paleoceno — a dos ratos-marsupiais (Paucituberculata).

Inicialmente com poucos centímetros de comprimento, estes animais evoluíram e originaram grandes mamíferos herbívoros, como os Dinoceratas que atigiam até 4 m de comprimento, e carnívoros — como os Sparassodontídeos.2 Os mamíferos que foram para os oceanos se adaptaram ao novo estilo de vida e no decorrer de milhares de anos se tornaram os cetáceos , enquanto aqueles que foram para as árvores se tornaram os primatas. Ao se adaptarem a tantos ambientes e a maneiras diferentes de viver, os mamíferos se tornaram os novos dominantes juntos às aves.3

Aves

Ave-do-terror (Paraphysornis brasiliensis)

Ave-do-terror (Paraphysornis brasiliensis) que viveu no Brasil no início do Mioceno. Imagem de Nobu Tamura sob a licença CC-BY 3.0 via Wikimedia Commons

Enquanto os dinossauros reinavam nenhum pássaro tinha uma envergadura maior do que 2 m. Os pterossauros , por outro lado, podiam ter até 12 m de envergadura. Após sua extinção, as aves puderam se diversificar mais rápido do que qualquer outro grupo de animais, e permitiu que certas aves, como os Pelagornithideos, dominassem os céus e atingissem envergaduras até 6 m.

Apesar disso, registros fósseis das aves que viveram durante o Paleoceno são limitados principalmente a aves aquáticas — não sendo tão conhecidos quanto outros animais da época. Ainda assim, durante Paleoceno Médio surgiu na América do Sul um grupo de grandes aves carnívoras, não voadoras que reinaram em terra até o Pleistoceno — quando o homem já vagava pela Terra.4

Conhecidas como aves-do-terror, podiam medir de 90 cm a 3 m de altura, tinham bicos fortes e curvados, especializados para rasgar a carne de pequenos animais assim como as aves de rapina. Apesar de grandes eram pesadas e podiam atingir no máximo 50 km/h — enquanto uma avestruz , pode alcançar até 70 km/h.

Acredita-se que os parentes vivos mais próximos das aves-do-terror sejam as seriemas. Além desta, algumas outras aves atuais, como os rabos-de-juncos (Coliiformes), também tiveram sua primeira aparição durante o Paleoceno.5

Répteis

Titanoboa cerrejonensis

Titanoboa cerrejonensis. Imagem de Nobu Tamura sob a licença CC-BY-NC-ND 3.0 via Spinops

Os répteis foram sem dúvidas os animais mais afetados pelos impactos da extinção. No fim do período Cretáceo 83% dos lagartos e serpentes foram extintos, e apenas no final do Paleoceno puderam se recuperar.

Diferentemente dos mamíferos, aves e outros animais, os répteis não se diversificaram muito, porém, ainda assim continuaram a evoluir. No início do Paleoceno os lagartos e as serpentes não passavam de 1 m de comprimento — estima-se que a maior serpente (Helagras prisciformis) media 95 cm. 6 Porém, no fim do Paleoceno já haviam Titanoboas com mais de 13 m de comprimento.

A extinção foi proporcionalmente menor em ambientes de água-doce, provavelmente devido ao maior potencial dos animais que ali viviam para entrar em dormência, pela maior eficiência na produção de oxigênio e maior adaptação às grandes variações ambientais.7

É possível que muitos crocodilianos de água doce tenham sobrevivido devido a isso, e no final do Paleoceno, algumas espécies comos os Simoedossauros, podiam medir até 5 m de comprimento. Porém, dentre todos os répteis as tartarugas foram as menos afetadas — com cerca de 89% das espécies tendo sobrevivido.8

Vida marinha

Corydoras melanotaenia

Corydoras melanotaenia - Os registros mais antigos destes peixes são do Paleoceno. Imagem de Karsten Schönherr sob a licença CC-BY-SA 4.0 via Wikimedia Commons

Durante o Cretáceo os peixes não eram tão abundantes e viviam à sombra de grandes predadores. Sendo assim, a maioria dos peixes que viviam em alto-mar provavelmente eram pequenos e raros — como os mamíferos terrestres de seu tempo.

Embora a gravidade da extinção K-T tenha variado ao redor do globo, teve um efeito dramático nos oceanos e mais de 90% dos plânctons foram extintos, causando o colapso de toda a cadeia alimentar marinha. Muitos corais, crustáceos, cefalópodes, outros moluscos e até grandes répteis marinhos como o Plesiossauro, Mosassauro , Ictiossauro e o Elasmossauro foram extintos.

Apenas 12% das espécies de peixes foram extintas, e os plânctons que sobreviveram foram suficientes para que os peixes pudessem se alimentar e prosperar, tornando-se muito maiores, mais numerosos, e ocupando todos os oceanos.9

O Paleoceno durou cerca de 10 milhões de anos (66 – 56 Ma) e seu final, assim como outras extinções, também foi marcado por grandes mudanças climáticas. A época que se seguiu é chamada Eoceno, e apesar de vários animais terem sido extintos no fim do Paleoceno, outros se puderam se desenvolver, se diversificar, crescer ainda mais e dar continuidade ao ciclo da vida.

Leia mais em:


  1. ANELLI, Luiz Eduardo; LACERDA Julio. Dinossauros e outros monstros: uma viagem à pré-história do Brasil. 1.ª ed. São Paulo: Peirópolis – ISBN 978-85-7596-381-4, Edusp – ISBN 978-314-1580-7, 2019.  ↩︎

  2. Paleocene mammals of the world  ↩︎

  3. Hunter, John. (1999). The radiation of Paleocene mammals with the demise of the dinosaurs: Evidence from southwestern North Dakota. North Dakota Academy of Science Proceedings. 53. 141-144.  ↩︎

  4. Alvarenga, Herculano M.F. and Höfling, Elizabeth - Systematic revision of the Phorusrhacidae (Aves: Ralliformes). Papéis Avulsos de Zoologia [online]. 2003, v. 43, n. 4 [Accessed 17 October 2022], pp. 55-91. Available from: https://doi.org/10.1590/S0031-10492003000400001 . Epub 31 Oct 2003. ISSN 1807-0205. https://doi.org/10.1590/S0031-10492003000400001  ↩︎

  5. Ksepka DT, Stidham TA, Williamson TE. Early Paleocene landbird supports rapid phylogenetic and morphological diversification of crown birds after the K-Pg mass extinction. Proc Natl Acad Sci U S A. 2017 Jul 25;114(30):8047-8052. doi: 10.1073/pnas.1700188114 . Epub 2017 Jul 10. PMID: 28696285; PMCID: PMC5544281. ↩︎

  6. Longrich NR, Bhullar BA, Gauthier JA. Mass extinction of lizards and snakes at the Cretaceous-Paleogene boundary. Proc Natl Acad Sci U S A. 2012 Dec 26;109(52):21396-401. doi: 10.1073/pnas.1211526110 . Epub 2012 Dec 10. Erratum in: Proc Natl Acad Sci U S A. 2013 Apr 16;110(16):6608. PMID: 23236177; PMCID: PMC3535637. ↩︎

  7. Robertson, D. S., Lewis, W. M., Sheehan, P. M., and Toon, O. B. (2013), K-Pg extinction patterns in marine and freshwater environments: The impact winter model, J. Geophys. Res. Biogeosci., 118, 1006– 1014, doi:10.1002/jgrg.20086↩︎

  8. Novacek, Michael J. “100 Million Years of Land Vertebrate Evolution: The Cretaceous-Early Tertiary Transition”. Annals of the Missouri Botanical Garden, vol. 86, nº. 2, 1999, pp. 230-58. JSTOR, doi:10.2307/2666178 . Acessado em 18 de outubro de 2022. ↩︎

  9. Sibert EC, Norris RD. New Age of Fishes initiated by the Cretaceous-Paleogene mass extinction. Proc Natl Acad Sci U S A. 2015 Jul 14;112(28):8537-42.https://doi.org/10.1073/pnas.1504985112 . Epub 2015 Jun 29. PMID: 26124114; PMCID: PMC4507219. ↩︎

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